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Autor:
Maria Alice de Castro Rocha
Qualificação:
Doutora em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano e professora das Faculdades Integradas Rio Branco
E-Mail
[email protected]
Data:
19/10/04
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A Formação do Professor na Nova Cultura Global

A exemplo do que ocorreu em todos os segmentos de atividades, o ensino e a formação dos professores também precisam ser analisados e melhor compreendidos no contexto da globalização e das conhecidas transformações que suscitou, dentre elas o acesso imediato à informação. Como pontos fundamentais a serem pensados, destacam-se a necessidade de preparar pessoas capazes de lidar com o real e o virtual, a partir de uma apropriação do saber que garanta a identidade com uma cultura própria, a ser respeitada e recriada.

O indivíduo defronta-se com uma nova ordem social, com a qual precisa aprender a conviver e, ao mesmo tempo, dar-lhe, forma porque é algo novo que desponta. Já ao nascer, vê-se imerso num ambiente cultural que lhe apresenta maneiras de ver e lidar com o mundo ao seu redor. A fala, o comportamento do outro, as denominações e os objetos de uso vão apontar para uma dada forma de categorizar as coisas e de lidar com elas. Os gestos são apreendidos, inaugurando-se uma maneira própria de interação entre as pessoas.

O ser humano, para se constituir como tal, precisa viver num ambiente de trocas afetivas, emocionais e culturais. A partir disso, vai criando maneiras generalizáveis de lidar com o mundo, que o vão constituindo cognitiva, afetiva, moral e emocionalmente. Cada cultura tem sua forma própria de mediação para a introdução do ser no mundo e maneiras específicas de lidar com as relações em meio a rituais e crenças peculiares, que vão dando consistência à vida em comunidade.

Atualmente, entretanto, vivemos em uma época de trocas constantes entre as culturas, em meio a uma movimentação de pessoas e de informações. O poderio econômico gera forte pressão sobre tudo isto. As pessoas deslocam-se entre cidades e países em busca de melhores oportunidades financeiras ou mesmo de sobrevivência. São quebradas as construções culturais nas quais estavam imersas e que lhes davam a possibilidade de elaboração de uma estrutura de comportamento. A tecnologia avança, deixando de lado as profissões, há pouco tempo existentes. Inaugura-se, então, a era do conhecimento e do aperfeiçoamento permanente.

O ensino vê-se diante do desafio de dar conta de um conhecimento mínimo necessário para que o indivíduo possa inserir-se numa produção globalizada e participar de uma atualização sem fim. Ao mesmo tempo, ele se defronta com seres privados da imersão numa dada cultura por deslocamento geográfico ou por desvalorização da própria cultura de origem. Vê-se diante de pessoas que trazem misturas de formas de lidar com o mundo, que chegam de todos os lados, mas muitas vezes não trazem a influência consistente de uma intermediação do grupo do qual emergem e que lhes possa ter possibilitado uma identidade, uma crença em si e uma estrutura consistente de comportamento.

O ensino vê-se envolto não mais apenas com a responsabilidade de construir o conhecimento, mas também de valorizar o ser em relação à sua própria cultura; de considerar e respeitar as diferenças e de se empenhar em possibilitar a auto-estima de cada ser e o respeito pelo outro em sua inteireza. A homogeneização dos produtos não pode ser generalizada para a formação cultural dos indivíduos, se desejarmos uma sociedade mais justa e com seres capazes de aprender, de desenvolver uma identidade própria e de compreender e respeitar os direitos e deveres comuns.

A formação de professores, diante disto, deve privilegiar uma construção consistente e teórica que perpasse a reflexão sobre a prática de ensino e a leitura do cotidiano, para que se encontrem novas formas de lidar com esse ser em uma sociedade em vias de construção, des-construção e re-construção. O futuro docente deve ser sensibilizado para perceber e valorizar as diferenças de cada indivíduo, assim como as próprias, buscando formas de construir e expressar o conhecimento.

Na disciplina de Pesquisa e Prática Pedagógica no curso de Pedagogia nas Faculdades Integradas Rio Branco, vimos buscando levar o aluno a uma apropriação de conhecimentos sobre a teoria pedagógica em confronto com a realidade, tendo em vista proporcionar-lhe maior conhecimento do indivíduo que emerge em meio a uma cultura que precisa ser respeitada e re-compreendida em um mundo em transformação.

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