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Autor:
Alfried Plöger
Qualificação:
Presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Associação Brasileira das Companhias de Capital Aberto (Abrasca).
E-mail:
[email protected]
Data:
09/03/05
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Incoerência Cambial

Esforço das gráficas para exportar pode ser comprometido pelo câmbio

O setor gráfico, cujo empenho no comércio exterior foi imenso nos últimos anos, avalia com preocupação estudo divulgado pela Fiesp: deflacionado pelo Índice de Preço no Atacado da Indústria de Transformação, o câmbio está no mesmo nível de 1997. Detalhe: naquele ano, o Brasil amargou déficit superior a US$ 6 bilhões em sua balança de pagamentos. Assim, não é desprezível o risco de estagnação ou retrocesso nas exportações, fundamentais ao crescimento da economia.

O esforço exportador da indústria gráfica tem sido amplo e múltiplo. Abrangeu investimentos vultosos (US$ 6 bilhões nos últimos dez anos); ampliação do ensino profissional, como a criação de curso superior de Tecnologia Gráfica no Senai-SP; melhoria do treinamento da mão-de-obra; processo de normalização realizado pela Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG); aprimoramento de qualidade; e, mais recentemente, a criação de consórcios de exportação, coordenados pela Regional São Paulo da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf).

Como se pode perceber, trata-se de um projeto amplo, multidisciplinar e articulado, com foco nas exportações. Os resultados apareceram. Em 2003, pela primeira vez em dez anos, o setor obteve o primeiro superávit em sua balança comercial. Agora, conforme demonstram os dados consolidados da Abigraf, as exportações brasileiras de produtos gráficos em 2004 tiveram crescimento de 2,88% em relação a 2003, alcançando US$ 193,7 milhões. Em contrapartida, as compras no mercado externo atingiram US$ 108,7 milhões, representando queda de 5,96% em comparação ao ano retrasado. Tais resultados permitiram, pelo segundo ano consecutivo, um desempenho positivo da balança comercial do setor, que encerrou 2004 com superávit de US$ 85 milhões. Este saldo significa crescimento de aproximadamente 17% em relação a 2003.

Todo este avanço, que custou alguns anos de investimento, mobilização e empenho do mercado e seu sistema associativo, pode ser comprometido pela renitência do governo quanto à presente política cambial. Os industriais gráficos brasileiros sabem que, hoje, o seu produto tem qualidade similar à dos concorrentes estrangeiros, mas não é melhor. Por isto, é preciso, além de toda a saga do aporte tecnológico e conquista de padrões mundiais de qualidade, agregar competitividade quanto ao preço. E este talvez seja o mais extraordinário feito, pois as gráficas têm conseguido exportar, em valores FOB, sob condições internas de impostos, juros e encargos muito mais severas do que na média internacional. Porém, o Custo Brasil, somado ao câmbio atual, reduz muito nossa capacidade de competir, e ninguém irá pagar para exportar.

Uma das maiores virtudes humanas é a humildade, mãe do bom-senso. Teria o governo a consciência de que ninguém comprará nossos produtos se puderem pagar menos por outros? Os empresários sabem muito bem que precisam de qualidade, preço e muito esforço de vendas para exportar. Por isto, têm cobrado coerência de quem prometeu criar dez milhões de empregos.

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