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Autor:
João Baptista Sundfeld
Qualificação: Economista com e consultor da Sundfeld & Associados – Gestão Empresarial.
Site: www.sundfeld.com.br 
Data:
08/03/06
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A Sobrevivência das Empresas Familiares

A quantidade de empresas familiares e sua elevada taxa de mortalidade indicam a necessidade de melhorias nas práticas administrativas. Interessante estudo de Fernando Curado, professor da Business School de São Paulo, publicado no caderno Sinapse (Folha de São Paulo) de 30.08.2005 registra os percentuais de empresas familiares em vários países (ver quadro).  

    País %
Itália 95
Brasil 90
Suécia 90
Espanha 80
Inglaterra 75
Portugal 70

O estudo também cita que cerca de 40% das empresas listadas na “Fortune 500” são controladas por famílias ou de propriedade familiar e que entre 65% e 80% das empresas no mundo são familiares.  
Neste artigo, tratamos do tema no Brasil enfatizando as novidades para pequenas e médias organizações já que grandes grupos empresariais como Votorantim, Pão de Açúcar, TAM e Casa Bahia, para citar apenas alguns mais conhecidos, já introduziram mudanças significativas em sua administração. De maneira geral, as grandes empresas começam por incorporar profissionais em várias atividades modificando as relações de poder e a estrutura hierárquica. Cada vez mais utilizada é a criação de um conselho administrativo para os familiares substituindo-os por profissionais para atuar como executivos. Essas empresas adotam planos estratégicos formulados com apoio de consultores e admitem a entrada de novos sócios ou abrem seu capital lançando ações nas bolsas de valores.  

Já as pequenas e médias empresas têm dificuldades para integrar os membros da família nos diversos cargos da administração. Ocorre que a maioria dos cargos exige conhecimentos especializados para tratar recursos humanos, suprimentos, compras, logística, marketing, vendas, finanças, contabilidade, impostos, produção, tecnologia da informação, manufatura e serviços, nem sempre da competência de um membro da família. É compreensível a dificuldade dos parentes em aceitar “pessoas de fora” para desempenhar funções que eles poderiam suprir. A experiência tem demonstrado que somente um grupo unido sob um planejamento estratégico preparado com antecedência poderá evitar decisões erradas. Pequenas e médias empresas familiares costumam ter problemas para evitar que os sócios considerem a empresa como propriedade particular confundindo atividades das pessoas físicas com a pessoa jurídica, como, por exemplo, pagar pela empresa despesas pessoais de viagens, restaurantes, clubes, combustíveis e outras. Estas práticas não são aceitas pelo Fisco e criam imagens negativas junto aos funcionários deteriorando o ambiente. Já vimos disputas que atingem as raias do ridículo com irmãos ou primos discutindo a necessidade de trocar o carro ou a casa só porque um outro o fez. Para solução desses conflitos basta fixar honorários adequados e cada um cuidará de seus gastos particulares. Cuide-se também para que as declarações de imposto de renda das pessoas físicas sejam preenchidas com adequação às normas legais e os impostos recolhidos. 

O finlandês Mika Mustakallio, 41 anos, representa a terceira geração a comandar o Raute Group, fundado em 1908 na Finlândia e líder mundial na fabricação de máquinas para indústria de compensados (Pequenas Empresas & Grandes Negócios – março/2005). Disse ele, antes de transferir-se para o conselho: “É preciso acumular experiência no mercado e aprender a olhar a própria empresa não como uma herança, mas como um negócio que precisa crescer e dar lucro”.

Atualmente é comum a contratação de especialistas para apresentar palestras nas empresas, inclusive temas sobre psicologia ou psiquiatria. De fato, o custo pode ser um empecilho para um pequeno negócio. Objetivamente, este investimento pode variar de R$ 5.000,00 a R$ 25.000,00 ou mais dependendo da fama do palestrante. Contudo, é preferível evitar que a solidão do poder cause estresse afetando a saúde pessoal ou traumas familiares. Para ajudar nessa tarefa já existem consultores que se tornam apoiadores (coaches) temporários ou permanentes com custos aceitáveis para médias e até pequenas empresas. Existem empresas nacionais e internacionais que oferecem a grupos de empresários, reuniões regulares para discutir temas de interesse comum monitorados por um consultor. São exemplos a TEC (The Executive Group) e a Forum que adotam esse modelo. 

A troca de informações colabora para aliviar o ambiente e traz múltiplas possibilidades de reflexão para tomada de decisões. Um exemplo desses grupos de trabalho é o desenvolvido pelo psicanalista Dr. Paulo Gaudêncio em seu instituto em São Paulo. Apesar de sabermos que a decisão final sempre será solitária é mais fácil escolher o caminho certo quando todas as variáveis tenham sido estudadas e a decisão estiver bem fundamentada. A gestão empresarial é uma ciência que exige sabedoria, talento e a utilização de técnicas que determinam a longevidade das empresas.

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