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Autor:
Alcides Leite
Qualificação:
Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e professor do Centro de Conhecimento Equifax
Email:
[email protected]
Data:
17/01/06
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O Custo do Fundamentalismo Matemático 

A tradicional escola neoclássica da economia parte do princípio de que o Ser Humano é um animal racional que busca a cada ação maximizar a sua função utilidade. Isto é: busca sempre escolher a alternativa que possa lhe trazer maior bem-estar, maior satisfação. Este Ser altamente racional e previsível, o chamado “homo economicus”, é o agente principal do sistema econômico. Seu comportamento e suas reações sustentam toda a teoria econômica.
 
Recentemente, porém, tem surgido nas principais universidades americanas uma nova corrente, que podemos denominar de economia comportamental ou “behavioural economics”. Ela assume que o Ser Humano nem sempre reage racionalmente. Isto é, cada um pode reagir de forma diferente perante uma dada situação, e uma mesma pessoa pode reagir de formas distintas quando exposta várias vezes à mesma situação.
 
O principal QG desta nova escola econômica está na famosa Universidade de Harvard, liderado pelo professor Stephen Marglin, que utiliza noções básicas da psicologia como ponto de partida para o estudo do comportamento dos agentes econômicos. Muitas dessas idéias são baseadas nos trabalhos dos “Prêmio Nobel de Economia”, o psicólogo Daniel Kahneman e seu auxiliar, já falecido, Amos Tversky, que estudaram as várias maneiras com que as pessoas percebem a relação risco-retorno, ou custo-benefício de suas escolhas.
 
Tudo isto parece óbvio. No entanto, até recentemente, nada disto era considerado, e por isso muitos erros foram cometidos por executores de política econômica baseada nas idéias dos economistas. Quando o modelo matemático proposto não se adequava à realidade, era a realidade que estava errada e não o modelo, afirmavam.
 
A constatação de que o componente psicológico desempenha um papel importante na economia nos permite afirmar que o crescimento econômico depende da crença dos agentes econômicos neste crescimento. Somente despertando o chamado “animal spirit” do consumidor e do empresário é possível fazer a economia crescer. É evidente que é preciso criar as condições materiais para o crescimento. Porém, estas condições dependem de investimentos, que por sua vez dependem de confiança.
 
Temendo uma escalada da inflação, o BC aumentou a taxa básica de juros no segundo semestre do ano passado e no primeiro semestre desse ano. Apesar de os principais indicadores do nível de atividade terem dado sinais claros de desaquecimento econômico, o Copom não deu ouvidos e manteve a taxa Selic elevada por muito tempo. Somente em Setembro as taxas começaram a recuar. Ainda assim, num ritmo bastante lento.
 
O BC utiliza para análise, além de outros vários indicadores, o modelo matemático do cálculo do PIB real em relação ao PIB potencial. Quando o PIB real ameaça atingir o limite da capacidade de produção da economia, o PIB potencial, a autoridade monetária tende a elevar as taxas de juros. Estudos da Fiesp, no entanto, mostram que, com muito pouco investimento, os empresários podem aumentar bastante a capacidade de produção de suas empresas. Inclusão de turnos extras trabalha em finais de semana, contratação de novos funcionários e eliminação de pequenos gargalos na linha de produção podem representar aumentos de até 30% na capacidade produtiva.
 
O desconhecimento da capacidade de reação do produtor, de seu “animal spirit”, levou o BC a exagerar no aumento das taxas de juros. O resultado do PIB do terceiro trimestre confirma que o BC errou na mão. Uma queda de 1,2 % não pode ser considerado um fenômeno sazonal ou apenas um efeito de acomodação. Agora, não dá mais para tirar a diferença. Em 2005, o crescimento da economia brasileira já está comprometido. Pelo visto, a nova ciência econômica, “behavioural economic”, ainda não chegou nos corredores do Banco Central.


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