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Autor:
Gilberto Guimarães
Qualificação: Diretor da multinacional francesa BPI no Brasil e consultor da Fundação Getúlio Vargas, da GV Consult e do Ibmec e coordenador do Comitê de RH da Câmara Americana (Amcham)
E-mail: [email protected]
Data:
22/02/06
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Desemprego: de volta à temporada de caça às promessas

A disputa eleitoral  já começou. De novo, o desemprego volta a ser assunto. Todos, desde candidatos a presidência  da República, até a síndico de condomínio,  vão prometer gerar milhões de  empregos.  Depois,  mais uma vez, adeus, nada vai acontecer.  Ou será, ah Deus! Nada vai acontecer!
 
Todos prometem criar novos empregos, mas ninguém diz COMO, e no discurso tudo vai ser resolvido. Infelizmente,  como não há planos de ação e  nem estratégias, nada do que  é prometido será cumprido. Está na hora de  se propor idéias concretas  para resolver, ou, pelo menos reduzir, o desemprego no Brasil.
 
Todo mundo culpa os juros altos e o câmbio  defasado pela recessão e, conseqüentemente, pelo desemprego. Mas isso é apenas uma parte do problema, e  talvez nem seja a maior.  O verdadeiro vilão é a carga tributária.   Quase 50% do preço de cada produto é imposto. Para comprar um carro novo, você precisa pagar por dois, um para você, outro para o governo.  Isto reduz significativamente o poder aquisitivo da população e o tamanho do mercado consumidor. Menos mercado, menos emprego.
 
Estatísticas recentes mostram que 40% da população brasileira vive com menos de  US$5 por dia, abaixo da linha da miséria. Isso significa que apenas 60% da população poderia participar do mercado. Mas, participando mesmo existe muito menos gente. Apenas 25% da população tem condições de ser considerada "consumidor". O resto participa apenas de um mercado de sobrevivência, consumindo o indispensável, no limite da dignidade. A  população não compra porque não tem dinheiro mesmo, e não por causa dos juros.
 
Caso a carga de impostos fosse reduzida dos atuais 37% do PIB para  algo como 18%, como no México, reduziria de 25% a 30% o preço dos produtos, um desconto direto. Isso provocaria um aumento do poder aquisitivo da população, permitindo a entrada no mercado de uma leva enorme de novos consumidores. Isto levaria as empresas a implementarem projetos de expansão, gerando novos empregos. E, pelo aumento de consumo, não haveria prejuízo de arrecadação para o governo. É claro que isso teria que ser feito de maneira planejada e organizada, reencontrando um novo equilíbrio, para evitar um efeito paralelo inflacionário.
 
 Adicionalmente, caso a carga  tributária fosse reduzida, diminuiria a vantagem da informalidade e da pirataria.  Com baixa vantagem financeira, o medo de ser pego reduziria a informalidade .
 
O peso excessivo do Estado é que cria o peso excessivo dos impostos.  O  Estado consome mais de 80% do que arrecada no próprio custeio. Arrecada incríveis R$ 715 bilhões por ano, e sobra quase nada para investir. Mudando isto, o Brasil  poderia ser uma das fronteiras do pleno emprego.
 
Existem também muitas  outras ações a serem feitas, como a flexibilização da legislação trabalhista. Na Espanha, por exemplo, só com isto, as taxas caíram de 18% pra 11% . Outra seria a desoneração da massa salarial de encargos, como por exemplo, a parcela empresarial do INSS, que é de 20% do salário, poderia se  transformar em  uma porcentagem pequena sobre o faturamento. Assim a empresa poderia ter mais empregados de maneira formal, sem que isto fosse um custo crescente. 
 
Finalmente, vamos  fazer marcação sobre pressão e entrar na temporada de caça às promessas. Está na hora de não só ouvi-las, mas cobrar dos candidatos o COMO elas serão realizadas.

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