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Autor:
Marcos Andrade
Qualificação:
Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo (Abiesv)
E-Mail
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Data:
11/08/04
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O Varejo Otimista

Os sinais de revitalização de nossa economia, sob o ponto de vista macro, vêm contribuindo para lançar luz ao setor varejista brasileiro. Com o segundo semestre pela frente e datas comerciais importantes como Dia dos Pais, Dia da Criança e Natal, grandes e pequenas empresas passam a vislumbrar um 2004 promissor, diferentemente do que ocorreu nos últimos anos.

Essa perspectiva, longe de simples intuição, vem respaldada por sondagens mensais que realizamos ao longo de seis meses junto às mais representativas empresas do segmento de equipamentos e serviços para lojas. São fornecedores de mobiliários, gôndolas, check-outs, manequins, softwares, arquitetos especializados em varejo, construtoras e empresas de consultoria, dentre outros, e que atendem a grandes redes, além de milhares de varejistas independentes.

O setor de serviços foi o que primeiro registrou aquecimento, logo no primeiro trimestre, com significativo aumento de consultas e fechamento de projetos para abertura ou reformas de lojas. Já os fornecedores de equipamentos tiveram impacto menor, embora com crescimento da demanda na comparação com os seis primeiros meses de 2003.

Na atividade do varejo, um dos indicadores mais confiáveis, indubitavelmente, são os pedidos feitos junto aos fornecedores de equipamentos e serviços. Quando uma rede de lojas decide expandir seus negócios ao longo dos meses seguintes, as solicitações de projetos e aquisição de ativos são feitas antecipadamente. É justamente essa movimentação que observamos entre janeiro e junho deste ano.

Além do otimismo natural decorrente do incremento nas vendas, boa parte dos varejistas está buscando diferenciais para garantir a necessária competitividade no mercado globalizado. Pequenos e médios empresários, atentos às pesquisas que demonstram a importância do ponto-de-venda na decisão final do consumidor, vêm apostando em projetos de inovação visual e ''humanização'' de seus estabelecimentos para estabelecer melhores condições de concorrência com as grandes marcas.

Um dos resultados imediatos é a profissionalização cada vez maior do setor, sintonizado às novas tendências do store design e do in-store marketing. Valoriza-se, aí, a figura do chamado arquiteto de varejo, que está sendo redescoberta pelo mercado para ousados projetos de reforma e ampliação de novas lojas. Ao mesmo tempo, e não menos importante, é notória a valorização das políticas de relacionamento com o cliente, capacitação das equipes de atendimento e aperfeiçoamento das diversas formas de contato com o consumidor final, prática salutar que, se ainda não atingiu seu ponto ideal de maturação, caminha de forma sustentada, moderna e criativa, reinventando o varejo nacional.

Todos esses elementos, somados, dão a dimensão exata do que se pode esperar do segmento varejista ao longo dos próximos anos. E também são fruto de um relacionamento mais alinhado do setor com os fornecedores de equipamentos e serviços para lojas das mais diversas naturezas, em busca da qualidade total.

É justamente neste momento de otimismo do varejo que se torna imperiosa a revisão de algumas políticas governamentais que ainda constituem um entrave para o pleno desenvolvimento de um segmento tão importante da economia, responsável por pelo menos 10% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Se, por um lado, a crítica às altas taxas de juros vigentes no País já soa como lugar comum, por outro está mais do que na hora de deixarmos o conservadorismo de lado para estimular a produção, sobretudo das pequenas e médias empresas de equipamentos, que vivem às voltas com escassas linhas de crédito e capital de giro pífio. Da mesma forma, seria bem-vinda a redução de tributos como o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre ativos fixos, o que permitiria ao varejo investir, por exemplo, na ampliação do espaço físico de uma loja, contratação de pessoal ou incremento do mix.

Por fim, e para consolidar a relação de quase cumplicidade entre fornecedores e varejistas, não é demais alertar os produtores de matérias-primas como aço e plástico quanto à perigosa política de preços que privilegia apenas o mercado internacional, limitando a negociação de preços e reduzindo a margem de lucro das empresas fabricantes de equipamentos para as lojas brasileiras.

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