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Autor:
Carlos Eduardo Moretti
Qualificação:
Professor de Lean Manufacturing na Fundação Vanzolini.
Site:
www.vanzolini.org.br
Data:
12/06/2015
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Crise: o momento ideal para a implantação do Lean

Nos últimos 25 anos, vivenciamos várias crises econômicas e seus efeitos no dia a dia das empresas: em 1990 o Plano Collor, em 1994 a crise econômica do México, em 1998 a moratória da Rússia, a desvalorização do Real frente ao dólar em 1999 e mais recentemente, a crise financeira americana, desencadeada em 2008 pela quebra do Lehman Brothers, cujos efeitos podem ser sentidos até os dias de hoje.

Ao analisar estes eventos, identificamos duas características muito importantes sobre as crises: a notícia boa é que elas passam; a notícia ruim é que elas voltam. Pesquisas acadêmicas e constatações empíricas mostram que as organizações abordam as intermináveis e cíclicas oscilações de demanda, provocadas pelas crises, de duas formas diferentes: a maioria delas se retrai, demitem colaboradores e in terrompe m investimentos; a minoria a enxerga como oportunidade.

No primeiro grupo, nos períodos de crise, as empresas tomam ações como dispensa de pessoal, cortes de investimentos e, principalmente, interrupção de projetos de melhoria de processos, visto que a diminuição da demanda, além de comprometer o fluxo de caixa, gera excesso de capacidade. Isto posto, seria de se esperar que no período de expansão da demanda as organizações buscassem a maximização da utilização de seus recursos: os tão sonhados "ganhos de produtividade". Contudo, nossa experiência mostra que nas empresas onde esta abordagem é adotada, ocorre justamente o contrário.

Quando a demanda está em expansão, não há tempo para dedicar-se à melhoria de processos. Gestores e profissionais da linha de frente estão muito ocupados "apagando incêndios", colocand o remendos em sistemas sabidamente deficientes e/ou repondo, de forma açodada, a mão de obra dispensada no período de crise. Para agravar este cenário, não raramente, os escassos recursos disponíveis são utilizados de forma equivocada, com premissas do tipo: "o importante é entregar os pedidos dos clientes!" - de tal forma que os lucros advindos do acréscimo de demanda são extremamente reduzidos. Inevitavelmente, em muitos casos, os bons resultados financeiros obtidos nos períodos de expansão da demanda servem unicamente para repor as perdas dos períodos de crise.

No segundo grupo, as organizações entendem que a crise é uma oportunidade única para a aplicação do Lean e para alcançar a melhoria de seus processos, dado que, conforme sustenta a literatura, temos que focar em três pontos principais:

• As mudanças na Cultura Organizacional: indispensáveis para a implantação do Lean Thinking - são mais facilmente aceitas pelos colaboradores, já que o modelo em vigor se mostrou incapaz de evitar a iminente "catástrofe";

• O baixo custo da implementação e os precoces ganhos de produtividade obtidos pela aplicação do Lean: além de serem adequados à escassez de recursos financeiros dos tempos de crise, proporcionam uma excelente relação custo benefício para o projeto que - em implantações bem conduzidas - apresenta resultado financeiro positivo a partir do quarto ou quinto mês.

• No momento de decréscimo da demanda, há mais tempo ocioso para o treinamento da mão de obra.

Por fim, com o início de um novo ciclo de expansão, os ganhos de produtividade permitirão que o acréscimo de demanda seja absorvido de forma natural, proporcionando considerável aumento nas margens. Uma vez que todos estamos sujeitos às variações do mercado, mais importante que antever uma Crise é saber como lidar com sua existência. 


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