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Autor:
Maria Egia Chamma
Qualificação:
Vice-Presidente de Pesquisa de Mercado POPAI-Brasil e Diretora da Luminas
E-Mail
[email protected]
Data:
20/05/04
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Alerta Geral: Seu Concorrente é a Telefonia Celular

Segundo informações da ANATEL, o número de telefones celulares no Brasil atingiu 49,1 milhões no mês de março, um aumento de cerca de 15 milhões em relação ao mesmo mês de 2003. Senhores, não se esqueçam que somos um país com 180 milhões de habitantes e pouco mais de 40 milhões de lares! De cada 100 brasileiros, 27 têm telefone celular. O pré-pago, como era de se esperar para um país com a renda per capita que temos, responde por cerca de 78% (38,2 milhões) e cresceu cinco pontos percentuais no último ano.

O IBGE apontou que no primeiro bimestre do ano o varejo apresentou aumento no volume de vendas acumulado de 5,56 %, porém nos últimos 12 meses o volume de vendas teve queda de 2, 41% , enquanto a telefonia celular cresceu mais de 40%. Daí, se conclui que boa parte da renda das classes C/D está indo direto para comprar créditos para o cartão e não para alimentação e vestuário. Trata-se de uma questão altamente preocupante para todos os setores que dependem diretamente do consumo do varejo. O alerta deve ser geral! É hora de despertar para a realidade. Nela, vemos vultuosos investimentos em comunicação do setor de telefonia celular, presentes no dia a dia do consumidor, motivando-o a comprar, a usar, a renovar. Isto sem falar na disputa acirrada da telefonia fixa para preservar seu lugar ao sol e seu faturamento.

Enquanto isso, a indústria encontra dificuldades em manter suas margens de contribuição, devido a aumento na carga tributária, dos custos de energia, de matéria prima e de tantos outros, além da dificuldade de negociação com os principais players do varejo. Estes, por sua vez, vem empregando esforços voltados sumariamente à estratégia de preços, submetendo todo um mercado à sobrevivência através de ações pontuais emergenciais.

Vejamos também o segmento de livros. Altamente respeitado enquanto instrumento propagador do aprendizado, da cultura e do lazer. Haja visto o grande sucesso da recém realizada Bienal do Livro em São Paulo. E daí deparamos com um segmento que perdeu mais de 20% de volume das vendas em 2003. Tudo plenamente justificado pela queda do poder de compra e pelo achatamento dos salários decorrente do aumento de tarifas e impostos. Não esquecendo que o crescimento do país em 2003 foi de 0,2%. Mas como justificar tudo isto se a telefonia celular cresceu tanto!

Qual seria a fonte do seu sucesso? Na necessidade que as pessoas têm de se comunicar? No status? Na segurança? Na qualidade da comunicação?

Não se trata de lutar contra a telefonia celular e sim de reconquistar o consumidor. De repensar marcas e produtos, de entender melhor como sensibiliza-lo. É preciso conseguir resgatar o desejo de compra, o encantamento que desperta, que dá vida, que renova, que gera investimentos, crescimento, equilíbrio.

É preciso parar de enxergar com os olhos do imediatismo e acreditar que é possível conquistar novamente o consumidor brasileiro. Agir para que na hora de planejar o que ele vai fazer com o seu parco dinheirinho, resolva gastar um pouco menos de „créditos‰ para poder consumir algo que ele julgue tão importante quanto o celular e a cervejinha (Será que é coincidência que estão entre os principais anunciantes e com o merchandising de maior destaque no ponto de venda?).

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