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Autor:
Luigi Nese
Qualificação:
Presidente da Confederação Nacional de Serviços – CNS
Site:
www.cnservicos.org.br
Data:
06/09/2011
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Boas notícias não podem passar despercebidas

Recentemente o IBGE divulgou os resultados da Pesquisa Anual de Serviços de 2009, a mais importante fonte de informações econômicas e financeiras sobre os serviços no Brasil. Muito embora os dados se refiram a um período considerado por muitos como longínquo para uma visão da conjuntura brasileira – e quem sabe por isso tenha havido pouco interesse pela pesquisa nos meios de comunicação –, as informações da PAS fornecem elementos importantíssimos para uma reflexão sobre o setor de serviços, seu papel na economia brasileira e suas virtudes em termos de sustentação das atividades.

O ano de 2009 foi marcado pela crise internacional deflagrada nos Estados Unidos no final do ano anterior e que levou as economias desenvolvidas a uma profunda recessão. As economias dos Estados Unidos, epicentro da crise, União Europeia e Japão mergulharam em uma recessão que afetou o desempenho das exportações de todos os países, reduziu os fluxos globais de capital, fez cair os preços das commodities e acirrou a disputa comercial no comércio internacional. Em razão disso, o PIB da indústria extrativa mineral brasileira, atividade sustentada essencialmente pelas exportações, caiu 58% em 2009!

Nessa tempestade, o Brasil entrou preparado, com fundamentos econômicos consistentes e capacidades empresarial e governamental de reação. O governo federal assumiu desde cedo uma postura otimista e adotou políticas anticíclicas acertadas para manter o nível de atividades, o emprego e a renda dos brasileiros. Impediu, com isso, que o Brasil mergulhasse fundo na recessão internacional, interrompendo o ciclo virtuoso de crescimento iniciado em 2006.

Houve redução do ritmo de crescimento, mas ela foi pequena e passageira. Em 2009, o crescimento do PIB brasileiro foi de apenas 6,2% em termo nominais, ou 1,1% acima da variação do INPC. A indústria cortou pessoal e retraiu os investimentos. O PIB da indústria caiu 3,2% em termos nominais e 7,9% em termos reais. O desempenho da extrativa mineral, como visto anteriormente, foi desastroso. A agricultura andou para traz nos dois primeiros trimestres e apenas se recuperou no final do ano. Ao contrário dessa tendência, o setor de serviços brasileiro continuou a investir, apostando no crescimento sustentado do país. Em 2009, o PIB dos serviços cresceu 9,9%, o que equivale a uma expansão de 4,6 pontos percentuais acima da inflação.

Os dados da PAS 2009 reforçam essa ideia e mostram, com riqueza de detalhes, como foi a reação dos serviços privados não financeiros à crise. Suas receitas cresceram 10,9% no ano, o que equivale a um aumento de 6,4 pontos percentuais acima da inflação – de 4,31%, segundo o INPC. O PIB dos serviços cresceu ainda mais que as receitas: houve expansão de 12% em termos nominais e 6,4% em termos reais. Isso revela a enorme capacidade de geração e renda das empresas de serviços no Brasil, que foram capazes de aumentar de forma substancial seu valor adicionado num ano de estagnação.

O emprego em serviços elevou-se 6,8%, passando de 9,067 milhões de postos de trabalho em 2008 para 9,682 milhões em 2009. Assim, houve a criação de 615 mil novos postos de trabalho nos serviços, o que representou 44% do total de empregos com carteira assinada criados em 2009 segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Segundo a PAS, a massa de salários pagos pelos serviços privados não financeiros observou expansão de 13,3% em termos nominais, o que equivale a um crescimento de 8,6% acima da inflação.

O crescimento dos serviços no Brasil não foi apenas elevado em 2009. Ele foi bom, pois foi seguido de aumento da produtividade. O PIB por trabalhador dos serviços cresceu 0,6% em termos reais, o que permitiu o aumento 1,7% do salário médio real dos trabalhadores desses setores. Ou seja, durante a crise, as empresas e trabalhadores do setor de serviços contribuíram para evitar uma recessão profunda e elevaram a produtividade da economia brasileira.

Essa tendência de crescimento com aumento de produtividade se manteve nos últimos dois anos. Como indicam as informações do PIB trimestral do IBGE, os setores de serviços privados não financeiros tiveram expansão de 13,2% no segundo trimestre de 2011 em relação a igual período de 2010. Isso equivale a uma variação de 6,3 pontos percentuais acima da inflação acumulada no período. Considerando a variação de 5,3% do emprego, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, a variação da produtividade foi de 0,9% nesses 12 meses. Ou seja, os serviços privados não financeiros continuam a crescer com qualidade e acima do PIB brasileiro – que acumulou crescimento de 5,5% acima da inflação.

Agora que novas incertezas pairam sobre as perspectivas das economias desenvolvidas, e já se fala em uma nova recessão mundial, as boas notícias que a Pesquisa Anual de Serviços de 2009 nos trouxe há poucos dias não podem passar despercebidas. Temos uma economia doméstica ajustada e dinâmica e contamos com as empresas de serviços, que podem continuar o processo de desenvolvimento do país em meio às turbulências, mantendo e gerando novos empregos, expandindo a renda e elevando a eficiência.



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