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Autor:
Alfried Plöger
Qualificação:
Presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Associação Brasileira das Companhias de Capital Aberto (Abrasca)
E-mail:
[email protected]
Data:
17/05/05
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Amarga Coerência

Não há qualquer paradoxo nos dados relativos à colocação do Brasil em dois rankings mundiais: o que mede o tamanho das economias; e o que dimensiona o PIB per capita. Os relatórios foram divulgados, respectivamente, pelas consultorias GRC Visão e Global Invest, com base em números do IBGE. No primeiro, o País aparece como a 12ª maior economia do Planeta, mas no segundo, ostenta lamentável 76º lugar. A comparação reforça a certeza de que um dos maiores problemas da Nação, nem sempre lembrado, é a péssima distribuição de renda.

Em estudo divulgado em 2004, ao qual parece não ter sido conferida a devida atenção, o IBGE já realizava cruenta radiografia do perfil da distribuição de renda no Brasil. Em "Estatísticas do Século 20", o organismo demonstrava que, apesar de a riqueza nacional ter sido multiplicada por 100 naqueles 100 anos, em 1960 os 10% mais ricos detinham renda 34 vezes maior do que os 10% mais pobres. Em 1990, trinta anos depois, a diferença já chegava a 60 vezes.

Num cenário de tanta estratificação socioeconômica, o Brasil fica muito mais vulnerável, pois toda a estrutura produtiva e de serviços torna-se dependente de um mercado com claros limites de expansão e também das exportações. Assim, a distribuição de renda é um problema a ser enfrentado e minimizado. Trata-se de uma questão estrutural de grande profundidade, desafio que precede as agruras dos juros e impostos elevados, do câmbio sobrevalorizado e dos demais itens funcionais do quotidiano da economia.

Os setores de atividades, alguns com maior intensidade, sentem os efeitos da concentração de renda. Um deles é o mercado editorial. Os últimos dados disponíveis da pesquisa anual realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), indica que, em 2003, foram vendidos 255,83 milhões de livros no País. Dividindo este número pelos 180 milhões de habitantes indicados pelo IBGE, chega-se à ínfima média de 1,42 livro por brasileiro/ano, índice inferior aos de países da própria América Latina e drasticamente menor do que os verificados em nações como Estados Unidos, França e Alemanha, onde a relação é superior a sete por um.

Cabe, aqui, uma ressalva: as estatísticas incluem os cerca de 120 milhões de exemplares adquiridos todos os anos pelo Governo Federal no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Desconsiderando este apreciável volume, distribuído nas escolas públicas para alunos de baixa renda, fica reduzido a quase metade o número de livros efetivamente comprados, de forma espontânea, pelos consumidores brasileiros.

A indústria gráfica brasileira, que tem no mercado editorial o seu principal segmento de clientes (em 2004, o setor faturou cerca de R$ 16 bilhões, dos quais aproximadamente R$ 4 bilhões, ou 25%, são relativos à impressão de livros, revistas e jornais, excetuando-se veículos com gráficas próprias), poderia contabilizar participação no PIB nacional sensivelmente maior do que o renitente índice de 1%. Em outros países, em especial do Hemisfério Norte, onde a distribuição de renda não é tão díspar, o setor gráfico chega a 3% ou 4% do PIB.

Fica muito claro que, num país onde participar dos benefícios da economia é um privilégio, o consumo de determinados itens ainda é considerado supérfluo. Infelizmente, a cultura, a leitura e o conhecimento enquadram-se nessa classificação. Este sim é um grande paradoxo, considerando que a informação é o bem mais precioso desta era e fator decisivo ao desenvolvimento de uma nação.

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