.
Autor:
Paulo Skaf
Qualificação:
Presidente da Fiesp (federação das Indústrias do Estado de São Paulo)
E-Mail
[email protected]
Data:
01/12/04
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

Somente a Produção pode Segurar Preços

Depois do aumento da Selic, em 20 de outubro, os setores produtivos voltam a se preocupar com as projeções relativas à taxa, que deve encerrar 2004 em 17,5% ao ano, segundo analistas de mercado consultados pelo próprio Banco Central. A estimativa de elevação de 0,5 ponto percentual este mês e mais 0,25 em dezembro conspira contra a comemorada tendência de crescimento. O mais grave é que, conforme têm alertado empresários e as mentes mais lúcidas da economia, a estratégia dos juros mostra-se ineficaz contra a inflação, considerando a curva ascendente dos preços e a previsão das instituições financeiras, de que custo de vida medido pelo IPCA fechará o exercício em 5,90% e ficará em 7,20% em 2005.

Independentemente do louvável esforço do governo para segurar a inflação, a verdade é que o tradicional mecanismo monetário dos juros parece ter-se esgotado de forma inexorável como modelo eficaz, conforme também se nota em outras nações. Esta ortodoxa ferramenta, somada aos altos impostos e à disponibilidade de crédito para investimentos aquém da demanda potencial do empreendedorismo no País, engessa a economia e circunscreve a performance do nível de atividades a fatores muito mais conjunturais do que estruturais.

Desde o advento do Plano Real, há dez anos, ao mérito inegável dos preços domados assiste-se à contrapartida da significativa transferência de recursos da produção para os setores estatal e financeiro. Assim, o empenho heróico do governo no sentido da responsabilidade fiscal acaba tendo pífio efeito prático no tocante ao crescimento econômico. Exemplo: apesar do expressivo superávit primário de 4,3% do PIB em 2003, o nível e a proporção da dívida estatal aumentaram. No ano passado, o governo pagou a bagatela de R$ 150 bilhões em juros, mas a dívida líquida do setor público já resvala em quase 60% do PIB. Esta equação repete-se na década: os agentes produtivos pagam caro para manter a economia equilibrada e financiar a dívida, mas não levam para o chão de fábrica o alento da expansão das atividades e da criação de empregos.

É inútil continuar contrariando a mais simples e objetiva lei do capitalismo: a melhor solução para evitar a alta de preços, refreando pressões inflacionárias, é o estímulo aos investimentos, visando ao aumento da oferta e da produção, criando mais empregos e desencadeando um círculo virtuoso na economia. Entretanto, mais do que se limitar às críticas e análises econômicas, os empresários, bem como os trabalhadores, devem mobilizar-se no sentido de participar mais das decisões.

É preciso que todas as forças produtivas sejam cada vez mais pró-ativas nesse sentido, para demonstrar com clareza ser inócuo manter juros elevados num mercado ainda muito distante de qualquer risco de inflação de demanda. Inserir no mercado de consumo os milhões de brasileiros ainda alijados do emprego e do salário, os mais eficientes meios de inclusão social, e produzir em escala proporcional seria alternativas mais eficientes do que o mero controle monetário para o crescimento sustentado e o desenvolvimento do País.

.

© 1996/2004 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.