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Autor:
Evaristo Machado Netto
Qualificação:
Presidente da (Ocesp) Organização das Cooperativas do Estado de S. Paulo
E-mail:
[email protected]
Data:
23/03/05
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Confiança no Cooperativismo

Ano a ano, as cooperativas repetem resultados positivos, contribuindo de forma constante para o país alcançar dois dos principais objetivos do governo: aumentar a oferta de postos de trabalho e melhorar a distribuição de renda. Em 2004, só as cooperativas de São Paulo movimentaram perto de R$ 17 bilhões.

No ramo Trabalho, mais de 100 mil cooperados reunidos em 350 cooperativas atuam em diversificados segmentos, oferecendo suporte operacional a inúmeras empresas privadas e organismos públicos. No Crédito, mais de 200 cooperativas tanto no meio urbano como no campo movimentam a cada ano mais de R$ 1 bilhão em empréstimos a custos realmente baixos. É o chamado microcrédito, mecanismo tão propalado pelas grandes instituições bancárias e aplicado desde o início do século 20 pelas cooperativas no Brasil. Os empreendimentos cooperativos fazem circular a riqueza e geram mais trabalho. O mesmo cenário promissor se vê na agropecuária. Basta analisar um dos resultados do ramo em 2004: as exportações diretas das cooperativas paulistas alcançaram US$ 412 milhões, um crescimento de 47,7% sobre 2003. No Brasil, as cooperativas respondem por 6% do PIB brasileiro.

Mas, como em qualquer setor da economia, o cooperativismo também é influenciado pela conjuntura do país. É o caso do mercado lácteo que historicamente, a despeito dos bons resultados do agronegócio brasileiro, tem se apresentado instável. A oscilação de preços agravada muitas vezes pela estiagem, a concorrência desleal, a guerra fiscal entre os estados e a falta de uma política agrícola para a pecuária leiteira são fatores que prejudicam o desempenho de muitas empresas. Em 2004, os problemas atingiram a Central Leite Nilza, empreendimento cooperativo constituído em 2001, em Ribeirão Preto. A central de cooperativas de laticínios integra 15 mil associados e é o 7º maior laticínio do país, com importância reconhecida pelo governo estadual.

As dificuldades econômicas da cooperativa vêm sendo resolvidas internamente pela direção que, de forma incessante, tem buscado repactuar dívidas e encontrar novamente o ponto de equilíbrio financeiro. É importante frisar, no entanto, que a crise momentânea da Nilza é interna e não reflete a situação do cooperativismo em geral. Pelo contrário: nos mostra o quanto o movimento é sólido e forte, pois, mesmo durante a suspensão temporária de pagamentos, a entrega diária de leite por grande parte dos cooperados não parou, garantindo os níveis de produção.

Nota-se que a confiança dos associados no sistema cooperativista é maior que a crise e a atitude solidária para reerguer a cooperativa é uma demonstração irrestrita da união e da solidariedade que caracterizam nosso movimento. Os problemas da Central Leite Nilza podem ser sanados com o novo plano de reestruturação apresentado no início deste mês. Acreditamos firmemente que a direção e os cooperados encontrarão meios de recuperá-la, mas a virada só será possível com a compreensão e o apoio dos agentes financeiros e fornecedores envolvidos no processo.

Uma lição tiramos deste fato: a confiança dos cooperados da Leite Nilza fortalece ainda mais nossa convicção no cooperativismo como forma de empreendimento sólido que organiza a atividade produtiva no campo e gera renda ao pequeno produtor rural.

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