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Autor:
Estefan George Haddad
Qualificação: É sócio-diretor da BDO Trevisan
e-mail:
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Data:
01/08/2008
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A crise da carne numa economia equilibrada

O Brasil está vivendo uma excelente fase econômica com conquista do grau de investimento; implantação da nova legislação contábil; fusões e aquisições; pequena desvalorização do dólar, que por um lado prejudica um pouco as exportações, porém, por outro lado, favorece importações de máquinas e equipamentos de ponta, que permite à indústria renovar ou melhorar seu parque industrial, entre outros itens favoráveis ao crescimento do país.

Alguns analistas, baseados em estudos e projeções, garantem que essa desvalorização cambial vai provocar um déficit da balança comercial em 2009. A projeção de crescimento das exportações gira na casa dos 20%, porém, as importações vêm crescendo num ritmo de 50% ao mês.

Para controlar a queda do dólar, o governo federal anunciou um aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) aos investidores externos, que subiu de zero para 1,5% para aplicações em renda fixa e para a aquisição de títulos públicos. Essa estratégia reduzirá, em partes, o ingresso de recursos do exterior.

Nossa economia vai bem, obrigado. Mas, e nossa carne? Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no final de junho, mostrava a  primeira queda no abate de bovinos no primeiro trimestre deste ano desde 1997. Isso já está provocando aumento nos preços. O produto vem encarecendo não só pela queda do abate mas também pela tendência de deslocamento do boi para as regiões Norte do país. Soma-se a isso o encarecimento no valor do transporte desse gado, as instalações de frigoríficos entre outros. Quanto mais longe do abate, mais caro fica.

Além de a distância ser um dos principais motivos que vêm encarecendo o preço da carne bovina, tendo em vista o aumento no preço do barril do petróleo, há um outro detalhe que é preocupante, principalmente para os investidores internacionais, o desmatamento. Em meio às discussões ao redor do mundo sobre clima e meio ambiente, o deslocamento do gado de corte para a região Norte provoca a derrubada da floresta amazônica para dar lugar a criação de pastagens. Isso não é bom para os olhos do mundo.

A migração do gado para a região Norte do país vem se dando de forma natural. Antes a concentração bovina ficava na região Oeste do Estado de São Paulo e acabou perdendo espaço para as plantações de soja e de cana de açúcar.

Voltando a falar sobre os números do IBGE, desde o ano passado o volume de animais abatidos diminuiu a cada trimestre, acompanhando a escassez de oferta de boi gordo, cujos preços vêm subindo desde então. Em relação ao último trimestre de 2007, houve queda no número de animais abatidos, à exceção de vacas, que aumentou 24,4%.

O aumento do número de abate de matrizes é preocupante. Com o abate das matrizes perde-se na produção de novilhos, na produção de leite e de outros 550 produtos derivados do boi. Pelos dados do IBGE, entre 1997 a 2002, de todos os bovinos abatidos, 32% eram vacas, o porcentual das vacas chegou a 37% em 2003, saltou para 44% em 2006 e, no primeiro trimestre deste ano, estava em 45%.

É possível prever a aproximação de uma crise no fornecimento até 2010 que podemos atribuí-la a vários fatores como, processo de sofisticação do gado; abate de matrizes; transporte de longas distâncias; tudo isso pressiona os preços para cima. O gado não pode estar mais do que 300 km do local de abate. Isso encarece mesmo.

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