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Autor:
José Luiz Nogueira Fernandes
Qualificação:
Presidente da FESESP – Federação de Serviços do Estado de São Paulo.
Site:
www.fesesp.org.br
Data:
09/04/2014
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Políticas públicas para os serviços

Os serviços são responsáveis por 70% do emprego e 69% do PIB do Brasil, segundo o IBGE. Mas “é pobre o conhecimento que o governo tem do setor”, no entender de Marcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) e atual presidente da Fundação Perseu Abramo. Por isso, essa evidência ainda não é totalmente percebida na prática, ou seja, não influi nas políticas públicas, ainda muito voltadas para setores tradicionais, como a indústria, que perde espaço para o nosso setor nos índices econômicos. A realidade se impõe no front das atividades econômicas, mas a repercussão disso ainda está muito defasada, como alerta o jornalista Celso Ming publicado no jornal O Estado de São Paulo no dia 24 de março.

A manifestação do jornalista faz parte de uma gradual mudança da visão que os serviços merecem. Ele chama a atenção para o fato de o governo federal ainda não enxergar com clareza “sobre o setor que mais cresce e mais emprega na economia, o de serviços”. Ming destaca que para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o IBGE, encarregado das Contas Nacionais, não calcula corretamente o tamanho do setor nem sua evolução, já que os dados do PIB seriam subdimensionados.

Em geral, diz Ming, os economistas do Brasil avaliam mal o setor e mostram-se incapazes de considerar esse desconhecimento nas formulações de política econômica. “O fenômeno é suprapartidário e extravasa o governo”. O foco da análise procede. Por inércia, as medidas de apoio e saneamento da economia tendem demasiadamente para setores tradicionais, pois é assim que está posto desde o século passado. Ter uma performance invejável parece não ser suficiente. Está faltando visibilidade que justifique o impulso decisivo para que o setor possa deslanchar de vez e cumprir sua vocação desenvolvimentista de maneira plena.

É preciso enxergar melhor uma atividade que, apesar de concreta e de resultados práticos reais, tem em sua natureza uma carga de imponderável. Não se pode medir um serviço da mesma forma que se pesa um produto industrial. Isso tem desvirtuado a atenção das políticas públicas. Quando o assunto é emprego, baixa competitividade do setor produtivo, avanço econômico insuficiente, incorporação de tecnologia e agregação de valor só se pensa na indústria, diz Ming. “Se algo não vai bem com as montadoras, é porque a política industrial não foi eficaz”, nota o jornalista.

Isso influi nas decisões dos formuladores de política econômica, que ainda estão presos à antiga percepção de que o objetivo estratégico da economia continua sendo a substituição de importações de manufaturados. Não se leva em consideração a grande diversidade, alcance e avanço de setores dos serviços, como a informática, a logística, a atividade bancária, os serviços de comunicação que demandam satélites, criptologia avançada etc. Os aplicativos, as empresas virtuais com tecnologia de ponta, que criam soluções e dinamizam a economia também passam lotados pelas ações do governo.

É preciso mudar esse enfoque para que se possa fazer justiça ao que mais importa: a geração de empregos de qualidade, a cargo dos serviços, já que a indústria não detém a exclusividade das melhores ofertas de trabalho, como nota o jornalista: “O governo está sempre pronto, por exemplo, a dar benefícios fiscais e creditícios à indústria, a título de defesa do emprego, mas esquece do setor de serviços. E quando se trata de “produtividade”, não só o governo ignora os avanços nos serviços propiciados pela Tecnologia da Informação, mas pouco sabe sobre como multiplicar tais efeitos em benefício do emprego e do progresso econômico”.

Mas apesar das dificuldades, vamos avançado. E cada vez convencendo a mídia, a sociedade e o governo sobre a importância de se dedicar aos serviços tudo o que ele merece, pelo tanto que faz em favor do desenvolvimento do país.


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