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Autor:
Silvio Roberto Isola
Qualificação:
Presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (Sindigraf-SP).
E-Mail
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Data:
06/03/04
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O Cataclismo da Renda

O fato de a América Latina ter sido, em 2003, uma das exceções no fenômeno do crescimento mundial do desemprego, conforme recente relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), não atenua a realidade da região. Embora tenham aumentado o nível de empregos em 1,6% no último exercício, as economias do Continente terão de crescer, em média, 7% ao ano até 2015 para reduzir à metade o número de seus desempregados, que deverá chegar a 18 milhões em 2004.

Considerando que o crescimento econômico médio da região foi de 2,5%, tornam-se sombrias as perspectivas de aumento do número de desempregados e, portanto, da exclusão social. A situação é mais grave no Brasil, que, em 2003, foi uma das exceções na América Latina. Aqui, conforme acaba de divulgar o IBGE, ratificando as tendências indicadas pela OIT, a taxa de desemprego cresceu (10,9% em dezembro de 2003, contra 10,5%, no mesmo mês de 2002). O mais assustador é a queda de 12,5% no rendimento médio dos trabalhadores, em apenas um ano. Ou seja, o País vai "contribuindo" cada vez mais para a consolidação de lamentável estatística da OIT: a cada sete trabalhadores latino-americanos, um ganha menos do que um dólar/dia.

A análise responsável dos números da OIT e IBGE é imprescindível neste momento em que, mais uma vez, o governo sinaliza manter uma política econômica conservadora e recessiva no primeiro semestre. A retração do nível de atividades poderia ser enfocada sob vários ângulos, mas a questão do emprego é a mais sensível, pois o País não suporta mais quaisquer pressões sobre o já gravíssimo quadro social. Por mais nobres, necessários, pertinentes e merecedores de aplausos que sejam programas como o Fome Zero e projetos sociais das empresas, institutos e fundações, não se pode fundamentar o desenvolvimento de uma nação com base no assistencialismo. Há limites do próprio governo, da sociedade e do Terceiro Setor &Mac247; para o atendimento aos excluídos.

Assim, a manutenção de política econômica recessiva representa a institucionalização do processo histórico de paulatina concentração de renda, verificado desde o Descobrimento. Outro estudo recente do IBGE ("Estatísticas do Século 20"), demonstra: O crescimento do Brasil no último século foi muito concentrador de renda. Apesar de a riqueza do País ter-se multiplicado por 100 no Século XX, em 1960 os 10% mais ricos detinham renda 34 vezes maior do que os 10% mais pobres. Trinta anos depois, a diferença crescera para 60 vezes.

Desemprego e redução do valor da massa salarial estão diretamente relacionados às causas do cruel perfil distributivo. Políticas econômicas recessivas em especial juros altos, com desestímulo a investimentos e ao crédito ao consumidor empurram cada vez mais brasileiros para o abismo do desemprego e o cataclismo da renda. Para as empresas ao contrário do que possam aludir pensamentos mais conservadores esta situação é indesejável. Os setores produtivos querem mercados fortes, consumidores com poder de compra e trabalhadores satisfeitos, produtivos e eficazes. Esta é a lógica das novas relações trabalhistas e única alternativa possível para a economia. Por isso, preocupa constatar que o Brasil está na contramão...

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