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Autor:
João Baptista Sundfeld
Qualificação: Economista e consultor da Sundfeld & Associados - Gestão Empresarial
Site: www.sundfeld.com.br
Data:
18/05/06
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A Deseducação Patrocinada na Televisão

Um meio de comunicação de massa, com concessão do governo para funcionar, pode ser agente de deseducação de um povo? Por que as empresas patrocinam programas de má qualidade e por que a sociedade esclarecida não se insurge contra isso?

A indústria do entretenimento, no Brasil, tem demonstrado total insensibilidade, devido à sua incontestável má influência sobre seu público e o pior, é patrocinada para assim agir por empresas que pagam por seus programas.

Neste artigo, trataremos de alguns aspectos relevantes dessa influência, mal percebida ou utilizada com finalidades ideológicas não confessadas. Felizmente, em nosso regime democrático, temos o direito de expressar opiniões livre de censura. Não obstante, a liberdade de expressão não nos permite agredir nossa língua e também nossos valores morais e éticos.

Os acontecimentos recentes envolvendo o jornal Morgenavisen Jyllands-Posten, na Dinamarca, que publicou uma charge do profeta Maomé com um turbante em forma de bomba, desencadeando violentas reações no mundo árabe-muçulmano, mostra o que o mau uso da liberdade pode causar. Evidencia-se que há sempre limites e fronteiras a serem obedecidas para cumprir e respeitar as leis, convenções, princípios, valores, gostos e normas de educação de um povo.

Infelizmente, o que assistimos na maioria dos programas apresentados por nossas redes de televisão, constitui demonstrações irrefutáveis da falta de respeito com o telespectador e levam a liberdade de expressão aos limites do mau gosto. Nossa crítica nada tem a ver com pruridos moralistas, mas identifica os malefícios causados a grande parte de nosso povo, cujo nível de escolaridade ainda é pequeno e, em sua maioria, tem apenas a televisão como opção de cultura e lazer.

Os programas de má qualidade, aliados à pouca capacidade crítica das pessoas que os assistem, traz conseqüências negativas como, de fato, temos visto. Não se trata de limitar ou censurar o que pode ou não ser mostrado, mas sim de apoiar a decisão de levar aos espectadores programas culturais e educativos baseados em critérios de escolha que elevem o nível de cultura e interesse para assuntos importantes que os beneficie, criando condições para que possam ser incluídos, numa sociedade mais evoluída.

É perfeitamente aceitável que parte da programação seja preenchida com programas humorísticos e de entretenimento. Todavia, a guerra por audiência não pode ser estimulada apenas por critérios de número de pontos no IBOPE, se considerarmos que a maioria das pessoas que está diante do aparelho de TV, como já dissemos, não tem condições para estabelecer critérios mínimos para julgamento dos programas. O resultado só pode ser o empobrecimento cultural e educacional da população o que, aliás, já é notório e que foi comprovado por pesquisa CNI / Ibope, publicada no jornal “O Estado de S.Paulo” de 08.09.05. A conclusão do trabalho revelou que 75% da população não consegue ler nem escrever satisfatoriamente. É o chamado analfabetismo funcional. Parece-nos que essa grande parcela da população, estimada em 135 milhões (75% de 180 milhões), aceita, e até prefere, programas de nível inferior de qualidade.

Outro aspecto é o mau uso da língua portuguesa, como o emprego de modismos gramaticalmente errados. Freqüentemente, ouvimos expressões como “eu vou estar transferindo para...” ou “eu vou estar registrando sua queixa”, sem atentar para a má formação da frase com o uso excessivo do gerúndio (o já conhecido “gerundismo”). Tudo indica que a utilização inadequada essa forma verbal reflete a incapacidade de substituí-la por outra, traduzindo, assim, o precário conhecimento do idioma. Há programas, nos quais o vernáculo é constantemente agredido pelos ou pelas apresentadoras, com o uso excessivo de expressões como “ô meu, brincadeira, ô loco, meu irmão, mano, cara, falô, ai galera” e outras expressões por eles utilizadas naturalmente, como se fossem legítimas em qualquer contexto. É a deseducação potencializada pela enorme audiência e que vai diminuindo a capacidade intelectual de discernir o certo do errado.

Considerando que a liberdade de expressão é um bem precioso a ser preservado, é que, em nossa opinião, precisamos cobrar das pessoas que têm a possibilidade de mostrar o que é saudável e que eleva o espírito, para que mudem de atitude e passem a oferecer a seu público uma programação de melhor nível, na qual as pessoas sejam respeitadas, as virtudes enaltecidas e a família mostrada como a célula principal da sociedade, outro fator bastante banalizado em novelas, filmes absolutamente inadequados a determinada faixa etária de telespectadores e em programas humorísticos.

Faz-se necessária a inclusão de programas culturais de bom nível em todas as emissoras, tanto nos espetáculos teatrais, musicais, como nas demais manifestações artísticas. Em nossa opinião, não há necessidade de limitações legais, mas para o bem de nossa população, sugerimos que a sociedade esclarecida se mobilize e exija a substituição de programas em que imperem a violência e o mau gosto, por outros de melhor nível. A sociedade precisa, também, cobrar das empresas patrocinadoras, que exijam melhor qualidade dos programas pelos quais estão pagando. Afinal, esta é uma atitude que faz parte da sua tão decantada responsabilidade social. Estas providências, a nosso ver urgentes, ajudarão a modificar o atual estado de coisas a fim de tornar nosso País um lugar melhor para viver.

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