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Autor:
Mário César de Camargo
Qualificação:
Presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf)
E-Mail
[email protected]
Data:
12/10/04
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Comunicação Gráfica e as Mídias Eletrônicas

O escritório, numa pequena rua da Vila Madalena, em São Paulo, é recheado de livros. Livros e idéias. Idéias e ideais persistentes. É noite, mas dois computadores, com as telas acesas, denunciam: aqui se escreve muito. E basta ler um parágrafo para reconhecer a dignidade da pena de Alberto Dines, jornalista. No aconchego informal daquele espaço, ele - que deixou sua marca em tantos jornais e revistas - continua produzindo textos primorosos, exercitando uma fé indefectível: "Acredito na palavra impressa".

Este é o trecho de encarte especial da Revista Abigraf, da Associação Brasileira da Indústria Gráfica, sobre a história da imprensa brasileira. E, claro, num trabalho dessa natureza seria indispensável o depoimento de Dines, que, ao professar sua crença na palavra impressa, ratifica resultado de estudo do maior fabricante mundial de máquinas gráficas: a mídia impressa representa 70% da comunicação no mundo. Só em 2010 será superada pela eletrônica (49% contra 51%), mas com o crescimento da demanda, o mercado gráfico, em números absolutos, será maior do que hoje.

Os dados justificam o fato de o germânico Johannes Gutenberg ser unanimemente considerado um dos mais importantes personagens da história. A partir de 1455, quando inventou os tipos móveis e imprimiu o primeiro livro - uma bíblia -, o mundo nunca mais foi o mesmo. A força da comunicação gráfica como difusora de informação foi demonstrada ato contínuo. À época, a Europa tinha cerca de 50 milhões de habitantes, dos quais apenas oito milhões sabiam ler, embora raramente conseguissem livros, raros e caros, pois eram manuscritos e praticamente aos mosteiros. Muito rapidamente, contudo, o aumento da oferta, devido à imprensa, incentivou o hábito da leitura. Apenas dois anos após a venda, numa feira em Frankfurt, das 200 bíblias impressas por Gutenberg, o número de europeus alfabetizados já chegava a quase 20 milhões.

Estudos e pesquisas demonstram que, em termos mundiais, a comunicação gráfica avança, sendo decisiva para a disseminação do conhecimento. Bom exemplo é o setor editorial. Os livros, em numerosos países, são, cada vez mais importantes como fontes de informação. No Brasil, contudo, a média atual é inferior a três livros por habitante/ano. E há que se considerar, neste índice, a contribuição dos mais de 100 milhões de exemplares anuais do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Isto demonstra que, entra governo, sai governo, o setor gráfico, como tantos outros ramos de atividade, tem trabalhado abaixo de sua capacidade instalada, em função das crises intermitentes e da morosidade quase crônica da economia nacional. A indústria gráfica tem percepção aguçada. É capaz de identificar rapidamente as tendências: quando se produzem menos embalagens, notas fiscais, manuais técnicos de automóveis e de bens eletrônicos, cartões de crédito e livros, há algo de errado.

A comunicação gráfica, conforme indicam as pesquisas e a sabedoria de mentes como a de Dines, não está ameaçada pelas mídias eletrônicas e a internet. No Brasil, contudo, enfrenta os mesmos riscos a que têm estado expostos todos os setores produtivos, que seriam muito menores se, mais do que 170 milhões de habitantes, tivéssemos 170 milhões de pessoas ungidas pela cidadania plena. Ou seja um mercado no qual as mensagens da comunicação gráfica não fossem apenas sonhos impressos para milhões de brasileiros.

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