.
Autor:
José Paulo Graciotti
Qualificação:
Sócio da GRACIOTTI Assessoria Empresarial
Site:
www.graciotti.com.br
Data:
16/10/2016
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

Tendências do Negócio Jurídico

Participei da ILTACON 2016 (International Law Technology Association Conference) que contou com 3.500 participantes (entre palestrantes, ouvintes e exibidores) e abordou como tema principal “Embrace the Change”!

Esses números servem apenas para demonstrar aos envolvidos no negócio jurídico no Brasil a dimensão e a preocupação do mercado internacional em relação às mudanças brutais que o ambiente jurídico está sendo submetido recentemente. Como não pode deixar de ser, nosso mercado tupiniquim segue à risca as tendências mundiais e, cada vez mais, o “gap” de tempo entre as tendências e acontecimentos internacionais está se estreitando.

Esse mercado (internacional) está sendo sacudido por várias forças, às quais não estava tradicionalmente acostumado a enfrentar, tais como: pressão financeira de clientes, mercado cada vez mais competitivo, maior segmentação do próprio mercado, queda significativa e consistente no faturamento / recebimento e, por fim, uma mudança significativa no comportamento da sociedade com a “consumerização” de todos os serviços e produtos causados pelo ‘efeito iphone’ no mundo (onde tudo precisa ser fácil e intuitivo).

Para enfrentar esses desafios, torna-se premente a redefinição total do modelo atual de negócio que, por acomodação é muito ineficiente e displicente. A aceleração do desenvolvimento tecnológico e o aparecimento das chamadas tecnologias disruptivas estão, por um lado, colocando mais pressão nesse caldeirão, mas estão oferecendo (para quem tiver a visão preparada) uma opção bastante interessante para se adaptar, tornar mais eficiente e de se preparar para as mudanças futuras próximas, obtendo assim uma vantagem competitiva no mercado.

Além da adoção das mudanças tecnológicas, os negócios precisarão ser geridos de outra forma e por pessoas com mentes abertas, com afeição ao novo, com alta resiliência e sem medo de experimentar, errar e aprender. Só assim as empresas (e os escritórios de advocacia) estarão preparadas para as mudanças que o futuro reserva.

No campo tecnológico, destacam-se várias tendências e todas elas baseadas fortemente no conceito de Inteligência Artificial (“AI”) que está presente em soluções de Automação de Conhecimento, Pesquisas Legais, Análise de Contratos, e-Discovery e Enterprise Search; por fim em sistemas de previsões e prognósticos. Das 212 empresas presentes (produtoras de softwares, equipamentos e serviços), 35 apresentaram soluções envolvendo Inteligência Artificial em algum componente, destacando-se:

1 – Uso cada vez mais real e prático (deixou de ser exercício de futurologia) do conceito de aprendizado computacional, mais conhecido como “machine learning”, onde algoritmos matemáticos são desenvolvidos para tarefas especificas e que têm a capacidade de se autoajustar, analisando seus próprios resultados e tornando-se cada vez mais precisos à medida que o tempo passa.

2 – Utilização intensiva da gestão do conhecimento (KM) de forma mais abrangente e envolvendo o conhecimento interno (explicito e tácito), os dados estruturais (com utilização de ferramentas de BI), os dados e informações da concorrência e do mercado (BigData); e mais recentemente as estatísticas de Cortes, juízes, julgamentos e teses.

3 – Ferramentas cada vez mais sofisticadas (envolvendo Inteligência Artificial) no combate aos crimes cibernéticos, os chamados “Cyber Attacks”, que já representam prejuízos de bilhões de dólares no mercado americano.

4 – Adoção crescente do conceito de “data driven model” onde o negócio é gerido com auxílio de sistemas focados em: relatórios, estatísticas e análise dos dados estruturais das empresas. Nessa linha, a chamada governança da informação ganha cada vez mais espaço na governança corporativa, evoluindo de uma ferramenta de utilização do CIO, CKO ou COO para a ferramenta mais importante do CEO, sendo a base para decisões operacionais e estratégicas.

5 – Algoritmos de previsão ou prognósticos desenvolvidos na Michigan State University já são capazes de prever com 70% de probabilidade as decisões da Suprema Corte Norte Americana e com 71% de probabilidade de acerto os votos individuais dos juízes!

O software de inteligência cognitiva Watson, da IBM, desbancou em 2011 os dois campeões anteriores do programa de televisão “Jeopardy!” e demonstrou o poder da Inteligência Artificial. Desde sua aparição, sua performance já evoluiu em mais de 2.400% , foi a mais importante tecnologia cognitiva trazida para o mundo jurídico e tem sido o incentivador de dezenas iniciativas (menos custosas) desenvolvidas para soluções específicas no mundo jurídico como as citadas anteriormente.

A tendência na utilização da inteligência artificial no mundo jurídico pode ser avaliada pelo gráfico abaixo, onde é mostrada a estatística das respostas a uma das perguntas pertencentes à pesquisa realizada em março / abril de 2015 pela Altman Weil, Inc., direcionada a 797 “Managing Partners” de escritórios americanos (com mais de 50 advogados) e respondida por 320 deles.

.


Todos os Direitos Reservados.