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Autor:
Antônio Leopoldo Curi
Qualificação:
Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Formulários, Documentos e Gerenciamento da Informação (Abraform)
E-mail:
[email protected]
Data:
06/05/05
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Teatro do Absurdo

Custos muito elevados preocupam os personagens da economia brasileira

O segmento de formulários contínuos responde por 82% do faturamento do setor em que está inserido, formado, ainda, pela impressão de documentos e itens destinados ao gerenciamento de informações. Assim, a produção de notas e cupons fiscais é o principal negócio desse segmento, constituído no Brasil por 300 gráficas, que movimentam R$ 1,6 bilhão ao ano e empregam 16 mil pessoas. Diante desses dados, não é difícil imaginar que, paralelamente aos princípios éticos que devem reger toda atividade econômica, também por questões de mercado o setor seja intransigente defensor da formalidade e da emissão de notas fiscais em todas as transações comerciais.

Pelas mesmas razões, poder-se-ia imaginar que as empresas do setor de formulários, documentos e gerenciamento de informações pudessem defender a multiplicidade de tributos e taxas existentes no País, pois, em tese, isto acarretaria a produção de mais impressos em seu campo de atuação. O raciocínio, contudo, não corresponde à realidade, pois há um grande problema provocado pelo lamentável emaranhado tributário brasileiro e toda a burocracia existente nesse sistema sem precedentes no mundo civilizado: o excesso de impostos mais de 60, a complexidade dos processos de recolhimento, que atormenta a vida das empresas, e mais os custos relativos aos juros altos e encargos sociais (que podem ser considerados tributos indiretos) configuram atraente convite à informalidade e à sonegação, com grande prejuízo à economia brasileira. Seria melhor menos impostos, que todos pudessem pagar, e juros/crédito mais acessíveis e estimulantes aos empreendimentos e negócios.

É inevitável retomar reflexões dessa natureza quando o governo desfere mais um duro golpe contra a saúde dos setores produtivos, mantendo o juro em elevados patamares, com um novo aumento da Selic em abril. Desde setembro do ano passado, o anúncio mensal da taxa pelo Copom transformou-se num espetáculo de bizarro suspense. Trata-se de verdadeiro drama para a sociedade brasileira, de fazer inveja a Eugène Ionesco e Samuel Beckett e seu Teatro do Absurdo,

O novo aumento da Selic frustra a indústria, o comércio, a agricultura e o setor de serviços. Todos são fortemente atingidos. É lamentável, pois os personagens da economia nacional não suportam mais juros e impostos elevados. O mais grave em tudo isso é constatar que não há quaisquer razões lógicas para patamares tão altos dos juros de curto prazo e também da TJLP. Não há risco algum de inflação de demanda. Assim, juro alto só seria justificado se o governo mantivesse intenção sub-reptícia de não ampliar o controle fiscal, hipótese que sequer deve ser cogitada. Na verdade, a União precisa gastar menos, assumindo o ônus, por meio do equilíbrio fiscal, de manter o controle inflacionário. Hoje, é a sociedade que está financiando a inflação baixa e o superávit primário do Governo Federal, fazendo mágica para pagar os impostos e juros descabidos.

Os setores produtivos têm defendido de forma contundente a revisão da política monetária do Governo Federal, que perdura há dez anos, tendo sobrevivido até à sucessão presidencial. Quem produz e trabalha tem plena consciência de que o excesso de custos, agravado por alíquotas tributárias vorazes, estão entre os principais algozes da competitividade e sobrevivência das empresas brasileiras.

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