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Autor:
Ana Paula P. Candeloro
Qualificação:
É advogada, Compliance Officer, orientadora do INSPER e Coordenadora de Educação Continuada e Especialização em Direito da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (grade 2012).
E-mail:
[email protected]
Data:
07/06/2011
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Compliance: quando a aptidão acadêmica não basta

Um dos corolários da atividade e como forma de garantir a independência funcional o Compliance Officer não deve estar ligado funcionalmente a qualquer área de negócios, devendo reportar-se ao mais alto escalão da instituição.

Algumas vivências mais traumáticas reforçam a importância da independência funcional, como por exemplo potenciais intimidações veladas. Infelizmente alguns Compliance Officers acabam vivenciando esta dinâmica mafiosa.

E como forma de se auto-preservar em meio a essas inevitáveis forças do mercado, uma das características que julgamos particularmente importante para que um Compliance Officer seja bem sucedido na política organizacional é a inteligência emocional.

Passei a me interessar mais por este tema quando me deparei com um executivo que, na falta de argumentos inteligentes para a seqüência de um saudável debate, finalizou abruptamente a discussão com a seguinte frase: “quem manda aqui sou eu.”

Relacionar-se bem no coletivo e conseguir transitar com maestria por diferentes tribos é um extraordinário talento. Adotar a perspectiva do outro, lidar com as emoções do outro, controlando os seus próprios impulsos, suportando as dificuldades e canalizando produtivamente as suas emoções exige auto-controle, obviamente, porém, acima de tudo, uma autoconsciência emocional, que é um conceito bem mais abrangente.

Daniel Goleman em seu livro “Inteligência Emocional”, NY, 1995, trata muito bem das habilidades em relacionamentos inter pessoais, trabalho em equipe, solução de conflitos e tantas outras competências que permitirão ao Compliance Officer perceber e usar as emoções próprias e a dos outros, e a reagir a elas adequadamente, o que lhe proporcionará mais chances de adaptação, sobrevivência e sucesso.

É interessante observar como as novas exigências do mercado que acabam pautando nossa vida profissional dão um valor sem precedentes à nossa inteligência emocional para o êxito no emprego e como as emoções descontroladas e nocivas põem em risco nossa saúde física e bem estar.

Trata-se na verdade da velha discussão sobre o sucesso profissional em sintonia com a perfeita saúde, o que tem mais chances de acontecer no âmbito do desenvolvimento da inteligência emocional.

O stress abaixa os limites da nossa tolerância e auto-disciplina e as experiências tensionantes desgastam o sistema nervoso. As pessoas que não conseguem exercer um auto-controle sobre as emoções acabam perdendo a racionalidade e a decisão, que deveria ser governada pelo pensamento, acaba sendo dominada pelo sentimento, como esclarece Goleman.

“A mente emocional é muito mais rápida do que a mente racional, saltando à ação sem deter-se para pensar no que está fazendo. Sua rapidez exclui a reflexão deliberada e analítica, que é a característica da mente pensante.” [Daniel Goleman]

Portanto, como bem destaca Goleman, “estar no controle de nossas paixões tem vantagens sociais e criam um discurso mais produtivo e menos sujeito a arrependimentos.” Se nosso poder de discernimento torna-se inoperante não conseguimos a serenidade mental que nos propicia concentração no trabalho e clareza nos pensamentos.

A capacidade de controlar os impulsos é uma questão de auto-disciplina assim como a capacidade de se auto-motivar mesmo em meio a frustrações, adiando a satisfação e buscando uma vida mais virtuosa.

Resumindo, estamos falando de autocontrole, persistência e capacidade de se auto motivar; todos ao mesmo tempo. Pode parecer uma pouco distante da realidade de muitos, porém de que servem os obstáculos se não para nos ajudar a sair de nossas perspectivas limitadas?

E agora voltamos à atuação do Compliance Officer, que é aquele que vai também lidar com vaidades humanas, dinâmicas mafiosas, pretensos líderes, ameaças veladas e por tudo isto, além de toda a competência técnica, acadêmica, dedicação, comprometimento, vemos como fundamental um alto índice de inteligência emocional.

A mente flexível e treinada consegue trabalhar bem o equilíbrio das relações humanas, o que já é um passo para um novo modelo de sucesso. Um sucesso que vai além da excelência acadêmica.

Afinal, como reagir a um “você sabe com quem está falando?”

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