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Autor:
Alfried Karl Plöger
Qualificação:
Presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Associação Brasileira das Companhias de Capital Aberto (Abrasca)
E-mail:
[email protected]
Data:
22/12/05
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O Alerta das Embalagens

O mercado mundial de embalagens movimentou US$ 459 bilhões em 2004, devendo crescer cerca de 4% ao ano até 2009, quando, estima-se, atingirá US$ 556 bilhões. Os dados constam de estudo mercadológico que acaba de ser divulgado pela Pira Internacional e a World Packaging Organization (WPO). Chamam atenção, no relatório, as previsões relativas ao crescimento na Índia (14,2% ao ano, chegando a US$ 13 bilhões em 2009) e à China (8,2% e US$ 51 bilhões, respectivamente). Na Europa Central e Oriental, o mercado de embalagens da Polônia é o que deverá ter crescimento mais rápido (11% ao ano), galgando ao patamar de US$ 6 bilhões em 2009. A Rússia, porém, continuará liderando o segmento na região, com US$ 18,5 bilhões naquele ano.

No Brasil, que não aparece no documento da Pira divulgado em seu site mundial, o crescimento do setor de embalagens em 2004 foi de aproximadamente 19%. No caso específico das embalagens de papel e cartão, produzidas pela indústria gráfica, o faturamento subiu de US$ 920 milhões, em 2003, para US$ 1,15 bilhão em 2004. Em todo o mundo, segundo o estudo internacional, o papel e o cartão são os materiais mais utilizados para a produção de embalagens e seu consumo com esta finalidade, em 2004, movimentou US$ 176 bilhões. O crescimento médio previsto é de 4,2% ao ano, com resultado estimado em US$ 216 bilhões em 2009.

Considerando que a indústria gráfica brasileira como um todo e a de embalagens, em particular, não deverão repetir neste e nos próximos exercícios os resultados de 2004, torna-se preocupante a previsão de crescimento, neste segmento, dos mercados da China e da Índia. Primeiramente, porque as embalagens são termômetros de toda a economia. Ou seja, sua produção cresce na proporção em que se expande o consumo de alimentos, produtos de higiene, eletroeletrônicos e todos os itens que precisam de invólucro para chegar ao consumidor final.

Então, é inevitável perguntar: será que, diante das mazelas político-econômicas da Nação, continuaremos crescendo menos do que nossos concorrentes na economia global? Vejamos o que nos dizem os números mais recentes da produção industrial como um todo: o Indicador do Nível de Atividade (INA) da Fiesp e do Ciesp registrou, em julho último, na comparação com junho, recuo de 1,4%, sem ajuste, e 2,5%, com ajuste. O mesmo índice, em agosto, foi pífio, apontando crescimento, em comparação ao mês anterior, de 4,4%, sem ajuste, e de apenas 0,9%, com ajuste.

Contudo, há outras razões mais específicas para nos preocuparmos ao comparar alguns dados do estudo da Pira e da WPO com estatísticas da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf). Tal análise sugere que se acendam as luzes de alerta. O primeiro documento aponta aumento expressivo da produção de embalagens na China; na análise de desempenho do setor no primeiro quadrimestre de 2005, a Abigraf registra significativa redução das vendas externas de embalagens, um dos principais produtos da pauta de exportação da indústria gráfica brasileira, em especial caixas e cartonagens dobráveis de papel ou cartão. No primeiro quadrimestre de 2005, as exportações desses itens totalizaram US$ 4,8 milhões, ante US$ 19,7 milhões em igual período de 2004, com recuo de 75,4%. Uma das principais causas dessa queda foi o aumento da participação da China no promissor mercado.

Evidencia-se, no caso, um efeito direto da política de câmbio sobre valorizado, que não atinge as commodities e os produtos com preços internacionalizados, mas prejudica muito alguns segmentos específicos. Também fica claro o quanto é difícil competir com economias artificialmente reguladas, manejadas pelo orçamento estatal, poluídas por subsídios e estimuladas por salários simbólicos. Afinal, a análise correta de estudos e estatísticas permite delinear com clareza o movimento dos mercados, diagnosticar causas e identificar onde o Brasil está perdendo espaço e competitividade.

No caso das embalagens, particularmente as produzidas pelo setor gráfico, o cruzamento de todos os dados não deixa dúvida de que a indústria chinesa do segmento já está no vácuo das concorrentes brasileiras, beneficiando-se de seus “diferenciais competitivos” e de nossas fraquezas, como o câmbio, os juros altos, os impostos exagerados, o mensalão, o mensalinho e a eterna dificuldade de realizar as reformas necessárias ao estabelecimento de um duradouro ciclo de crescimento.

A Nação, em especial nos momentos em que o Estado encontra-se mais frágil no plano moral e ético, tem de impor as virtudes da democracia, reivindicando com legitimidade que as instituições voltem-se à defesa dos interesses dos cidadãos, dos setores produtivos e da sociedade. Não se pode tolerar um hiato de governabilidade de 15 meses, até a posse do novo governo e instalação da próxima legislatura federal, em janeiro de 2007. É muito tempo de paralisia para um País que ainda não venceu a batalha do desenvolvimento. A rotina nacional não pode limitar-se à displicência, à chanchada brasiliense e ao constrangimento com os quais corrompidos e corruptores expõem este país ao mundo. Que se apurem rigorosamente os fatos e se punam os culpados, mas que se mantenha a agenda mínima de governança e trabalho parlamentar.

É preciso auscultar o conteúdo dos estudos econômicos e os diagnósticos dos setores de atividade. A embalagem é, hoje, item de imensa importância nas distintas cadeias produtivas. Além de facilitar o fluxo do consumo, contribuir para toda a operação logística e garantir a qualidade dos produtos, ainda agrega valor e é importante como ferramenta de marketing e fator de decisão de compra na ponta do varejo. Além de tudo isto, as embalagens veiculam agora, a quem interessar possa, importante mensagem de alerta, alusiva aos números e estatísticas nacionais e internacionais. A propósito: quem é mesmo que queria reconhecer a China como economia de mercado?

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