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Autor:
Silvina Ramal
Qualificação:
Sócia da ID - Instructional Design
E-Mail
[email protected]
Data:
06/07/04
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Pequenas Empresas que dão Certo

A taxa de mortalidade das novas empresas no Brasil ainda é muito alta. O Cadastro Central de Empresas do IBGE de 2002 mostra que entre 1999 e 2000, para cada 100 empresas que abriram no país, 65 fecharam. Em números absolutos, 710.258 novas empresas surgiram neste período, e 457.990 fecharam suas portas. Já uma pesquisa do Sebrae, de 1999, mostra que 30 a 61% das novas empresas fecharam já em seu primeiro ano de existência, 40 a 68% no segundo ano, e 55 a 73% no terceiro ano, havendo variações nestas porcentagens de Estado para Estado do país.
Há vários motivos para o insucesso precoce, alguns de origem interna à organização, outros de origem externa. Os problemas de origem interna referem-se à falta de preparação técnica para gerir e planejar o negócio, para crescer e se consolidar no mercado, ganhar novos clientes. Por outro lado, no ambiente externo também há desafios a enfrentar. As pequenas empresas hoje encontram um ambiente hostil, agravado pelo chamado Custo Brasil, e pelo fato de o país ainda não ter criado condições suficientemente favoráveis ao trabalho das pequenas empresas, como por exemplo um tratamento tributário diferenciado, acesso a crédito, acesso a compras governamentais.

Mas uma pergunta ainda fica sem resposta, inclusive por parte dos centros de pesquisa e fomento: que fatores levam algumas pequenas empresas ao sucesso? Pouco destaque é dado aos empreendedores que sobrevivem, que geram empregos e produzem renda e valor para o país apesar das condições adversas. Muitos conseguem esse feito, e todos têm algumas características comuns. Gostaria de destacar alguns elementos que tenho encontrado repetidamente em pequenas empresas bem sucedidas, em minha prática como professora de planejamento de negócios e consultora, e que considero críticas para a sobrevivência e o sucesso de mercado.

Em primeiro lugar, a competência técnica na área de atuação, que se traduz em fazer algo muito bem, entender tudo daquele ofício e do respectivo mercado. É o caso por exemplo de um excelente estilista que monta sua confecção, ou do maitre que trabalhou vinte anos em um restaurante de sucesso para depois abrir um negócio próprio. Quem conhece muito bem o que faz tem mais possibilidade de inovar, quebrar paradigmas e garantir um grande diferencial. Afinal, embora a competição hoje seja acirrada, havendo milhares de profissionais e empresas que disputam um mesmo mercado, os profissionais que são muito bons em alguma coisa ainda são disputados.

Outra característica nas empresas de sucesso é a sintonia entre os sócios. Estes normalmente têm claro quais são as expectativas de cada um com o negócio, o que cada um aporta e que benefícios terá. É importante que tudo esteja definido de antemão para evitar conflitos. Ao mesmo tempo, estes sócios também precisam se conhecer em termos de valores, convicções, atitudes. O que acontecerá quando alguém oferecer um excelente projeto para a empresa, mas que possa ferir o meio ambiente? E o que acontecerá se um sócio trabalhar doze horas por dia enquanto outro normalmente não volta depois do almoço? Essas situações, se não negociadas de antemão, acabam criando desentendimentos insolúveis.

Outro ponto fundamental é a formação, é preciso preparar-se continuamente para gerir uma empresa. Isso exige dominar, além dos aspectos técnicos do negócio, conhecimentos de vendas, marketing, planejamento, gestão administrativa, contábil, financeira, gestão de pessoal. Essas competências devem estar distribuídas entre os sócios, ou então na equipe contratada, se não forem críticas para o sucesso do empreendimento. Não adianta querer vencer com uma gestão amadora, num momento em se trabalha de maneira cada vez mais profissional em todos os setores.

O empreendedor também precisa aprender a trabalhar com planejamento. Elaborar um plano de negócios antes de iniciar suas atividades, e fazer o planejamento estratégico ano a ano da empresa, assim como o orçamento anual, definindo quantos recursos serão alocados para cada departamento, ou para cada esforço de crescimento, de vendas, de promoção. Sem trabalhar de maneira planejada, acaba-se dissipando esforços em várias direções diferentes e se é levado pelo mercado, normalmente em direções pouco favoráveis para o negócio.

Outro aspecto importante é o planejamento pessoal. Um novo empreendimento geralmente requer paciência. É comum que os sócios apenas comecem a ganhar dinheiro depois de dois ou três anos de funcionamento. Nos primeiros anos o dinheiro custa a entrar, e é preciso reinvestir, para crescer e ganhar novos clientes.

Nas empresas de sucesso, os sócios normalmente definem muito claramente como vão viver durante esse período inicial, em que nem sempre poderão contar com a renda gerada pela nova empresa. Muitas vezes é preciso reduzir temporariamente o padrão de vida, economizar, trabalhar dobrado ou mesmo planejar algum tipo de renda alternativa que não consuma o tempo demandado pelo negócio.

Estas características, somadas a muito esforço e principalmente muita persistência e otimismo, em geral, garantem a longevidade das empresas que tenho acompanhado. É interessante notar que são competências inerentes ao empreendedor, dependem somente dele. Os empreendedores de sucesso que conheço atuam nos mais diferentes setores de mercado e iniciaram suas atividades em épocas de recessão, enquanto outros começaram a trabalhar em épocas de crescimento econômico.

Isso não significa que sejam competências inatas. Elas podem e devem ser desenvolvidas a partir de bons programas de formação em negócios ou empreendedorismo.

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