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Autor:
Carlos Godoy
Qualificação:
Professor e consultor da Change Consult
E-mail:
[email protected]
Data:
10/05/05
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O Amanhã que Nunca Chega

Eu tenho um amigo que costumava dizer que um de seus pontos fracos era a procrastinação. Ele dizia: "Reconheço que costumo deixar as coisas para depois, mas vou melhorar. Vou deixar de procrastinar e vou começar isto a partir de… amanhã".

O que ele dizia brincando acaba sendo uma verdade para muitos de nós. A declaração do Imposto de Renda está aí para confirmar esta tendência. Se as consequências desta procrastinação fossem somente financeiras, o problema não seria tão grave. O grande risco é quando ela acaba afetando nossa vida pessoal, profissional ou familiar.

Lembro de um gerente com quem trabalhei há alguns anos atrás. Ele estava se aposentando depois de longos anos de carreira, uma carreira bem sucedida financeiramente. O que me chamou a atenção foi o seu comentário a respeito de seus planos para o futuro. Ele disse: "Finalmente vou poder fazer o que eu gosto!" Ele tinha passado todos aqueles anos, fazendo algo que não gostava, esperando pelo dia em que poderia se realizar profissionalmente. Com o dinheiro economizado ele abriu o seu próprio negócio. Neste caso o seu "amanhã" chegou, mas foram tantos anos de espera e sacríficios que tenho dúvidas se valeram a pena.

Comodidade, insegurança, falta de dinheiro, falta de apoio, falta de fé, falta de vontade. São várias as razões que nos levam a adiar nossos projetos e alguns de nossos sonhos. A cada virada de ano, a cada aniversário ou em alguma data específica, nos comprometemos com as nossas metas e pensamos: "Este ano vai dar!" Chegamos a colocar estes planos no papel, talvez mais para aliviar a nossa consciência do que assumir um compromisso de fato. Ao final do período reconhecemos que "infelizmente não foi possível". Nossas metas acabam se tornando apenas um registro das coisas que, mais uma vez, deixamos para… amanhã.

No âmbito familiar o risco deste "amanhã que nunca chega" é ainda mais grave. Lembro de uma vez em que estava com um dos meus filhos no carro e quando passamos em frente a sua escola ele comentou: "Puxa pai, eu nem acredito que já estou no primeiro ano!" Eu pensei comigo mesmo: "Ele já está no primeiro ano!? Eu não lembro de conversarmos sobre a 8a. série! Onde eu estava quando ele cursava a 7a. série? Quando foi a última vez que fiz lição de casa com ele? Quando foi a última vez que estudamos juntos para uma prova?"

É incrível como os nossos filhos crescem rapidamente e nem percebemos o que esta acontecendo em suas vidas. Quando foi a última vez que saímos para conversar com um deles? Quando foi a última vez que expressamos o nosso amor por eles? A intenção de fazê-lo esta sempre lá (eles sabem disto, pensamos), mas acabamos deixando sempre para… amanhã. Neste caso, o amanhã pode ser tarde demais. Os anos vão passar e talvez quando quisermos compensar o tempo perdido, será a vez deles dizerem: "Hoje não pai/mãe, vamos deixar para… amanhã".

Aquele livro, aquele curso, aquele abraço, aquele beijo, aquela viagem, aquele vício, aquela fraquesa, aquele negócio, aquele e aquele…, são coisas que estão sempre em nossa lista, mas nem sempre em nossas realizações.

No próximo feriado, nas próximas férias, no próximo emprego, no próximo ano e no próximo e no próximo... E assim vamos deixando para depois estas metas e realizações em nossas vidas.

Vamos deixando para este amanhã que, em muitos casos, é um amanhã que nunca chega.

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