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Autor:
Raúl Candeloro
Qualificação: Graduação Tecnológica em Gestão de Recursos Humanos
e-mail:
[email protected]
Data:
02/04/2008
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As virtudes burguesas

Deirdre McCloskey é um caso único no mundo dos economistas. Não apenas por ter começado a vida como Donald McCloskey (transformou-se em Deirdre depois de uma operação de troca de sexo), mas principalmente por ser uma das vozes de mais autoridade e conhecimento a questionar os métodos matemáticos pretensamente “científicos” de economistas. Ela também adora dar alfinetadas na linguagem rebuscada que os economistas usam para, segundo a professora, parecerem mais inteligentes e cultos do que realmente são.

Professora de Economia e História na Universidade de Illinois, em Chicago, McCloskey defende que o capitalismo tem sido atacado de maneira injusta, por uma mistura de ignorância e interesses políticos por parte de pequenos grupos. Ela é da opinião (da qual, pessoalmente, compartilho) de que o capitalismo foi, de longe, o melhor sistema econômico criado até agora para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

O problema, segundo ela, é que se passou a ter uma visão utilitária do ser humano a partir do século XIX – ou seja, que o ser humano só fica mais feliz se tiver mais bens materiais. Entretanto, ainda de acordo com McCloskey, as raízes verdadeiras do capitalismo são outras – a ética de Aristóteles e as virtudes cristãs. Ao trocar essas raízes pelo utilitarismo, começou a enfatizar os bens materiais em troca do resto, causando muitos dos problemas que vemos hoje.

Para ajudar na solução do problema, a professora lançou recentemente um livro chamado As Virtudes Burguesas. São sete, e deveriam servir como base para a vida de qualquer profissional, principalmente de nós, vendedores.

Prudência – Não apenas para comprar barato e vender com lucro, mas também para trocar e não invadir, para calcular as conseqüências e para perseguir a excelência com competência.
Temperança – Para economizar e acumular, lógico. Mas também para entender que devemos acumular não apenas dinheiro e bens, mas sim conhecimento sobre a vida e o mundo dos negócios, para ouvir com humildade nossos clientes, para resistir à tentação da desonestidade, para sempre perguntar se não estamos comprometendo nossos valores.
Justiça – Para insistir na propriedade privada honestamente conquistada. Mas também para ter a coragem de pagar bem quem trabalha bem, para honrar o esforço do trabalhador, para acabar com privilégios, para valorizar as pessoas pelo que fazem, para alegrar-se e aceitar sem inveja o sucesso dos outros.
Coragem – Para tentar novas formas de fazer negócios. Mas também para vencer o medo de mudar, receber com educação e cortesia as novas idéias, encarar o trabalho com alegria e orgulho.
Amor – Para realmente importar-se com funcionários, sócios, colegas, clientes, fornecedores e outros cidadãos. Para querer bem a humanidade, encontrando maneiras de celebrar com produtos e serviços vendidos no mercado o valor do ser humano.
Fé – Para honrar sua comunidade e seu negócio. Mas também fé para construir monumentos que celebrem nosso passado, que sustentem e reforcem nossas tradições tão bonitas de comércio, de ensino e de religião.
Esperança – Para imaginar uma maneira melhor de fazer as coisas. Mas também a esperança de ver o futuro não como algo estagnado ou sempre se repetindo, mas como algo que pode ser modificado através do trabalho, do propósito e da dedicação. Dessa maneira, o trabalho deve ser encarado como um chamado glorioso para cumprirmos nosso papel no mundo.

Tudo que eu dissesse a partir de agora só estragaria a sabedoria dessas sete virtudes tão bem descritas pela prof. Deirdre McCloskey. Mas se repensarmos o capitalismo (e no processo a forma como nossas empresas trabalham) usando essas virtudes como referência, com certeza teremos muito mais sucesso – financeiro, social e humano. Justamente o que o Brasil mais precisa neste momento.

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