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Autor:
Edison Tamascia
Qualificação: Presidente de uma rede de farmácias no interior de São Paulo (Farmavip) e duas federações (Faesp e Febrafar)
Site: www.febrafar.com.br
Data:
03/08/06
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Quem Ganha com as Práticas Abusivas no Varejo?

Embora a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) aponte que as vendas dos pequenos varejistas do setor farmacêutico tenham caído 15% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, conforme fora publicado na imprensa, sabemos que o mercado farmacêutico global não registrou queda nas vendas.

Enquanto cresce o faturamento das grandes redes, diminui o do varejo independente, principalmente devido à prática predatória de descontos oferecidos pelas grandes corporações, uma inaceitável tendência que os pequenos e médios estabelecimentos ainda não conseguem acompanhar. Entretanto, como é possível conceber a venda de medicamentos com descontos muitas vezes superiores aos preços de fábrica determinados pelo Governo?

Certamente, são vários os motivos que fomentam essa prática, mas se compararmos os descontos propagados com os praticados pelo grande varejo percebemos que nem sempre o consumidor tem a clara noção do desconto efetivado. Ao observarmos placas informando que o desconto daquele estabelecimento é, no mínimo, de 15% podendo chegar a 50%, é evidente que quase na totalidade os produtos serão comercializados com 15% de desconto e apenas uns poucos itens terão descontos reais de 50%.

Existem também drogarias que dizem oferecer ao consumidor economia de até 60% ao adquirir um genérico, mas sabidamente essa economia não significa que aquele foi o desconto concedido e sim o efetivado em relação ao produto de referência. Há ainda lojas anunciando que seus principais produtos estão com descontos de até 30%, porém não fica claro quais são esses produtos e quais estão com que tipo de desconto.

Essas e outras estratégias semelhantes não são consideradas propaganda enganosa, embora também não sejam a maneira mais honesta de informar as vantagens que o consumidor terá ao comprar naquele estabelecimento.

A Anvisa, por sua vez, já publicou resolução sobre a propaganda de medicamentos (RDC 102) e realizou até consulta pública (nº 84) sobre o assunto. Todavia, nada foi feito para evitar que o público seja enganado com relação ao preço praticado no varejo.

Outro fator que cria disparidade entre o pequeno e o grande varejo é o poder de direcionamento que os distribuidores exercem no mercado. Eles oferecem aos pequenos empresários descontos inferiores aos que seriam possíveis e aos grandes descontos superiores aos permissíveis. Como trabalham pela média, o desconto fica dentro do desejável. Com isso, o pequeno varejo acaba financiando os descontos praticados pelos grandes grupos.

É óbvio que essa não é uma prática comum a todos os distribuidores e nem todas as grandes redes fazem propaganda de interpretação duvidosa, mas, se continuar do jeito que está, a sustentabilidade do pequeno farmacista ficará inviável e isso não interessa a ninguém, pois ainda somos o grande empregador do setor - responsáveis por 64% do que é transacionado no varejo.

Vale ressaltar que, a longo prazo, essa manobra de fortalecimento do grande varejo deverá ser maléfica aos distribuidores, pois pela própria prática gerencial estabelecida nas grandes corporações não são permitidas negociações baseadas no relacionamento. Contudo, se nada efetivamente for feito, o pequeno varejo sucumbirá, algo prejudicial para os consumidores, fornecedores e até mesmo para os governantes.

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