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Autor:
Sérgio de Oliveira Luiz
Qualificação:
Diretor da Average, empresa especializada no desenvolvimento de softwares para comércio exterior
E-Mail
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Data:
17/06/04
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O Brasil, o Algodão, a OMC e a China

O trabalho feito nos últimos anos para inserção do algodão brasileiro no exterior está dando certo. Os agricultores já estão comemorando o parecer favorável obtido na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios concedidos pelos Estados Unidos aos seus produtores de algodão, e já conquistamos um significativo espaço em um dos maiores mercados algodoeiros do mundo, a China.

A China aumentou significativamente sua demanda por esta matéria-prima. Antes, importava de 400 a 500 toneladas do insumo e hoje já dobrou sua necessidade interna, devido ao crescimento da economia local, para pelo menos US$1 milhão. Agora, esse é um dos principais destinos do algodão verde-amarelo, que também será destinado a mercados do Extremo Oriente, União Européia e América Latina.

No caso das negociações com a China, o Brasil está investindo todas as cartas possíveis. Já foi montado o Conselho Empresarial Brasil-China, que espera aproximar os dois países e estabelecer uma corrente de comércio (importações e exportações) que poderá chegar à casa dos US$ 10 bilhões até o final de 2004, um crescimento de mais de 50% em comparação à 2003.

Essa primeira vitória que tivemos na OMC será um importante marco na história diplomática brasileira. Quebramos com um subsídio extravagante que vinha sendo aplicado de maneira completamente fora das regras internacionais de comércio do setor e que distorce o mercado internacional. Para termos uma idéia do impacto que as decisões americanas tiveram no segmento é só lembrar que os fortes aumentos nos subsídios fizeram com que a participação dos EUA saltasse de 17% para 42% do mercado mundial de algodão nos últimos seis anos, uma situação que deslocou os principais exportadores, muitos deles países em desenvolvimento como o Brasil.

Nesse sentido, trata-se de um bom momento para acreditar que já conseguimos nos recuperar de dois grandes golpes que sofremos há algum tempo. A alta tarifa de importação de 55% praticada no final dos anos 80, que protegia o mercado doméstico das importações e que depois foi alterada para zero em 1990; e o aumento dos custos internos para produção devido à dificuldade para combater a praga do bicudo, que atacava nossas plantações.

Por outro lado, devemos levar em conta que o primeiro passo também foi possível porque os produtores deram um salto incrível nos últimos anos: é esperado colher uma safra atual de mais de um milhão de toneladas. A cultura de algodão é a que mais cresce no Brasil, cerca de 48% anuais. Trata-se de um cenário positivo frente à época em que chegamos a importar quase US$1 bilhão em algodão por ano, período que já foi deixado para trás graças à assistência de vários órgãos, como a Embrapa, para ajudar os produtores a ampliar a área plantada, investir em tecnologia e em modernização. Resultado: a produção explodiu. Em 2004, as exportações devem render US$650 milhões ao país, um volume de cerca de 500 mil toneladas, retorno 400% superior ao de 2003, em que os embarques nos renderam somente US$130 milhões e 175 mil toneladas, segundo a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão).

O dólar em alta e a qualidade do produto brasileiro favorecem o país. O aumento das compras por parte da China também é um ponto positivo, sem falar no benefício causado pela ausência de um dos maiores produtores de algodão do mundo, a Austrália, por conta das secas nas lavouras que reduziram sua participação no mercado de 14% para 6%. O cenário não poderia ser melhor para o Brasil. Conquistamos grande parte do mercado australiano e estamos tornando nosso produto cada vez mais competitivo.

Não é à toa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está na China com uma comissão incluindo vários setores. O que conta com maior número de representantes é o de agronegócio, com 47 empresas, correspondendo à 8,5% do total.

Satisfeitos com o primeiro resultado obtido do relacionamento entre o Brasil, o algodão, a OMC e a China, agora vamos junto à Austrália e à Nova Zelândia para um novo painel. O objetivo é questionar os subsídios europeus à exportação do açúcar, que pode chegar à US$500 por tonelada em um momento que o produto é vendido por US$150 e em que o Brasil é o segundo maior produtor e o mais competitivo.

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