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Autor:
Alcides Leite
Qualificação:
É economista e professor da Trevisan Escola de Negócios
Site:
www.trevisan.edu.br
Data:
14/11/2012
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Como Sair da Armadilha do Baixo Crescimento

CVários analistas econômicos têm afirmado que, se o PIB voltar a crescer no ano que vem, será necessário aumentar a taxa de básica de juros para segurar a inflação dentro do intervalo da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional (IPCA anual até 6,5%), considerando que outras principais variáveis macroeconômicas, como dólar e taxa de investimento, sejam mantidas nos níveis atuais.

É bastante provável que estes analistas estejam certos. Com a atual taxa de investimento em torno de 19% do PIB e dólar em torno de R$ 2,00, se o PIB subisse para algo como 3,5% ao ano, a inflação poderia superar o teto da meta, de 6,5%, e então os juros precisariam aumentar.

Isto ocorre porque na economia as variáveis macroeconômicas estão interrelacionadas. Quando mexemos em uma, as demais serão influenciadas. Pensando nisto, num mero exercício de ficção, montei o quadro abaixo, que mostra uma combinação de possíveis variações do PIB, inflação, juros reais, dólar e taxa de investimento. Embora os números colocados sejam fictícios, eles guardam alguma relação com a realidade pretérita.



A primeira linha do quadro mostra a situação que deve ocorrer em 2012. As linhas seguintes mostram possíveis combinações das demais variáveis, no caso de mantermos o crescimento médio do PIB em torno de 3,5% e 5,0% ao ano, num período prolongado.

Vemos na linha do cenário 1 que se o crescimento do PIB girasse em torno de 3,5%, a taxa básica real de juros permanecesse na ordem de 2,0% ao ano, o dólar continuasse próximo a R$ 2,00  e a taxa de investimentos da economia não ultrapassasse os atuais 19% do PIB, seria necessário aceitarmos uma inflação anual igual ou maior que 6,5%.

No cenário 2, com crescimento do PIB de 3,5%, inflação de 4,5%, taxa de câmbio de R$/US$ = 2,00 e taxa de investimento de 19%, os juros reais precisariam ser alçados à casa dos 4,0%.

Nos cenários 3 e 4, com crescimento do PIB, juros reais e inflação mantidos na casa dos 3,5%, 2,0% e 4,5%, respectivamente, vemos que, se a taxa de investimentos continuar em torno de 19%, o Real teria que ser valorizado para segurar a inflação, e se o dólar ficar em R$ 2,00 a taxa de investimentos teria que subir para o patamar de 22%.

O cenário 5, que parece ser o desejo da maioria dos analistas econômicos, e que apresenta um crescimento do PIB de 5,0%, taxa real de juros de 2%, inflação de 4,5% e dólar valendo R$2,00, somente seria possível se a taxa de investimentos subisse para 25% do PIB.

Claro que as combinações mostradas foram elaboradas sem uso de nenhuma ferramenta econométrica (usei apenas o feeling pessoal). De qualquer forma, vemos que a variável fundamental para escapar da armadilha que impede o aumento do PIB por um período prolongado é a taxa de investimento. Sem aumentarmos a taxa de investimento, não há como crescer de forma sustentada.

Ao manter a taxa básica anual real de juros em torno 2,0%, ainda que com uma inflação mais alta, sem mexer muito no dólar e com crescimento do PIB em torno de 3,5%, é possível elevar a taxa de investimentos. Na medida em que cai o custo relativo do financiamento da dívida pública e em que os rendimentos da aplicação em títulos públicos percam a atratividade, o capital público e privado tende a migrar para os investimentos.

Mesmo que o esforço por manterem baixas as taxas de juros exija algum nível de artificialidade, e, portanto, algum risco de desequilíbrio, é fundamental aproveitar o atual momento de crise na economia internacional para escapar da armadilha do baixo crescimento. É um situação em que a relação risco-benefício vale a pena. 

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