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Autor:
Fabio Arruda Mortara
Qualificação:
Presidente executivo da Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG)
E-Mail
[email protected]
Data:
02/10/04
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Incontinência Verbal

Os norte-americanos parecem, a cada dia, mais refratários a respeitar acordos internacionais. Na esteira de atitudes plenipotenciárias, como a negativa ao Protocolo de Kioto e o desacato à resolução da ONU contra a invasão do Iraque, começam a questionar decisões da Organização Mundial do Comércio (OMC). Neste aspecto, foi muito infeliz o recente pronunciamento, em São Paulo, do representante-adjunto para o Comércio dos Estados Unidos, embaixador Peter Allgeier. Ignorando o protocolo diplomático, seu discurso foi desrespeitoso.

Não se trata, aqui, de defender a política comercial do governo, pois a questão não é ideológica ou partidária, mas sim de adotar posição em prol da economia e dos setores produtivos brasileiros, menosprezados em alguns pontos do pronunciamento. O primeiro e mais grave aspecto diz respeito às críticas e à ironia quanto ao significado das recentes vitórias do Brasil na OMC. O que pretendia o embaixador? Perpetuar os subsídios ao algodão e ao açúcar, dentre os muitos que seu governo mantém?

Não satisfeito, Peter desdenhou da participação brasileira no comércio mundial, enfatizando ser de apenas um por cento, e insinuou que nossas exportações dependem da venda de commodities à China. Perdeu, assim, a oportunidade de discutir em alto nível até mesmo questões nas quais o Brasil parece equivocado, como a proposta encaminhada à Organização Mundial de Propriedade Intelectual, de respeito apenas parcial à propriedade industrial. Sociedade, empresas, entidades de classe e trabalhadores conhecem os problemas nacionais. Participam de embates democráticos com o governo, votam, discutem com as autoridades e se manifestam livremente na imprensa, inclusive criticando. Daí à atitude de Peter há imensa distância. Será que ele conhece a Embraer, a Vale do Rio Doce, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Petrobrás, a indústria brasileira como um todo e o peso que tem na pauta de exportações?

Para as gráficas do Brasil, que acabam de ganhar 13 prêmios de qualidade em Chicago, no país de Peter, no mais importante concurso mundial de excelência, promovido pela Print Industries of America (PIA), a incontinência verbal do visitante soa estranha. O setor, que já exportou cerca de US$ 120 milhões neste exercício e investiu US$ 6 bilhões em aporte tecnológico nos últimos anos, integra o Comitê Gráfico da ISO, por meio da Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG), participando do processo internacional de normalização. Vamos convidar Peter para a cerimônia de entrega, em 24 de novembro, do Prêmio de Excelência Gráfica Fernando Pini, o mais importante do gênero no País, para que possa conhecer o estado da arte em tecnologia...

O exemplo das gráficas é apenas um dentre tantos da indústria, que representa 35% do PIB, realiza exportações de alto valor agregado e mantém, no Sesi e no Senai, um dos mais amplos e bem-sucedidos programas mundiais de ensino. Em tempo: também não há qualquer demérito em exportar commodities, em especial produtos da agropecuária, setor que avança em qualidade e competitividade, tornando cada vez mais concreto o vaticínio de que o Brasil será o celeiro do mundo. Por que isto incomoda tanto?

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