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Autor:
Ricardo Patah
Qualificação:
É presidente da UGT
e-mail:
www.ugt.org.br
Data:
20/05/2009
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Crise de emprego agora é ameaça direta à nossa economia

Pesquisas divulgadas pelo Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – apontam a perda de mais de 600 mil postos de trabalho desde dezembro do ano passado. Até março perdemos 750 mil vagas, segundo o Dieese. Descontando a leve recuperação de cerca de 100 mil novos postos de trabalho registrados em abril/maio, ainda temos um saldo negativo com a perda de 600 mil vagas em menos de quatro meses.

Além disso, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que o nível de emprego no país deverá retroceder aos patamares de 2007. “Estamos retrocedendo dois anos", disse Meirelles durante o 21º Fórum Nacional, no BNDES.

Um retrocesso de dois anos preocupa, principalmente, diante da pressão no mercado de emprego gerada pela chegada ansiosa de jovens em busca de oportunidades de sobrevivência.

Esse cenário configura para a UGT (União Geral dos Trabalhadores) que ensaiamos, muito timidamente, a saída para a crise financeira global e entramos de cabeça numa crise de emprego “extremamente preocupante”, até mesmo para a frieza de análise do ministro Henrique Meirelles, segundo declarações que fez à Folha.

De acordo com dados do IBGE, o desemprego atingiu 9% em março. Em 2008, fechou em 7,9%, ante 9,3% em 2007. Estatisticamente já vivemos a situação de 2007, o que significa um sinal de alerta que deve (ou deveria) mobilizar todos os agentes econômicos brasileiros preocupados com o que resta de vigor do nosso mercado interno, que passa obrigatoriamente pela capacidade de consumo da massa assalariada.

A UGT tem insistido na seriedade desta crise de emprego e vem apelando ao governo federal para a ampliação imediata das parcelas de seguro desemprego. Atualmente, cerca de 103 mil trabalhadores que foram demitidos da indústria metalúrgica, mecânica, têxtil, química, automobilística e da borracha recebem duas parcelas adicionais do seguro-desemprego.

A UGT reivindica a extensão do benefício para as demais categorias, pois a atual crise de emprego afeta indistintamente todos os setores, que têm garantido isonomia de tratamento pela Constituição Federal.

Todos os indicadores que apontam o vigor da economia brasileira, que a faz resistir às pressões negativas criadas pela crise financeira mundial apontam para nosso mercado interno. Que ao longo dos anos, em função das políticas de distribuição de renda, transformou grandes massas de excluídos em consumidores.

Os trabalhadores, como de hábito, gastam todo o seu salário em bens de consumo, na reforma ou construção de suas moradias, na educação e no lazer. O que reforçou nosso mercado interno a ponto de nos ajudar a resistir, ainda que com muito esforço, à crise financeira mundial.

Agora, com a atual crise de emprego é necessária uma ação rápida e organizada de todos os setores da sociedade civil. Para proteger não apenas os empregos, mas o mercado interno. A ameaça aos empregos é contundente, diante da facilidade que as empresas encontram para demitir e passar a conta para o governo.

Estima-se que o país perca por ano mais de R$ 29 bilhões em multas e indenizações trabalhistas, repasses do FGTS e seguro-desemprego, com as demissões sem justa causa, segundo estudos do Dieese. 

Além disso, as demissões decididas arbitrariamente pelas empresas, sem nenhuma preocupação dos seus efeitos sociais, são utilizadas na maioria dos casos para achatar os salários. Segundo o Dieese, nos últimos cinco anos a rotatividade de mão-de-obra aumentou 20%, o que significa que em apenas 2,5 anos as empresas trocam completamente seus quadros de funcionários, recontratando novos profissionais com salários menores. Gerando redução da massa salarial que oscila entre 9,15% e 11,06%.

Para fazer frente à crise de emprego, a UGT está mobilizada e organizará além dos atos de pressão junto ao Congresso Nacional e apelará à opinião pública para buscarmos saídas para a nossa economia, que agora é atacada diretamente pela crise de emprego que precisa ser equacionada com urgência e com a grandeza do espírito cívico dos que se preocupam com os destinos de nossa Nação.

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