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Autor:
Milton Mira de Assumpção Filho
Qualificação:
Diretor da Editora M. Books e membro da Academia Brasileira de Marketing
E-mail:
[email protected]
Data:
14/12/04
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Novas Estatísticas, Velhos Problemas

Índice de leitura continua baixo: brasileiro compra menos de dois livros/ano

No item relativo à educação, a pesquisa "Indicadores de Desenvolvimento Sustentável" do IBGE, recém-divulgada, apresenta cenário preocupante quanto à alfabetização, que avançou de 82,8%, em 1992, para 88,2%, em 2002. Isto significa que cerca de 12% dos brasileiros jovens e adultos continuam analfabetos, e os números não incluem o chamado analfabetismo funcional, cujo índice torna o problema ainda mais grave.

Nota-se que, entre 1992 e 2002, o avanço na erradicação do analfabetismo, apesar dos reconhecidos esforços governamentais no período, não atingiram inteiramente os resultados desejados pela sociedade brasileira. Na década focada, houve alguns marcos, como a transformação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) no maior do gênero no mundo, com a distribuição anual de 120 milhões de exemplares a alunos de baixa renda; sanção, em 1996, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), um avanço na reordenação do ensino; criação do Enem, contando pontos para o vestibular, e do "Provão", ambos estimulantes à qualidade; número recorde de matrículas na rede pública; oficialização da educação infantil, ampliando o universo de crianças na escola.

A pesquisa condiz com a realidade e tem o aval de outros estudos, como o da Câmara Brasileira do Livro (CBL) que indica, no mesmo período focado pelo IBGE, forte oscilação no número de livros vendidos. Em 1992, por exemplo, foram 159,67 milhões. Em 1998, houve um pico de 410,33 milhões e, depois, intermitência entre quedas e aumentos, mas com tendência de redução. Em 2003, o volume de vendas, de 255,83 milhões de unidades, voltou ao patamar de 1993. Mais da metade é constituída pelas aquisições do governo, cuja redução, em 2003, determinada por mudanças na política educacional, refletiu-se claramente no resultado geral de queda.

O mercado fora do eixo das compras governamentais mantém-se estável. O índice de leitura não avança. Hoje, considerando os números de 2003 e a atualização demográfica do IBGE, de 180 milhões de habitantes, chega-se à ínfima média de 1,42 livro por brasileiro/ano, inferior até mesmo à de algumas nações latino-americanas e muito distante dos índices de sete ou oito exemplares anuais por cidadão do primeiro mundo. Ou seja, é ainda restrito e estratificado no País o acesso ao ensino de qualidade, à cultura e ao conhecimento.

Além de números, o estudo do IBGE contém projeção pouco otimista da profissional responsável pela análise da pesquisa, a geógrafa Denise Kronemberger: "A queda do analfabetismo ainda é muito lenta e, se continuar nesse ritmo, nem em 20 anos vamos conseguir erradicá-lo". As estatísticas são taxativas, indicando ser a inclusão educacional um desafio persistente. Contudo, não demonstram o porquê de os inegáveis esforços das políticas públicas produzirem resultados aquém do esperado. É sobre esta questão que devem debruçar-se autoridades do ensino, ong´s, educadores e especialistas. Desvendar o mistério é crucial para o desenvolvimento brasileiro.

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