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Autor:
Luiz Fernando Garcia
Qualificação: Consultor especialista em manejo comportamental e empreendedorismo em negócios.
e-mail:
[email protected]
Data:
13/05/2008
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Empreendedores francos e o título universitário

A recente lista divulgada pela Forbes sobre as pessoas mais ricas do mundo abre espaço para algumas análises: para ser um milionário em pleno século XXI não há receita a seguir. Não existe idade pré-determinada, não há segmento mais ou menos promissor, não há preferência sexual. Até aí, nenhuma novidade. Agora, saber que mais de 50% dos figurantes da lista comungam o fato de não terem terminado a faculdade, no mínimo, chama atenção.
 
Não estou aqui pregando a falta da necessidade do estudo para atuar no mercado de trabalho. O diploma continua sendo essencial; um caminho em direção ao alcance dos objetivos, mas, infelizmente, não necessariamente, sinônimo de sucesso profissional, muito em função da competitividade do mercado que seleciona os melhores, mesmo quando os acessos para uma educação de qualidade não são, assim, tão democráticos.
 
Indo à frente, o que de fato pessoas populares como Bill Gates, Steve Jobs e outros nem tanto conhecidos pela massa, como Warren Buffet - agora o homem mais rico do Mundo, que fez fortuna com investimentos na Bolsa e detém cerca de US$ 62 bilhões - ou Carlos Slim, dono da companhia de telecomunicações mexicana Telmex e de um patrimônio de US$ 60 bilhões, ou o mais jovem milionário do mundo, Mark Zuckerberg, dono do site Facebook, têm em comum? Além da fortuna, todos são donos de um verdadeiro espírito empreendedor.
 
Engana-se quem pensa que eu estou falando a mesmice, batendo na mesma tecla. De fato, o verdadeiro espírito empreendedor vai muito além da capacidade de abrir um negócio e torná-lo rentável ao longo dos anos; trata-se da aptidão de fazer a diferença, de mudar a história de concretizar um dos diferenciais mais cobiçados na economia moderna: a capacidade de inovar. É possuir a visão sensível de olhar para o carvão e enxergar o diamante. Ter visão futura de longo prazo.
 
Criar mais do que desejo, uma necessidade de fato, a um ponto tal que grande parcela da população não consiga se imaginar sem. Ser capaz de desconversar com o efêmero, durar mais que décadas, sobreviver a diversos planos econômicos, governos e fatos históricos pelo simples fato de saber se reinventar. É essa capacidade que desafia a genética, que não se explica e não se repete ainda que seja possível a todos buscar o melhor resultado no mundo dos negócios com o uso das técnicas disponíveis e, principalmente, do conhecimento mais apurado sobre como se comportam os mercados em que se quer atuar, os concorrentes com quem se vai competir e os clientes ou público-alvos para quem se pretende vender.
 
Entender que a mente humana é possível de ser compreendida, para não causar estranheza afirmando que pode ser controlada. Compreender que com o estímulo certo é possível obter o resultado desejado de seu time de funcionários, colaboradores, clientes, fornecedores. Que a visão futura requer prática do empresário da mesma forma que a melhor performance exige do atleta. Mas é verdade que tais habilidades para alguns poucos é simplesmente natural por uma questão genética.

Recentemente, o neurologista Joe Tsien, da Universidade de Princeton, Estados Unidos, realizou um estudo a fim de identificar os genes específicos envolvidos em ser um empreendedor. O especialista alterou um gene batizado de Nr2b, no DNA de camundongos (que têm 92% da carga genética igual à da raça humana), duplicando-o. Com isso, ele conseguiu modificar a capacidade dos roedores em encontrar soluções para problemas – o que chamaríamos, quando nos referimos aos humanos, de memória e inteligência. Após a experiência, os camundongos que tiveram o Nr2b duplicado precisaram de apenas 42 segundos para encontrar a comida, que antes era achada em três minutos. Ao concluir a pesquisa com base nesses dados, Joe Tsein afirmou que o gene parece ser parcialmente responsável pela capacidade de sobrevivência em ambientes hostis ou de mudanças bruscas. A hipótese de que todos os realizadores possuam uma capacidade maior do gene Nr2b pode ser levada em conta.

Não é possível afirmar que os figurantes da lista da Forbes são ao todo detentores do Nr2b, privilegiados da genética. Podem ser apenas hábeis negociadores ou visionários, mas ainda assim, a explicação sobre como ter a capacidade para fazer tamanha diferença ou obter resultados disparadamente à frente da massa não será possível, infelizmente, encontrar nos livros da faculdade e muito menos se explicar em uma obra de mestrado. Está além do que se pode obter cursando a universidade. Daí tamanho desafio.

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