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Autor:
Marcos da Cunha Ribeiro
Qualificação: Vice-presidente Associação Brasileira da Indústria de Formulários, Documentos e Gerenciamento da Informação (Abraform) e presidente da RR Donnelley Moore no Brasil
E-mail: [email protected]
Data:
02/03/06
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Mercado Gráfico e Exceções

Em 2005 o mercado gráfico acompanhou as oscilações da economia brasileira em geral, com crescimento em alguns segmentos e certa estagnação em outros. O fator mais grave foi a inesperada e acentuada queda da demanda de documentos fiscais. Tal fenômeno refletiu uma retração no faturamento dos distintos setores de atividade e/ou nas vendas formais. Afinal se nossos governantes e o Congresso declaram que caixa 2 é normal e usual ...

Por outro lado, como somente alguns dos diversos segmentos da indústria gráfica fazem pesquisas de mercado com seriedade e consistência, fica difícil comprovar com estatísticas a percepção geral de que os negócios totais do setor (com exceção de embalagens no segundo semestre) tenham apresentado crescimento significativo de faturamento ou, o que é pior, na rentabilidade o que foi faturado. Persistem capacidades ociosas, concorrências desleais, subserviência crescente e preços incompreensíveis nos leilões de todas as modalidades. Assim, não se deve esperar resultados muito positivos para as gráficas.

O setor gráfico, tradicionalmente, responde de forma muito rápida às oscilações da economia. No Brasil, contudo, torna-se difícil analisar essas questões, à medida que o foco de todos parece concentrar-se na macroeconomia. Sobre a microeconomia, que reflete efetivamente os mercados domésticos, nem governo, nem economistas de plantão e nem mesmo as entidades de classe se dignam a falar. Dessa maneira, é capenga o suporte à atuação das empresas à luz da realidade, que transcende em muito a questão das taxas de juros. Aliás, para as gráficas, este item importa muito pouco, pois a maioria gerencia seus negócios com base em cash flow, não tem idéia real do capital de giro e financia máquinas com juros subsidiados, via Finame ou bancos estrangeiros, cujas taxas visam a estimular as exportações dos países nos quais se produzem as impressoras e equipamentos gráficos.

Quanto às perspectivas para 2006, várias gráficas apostam em anos eleitorais como ainda sendo importantes para o aumento da demanda de impressos, expectativa nem sempre concretizada. No que tange a uma análise desazonalizada do mercado, antevê-se um exercício muito difícil, pois o setor tem grande capacidade ociosa e sofre com gestões oportunistas, cuja visão é meramente de curto prazo e não vemos sinal claro de que as demandas irão crescer, ainda mais depois de uma expansão pífia de 2,5% no PIB brasileiro.

No contexto de inflação controlada e flutuação de câmbio moderada, conforme previsões dos agentes financeiros e bancos,deveremos ter um ano sem muito espaço para aumentos de preço de papel, um dos principais insumos da indústria gráfica. Isto sempre alavanca margens no mercado transacional, portanto com alto risco de queda de rentabilidade, de forma ainda mais acentuada do que se viu em 2005. Talvez o segmento de livros tenha algum alento, ainda que as projeções dos livreiros esteja ainda sem nenhum otimismo.
No setor promocional, há um marketing de consumo descompromissado com inovações, segmentações e alternância de ferramentas de aquisição ou retenção de clientes, mas voltado a atuar mais fortemente na mídia convencional e tv. No mercado de impressão digital, houve crescimento na produção de impressos em preto e branco em 2005. Este é um segmento promissor para 2006, desde que o famigerado Correio Híbrido (monopólio dos Correios para impressão e distribuição de documentos de segurança e malas diretas) continue suspenso. Quanto às revistas, dado que a distribuição de renda tem dado sinais de progresso, vislumbra-se um crescimento diferenciado da média dos últimos anos.

Na área de formulários e documentos, a esperança é a conscientização dos contribuintes para a crescente sinergia entre fazendas federal e estaduais, compartilhando arquivos e dificultando a sonegação e aumentando as autuações tal qual o INSS já reflete depois da integração com a Super Receita. Neste contexto, a Nota Fiscal Eletrônica deve ser encarada como um processo totalmente embrionário para controlar impostos. Os pilotos serão implementados ainda em 2006, mas muito aperfeiçoamento, investimento e depuração devem ser processados antes que se converta em realidade, até porque as fragilidades do sistema e segurança documental previstas serão um ponto de discussão bem concentrado.

Num cenário que se apresenta de alta competitividade e seletividade, 2006 deverá ser muito bom para as exceções do mercado gráfico, ou seja , as empresas gráficas que atuam com seriedade e respeitando a sociedade e seus regulamentos e, em especial, os clientes, trabalhando com excelência operacional e foco noresultado real e no lucro justo e merecido. Para o mercado como um todo, o ano novo será mais difícil e pior em resultados do que 2005

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