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Autor:
Walter Toledo Silva
Qualificação:
Professor e presidente-fundador do Grupo CEL®LEP, rede de escolas de idiomas
E-mail:
[email protected]
Data:
19/02/05
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Inglês para Todos, Já!

Ao retornar de Haia, na Holanda, em 1907, onde representou o Brasil na Conferência Internacional da Paz, Rui Barbosa foi convertido numa espécie de herói nacional, o "Águia de Haia". Um dos mais importantes brasileiros da história.

Não fosse pela capacidade de defender brilhantemente seus pontos de vista, contribuiu para forjar o personagem, o seu propalado poliglotismo. O baiano, além de diplomata, jurista, jornalista e político, também escrevia e falava fluentemente em inglês, francês e espanhol, e possuia um razoável conhecimento de latim, grego, italiano e alemão. Por esta razão, pôde dispensar intérpretes durante o encontro diplomático, dando-se ao luxo de perguntar a cada interlocutor em que idioma gostaria que falasse.

Recentemente, dois surfistas brasileiros ficaram presos nos Estados Unidos. Por falta de uma correta comunicação na língua escolhida pela globalização, foram acusados de carregar uma bomba na mala. A bomba, no caso, antes de ser um artefato explosivo, era apenas um equipamento utilizado para produzir pranchas de surfe. Ou seja, disseram bomb quando queriam dizer pump.

Tomemos por base esses dois casos. No primeiro, encantando a todos, nosso "Águia de Haia", Rui Barbosa, discursando em inglês, concedendo entrevistas em francês, espanhol, português e alemão. De outro, os rapazes que não conseguiram sequer livrar a própria pele… Imaginem se fossem diplomatas do Itamaraty, recém-saídos do Instituto Rio Branco, depois da dispensa da língua inglesa para seguir carreira. Poderiam ter causado um conflito internacional.

Apesar do governo federal ter entrado pela contramão, tornando não obrigatória a língua inglesa para ingresso na carreira diplomática, o mundo globalizado continua adotando o inglês como idioma mais falado nas comunicações entre as nações. Um bilhão e duzentas mil pessoas no mundo têm o inglês como segunda língua. Dessas, 20 milhões são brasileiros.

Logicamente, não podemos esperar que todos sejamos tão habilidosos e brilhantes como o foi Rui Barbosa, mas… ao invés de tentar democratizar por baixo, o governo poderia fazer como o Chile, que implantou o projeto "Inglês Abre Portas" para elevar a qualidade do ensino da língua nas escolas públicas.

Para tornar o segundo idioma menos elitista, como apregoa nosso governo, seria mais aconselhável e promissor para Brasil tornar o ensino de qualidade acessível a todos os cidadãos. Por que não formar uma população bilíngüe? Seria ótimo para a cultura do País, que tem mostrado uma vocação nata para as exportações: sejam de cérebros, produtos, serviços, música, supermodels ou jogadores de futebol.

Quando nossos atuais governantes acordarão para a realidade e aceitar a democratização da língua de Shakespeare como ferramenta de comunicação global?

Como vamos nos projetar lá fora se trancarmos a comunicação com nossos parceiros? Qualquer marqueteiro de primeira viagem sabe que para ter sucesso é preciso falar a língua do cliente. E nosso governo, querendo ou não, por um longo tempo ainda, essa língua será o inglês.

É sabido e comprovado que a criança aprende mais rapidamente que o adulto. Quanto antes aprender, mellhor para o conhecimento e para a fluência. Deveríamos, sim, seguir a experiência dos países de ponta, cujas populações aprendem desde cedo mais de um idioma. Só para se ter uma idéia, na Finlândia 50% da população fala o inglês corretamente; na Holanda e na Suécia, o índice sobe a 75%; e entre os dinamarqueses, 80% expressam-se tão bem quanto os nativos de ascendência britânica.

Melhorar o ensino na rede pública é que faria a diferença! Ter o inglês no currículo escolar, não apenas para cumprir formalidades, mas para ensiná-lo e aprendê-lo como instrumento de comunicação. Preparar os nossos jovens para os desafios do mundo globalizado e sem fronteiras deixaria a marca do Brasil como uma nação líder, que tem orgulho de sua cultura e que investe em seu povo.

Tenho saudades da esquerda combativa, que se opunha às idéias tacanhas de políticos retrógrados, exigindo aos brados o "Ensino bom e de qualidade para todos os brasileiros"! Mas ainda é possível inverter o jogo nesta metade do segundo tempo, para parafrasear os fanáticos desta "terra do futebol". Vamos investir em nossos estudantes, para que a seu tempo, eles façam deste o "País do Presente". O futuro já chegou e o único caminho da prosperidade é o do conhecimento. Como diria o próprio Rui Barbosa, "a sabedoria não ocupa lugar no espaço!"

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