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Autor:
Jorge Félix Donadelli
Qualificação: Presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca
Site: www.sindifranca.org.br
Data:
19/04/06
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Uma Pedra no Sapato

No ano de 1980, a cidade de Franca vivia a plenitude de seu progresso. O setor calçadista, imponente por sua boa performance, se projetava para grandes investimentos. O comércio crescia, as escolas e universidades aumentavam e não davam conta da demanda de vagas, sobretudo para alunos interessados no curso de inglês, por conta dos negócios de exportações. No embalo daquele desenvolvimento, a cidade chegou a dobrar sua população em dez anos. Alguns aspirantes à prefeitura chegaram a calcular que o próximo mandatário, até o final de sua gestão, administraria a cidade com seiscentos mil habitantes. Hoje são 320.000!

Enquanto as conjecturas, na cidade como um todo, eram das mais otimistas, os capitães das indústrias exibiam projeções e, entre elas, uma pesquisa da Unesco que previa o Brasil, em trinta anos, como o maior exportador de calçados finos do mundo. Franca, como a líder em calçados masculinos, da melhor qualidade, seria a legatária natural do parque fabril italiano.

O estudo científico da Unesco antevia, próximo a 2010, que a economia mundial cresceria e os consumidores de calçados da classe média alta deveriam se aprovisionar dos produtos brasileiros. Assim, o Brasil exportaria calçados finos e importaria produtos populares de países do terceiro mundo. Talvez da Nigéria, Índia ou mesmo da China.

As previsões eram animadoras, mas as políticas dos governos nada ajudaram desde então. O setor calçadista, notadamente de Franca, pertinaz, vencia seus obstáculos, como que fazendo a lição de casa, tudo fez para que as previsões da Unesco se cumprissem. Apesar dos planos de governo e do enfraquecimento do setor, a qualidade dos calçados de Franca melhorou a ponto de se comparar com a dos melhores dos italianos. A estrutura do setor é, hoje, incomparável àquela do passado. Uma melhora na matéria-prima, nosso sapato estaria pronto para se equiparar aos melhores do mundo. Uma política cambial inteligente, nossos preços seriam competitivos e pela qualidade dos produtos, não teríamos dificuldades em vencer a concorrência.

Como embasamento de nossa argumentação, poderíamos aludir o bom desempenho do setor no ano de 2004, quando as indústrias se expandiram e lançaram seus produtos em mais de cinqüenta países que, até então, só compravam da Europa. Era o sinal evidente da recuperação de nosso parque.

O fiasco da política cambial praticamente anulou todo o esforço de anos, perpetrado pelo setor exportador.

O setor que mais emprega e distribui rendas tem o orgulho da cidade, como Franca, que não tem grandes riquezas, mas não tem miséria, não tem favelas e quase não tem pedintes. Aos olhos desse setor, dissipam-se as esperanças que repousavam na profecia da Unesco e que se cumpririam até o ano de 2010 - o Brasil seria o maior exportador de calçados finos do mundo. Aparece uma pedra no caminho, uma pedra no sapato dos fabricantes. Pedra que se intitula política cambial ou política dos juros escorchantes.

O Presidente Lula bem poderia afastar essa pedra de nossa trajetória, pois -certamente - não pretende passar para a história como o presidente que inviabilizou a indústria de calçados e a exportação do país.

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