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Autor:
João Pinheiro de Barros Neto
Qualificação: Professor do curso de Administração da Faculdade Módulo
E-mail: [email protected]
Data:
23/09/06
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Os Recursos Humanos na Sociedade das Organizações

Tratar de Recursos Humanos pode ser encarado como a coisa mais fácil do mundo, ou a mais difícil; depende do ponto de vista. Podemos achar que já começamos com a vantagem de estar tratando de pessoas iguais a nós, portanto, não há nenhum problema. Porém, apesar de sermos todos humanos e termos muitas semelhanças, não somos, de forma alguma, iguais. Todos nós, certamente, já ouvimos o adágio popular “Cada cabeça é um mundo”.

Todo e qualquer empreendimento depende de pessoas –e, muito dificilmente, de uma única pessoa–, pois vivemos em uma sociedade que atingiu um estágio em que todos estão interligados em redes sociais.

É sempre bom lembrar que ser gestor, gerente, administrador, patrão, líder ou seja lá que nome for, implica tratar com pessoas. Logo, não há como fugir. Se temos um objetivo a alcançar e precisamos de colaboração, é preciso gerir nossos esforços conjuntamente com os esforços de outras pessoas.

A primeira lição que não devemos esquecer é que, em Recursos Humanos, principalmente no âmbito organizacional, não existe gestão de indivíduos, mas gestão de pessoas, de grupos. Sempre tratamos com o coletivo, pois na verdade estamos nos referindo ao Homo Sapiens “Corporalis”, aquela espécie animal que desceu das árvores, passou pelas cavernas e preferiu as organizações.

Mas não nos enganemos. Esse ser humano corporativo não tem todas as suas ações controladas pela lógica e pela razão. Pelo contrário, é dirigido na maior parte do tempo por impulsos inconscientes, paixões, emoções, desejos subconscientes e, acima de tudo, por suas necessidades de sobrevivência e pertencimento a um grupo. E é com esse ser que os profissionais de Recursos Humanos (e todo gestor também) tem de lidar. Portanto, o grande desafio não é, como muitos pensam, conquistar e manter os clientes, mas conquistar o próprio pessoal e mantê-lo concentrados no trabalho, dando o melhor de si à organização.

Quando o mundo sofreu a transformação da economia agrária e doméstica para uma economia industrial, durante o final do século XVIII e ao longo do século XIX, conheceu a Revolução Industrial que culminou na sociedade de produção e consumo em massa. A partir daí foi surgindo, pouco a pouco, a necessidade de uma função específica para tratar dos problemas relativos às relações entre patrões e empregados.

Não foi uma mudança tranqüila. Afinal, o ser humano estava acostumado a trabalhar em sua própria casa, com sua família, na hora que melhor lhe conviesse e, de repente, teve que se subordinar a um ritmo que era ditado por seu patrão e pelas necessidades de mercado. Era uma situação completamente nova, que implicou uma série de traumas e problemas de difícil solução. Na verdade, a Revolução Industrial pode ser considerada, também, uma grande revolução social. A partir de então, o ser humano passou a ser tratado como um recurso produtivo importante e começou a ser entendido dessa forma.

É preciso, em primeiro lugar, compreender que o ser humano deve ser percebido como mais que um recurso, pois essa definição é um pouco restritiva quanto ao verdadeiro papel das pessoas em uma organização. A palavra recurso refere-se a meios pecuniários, bens, posses, enfim, meios de que se possa dispor. Insumo, que são fatores necessários para fornecer um produto ou serviço, também não parece adequado, embora seja a denominação mais usual entre economistas e administradores de empresas para representar todos os recursos usados na produção.

Claro que pessoas ou empregados são tudo isso, mas ainda muito mais. De fato, o recurso humano tem uma característica que o difere de todos os demais recursos necessários para uma organização criar valor: é o único que cria problemas, mas é o único que também resolve problemas. Em outras palavras, é o único recurso (ou insumo) que pensa e é capaz de gerar idéias e inovação.

Desta forma, pessoas são algo muito mais complexo que a definição de recursos ou insumos possa expressar, pois tais palavras não abarcam todo o valor e o potencial desse elemento fundamental para qualquer organização.

Não obstante, Recursos Humanos é o termo consagrado pela administração e não podemos fugir dele. Porém, tenhamos sempre em mente que são recursos por demais especiais, portanto, merecem um tratamento diferenciado. Além disso, são recursos que, para funcionar, precisam de confiança pois, do contrário, nunca realizam nada. Aliás, esta é uma regra de ouro em qualquer negócio: se não há um nível de confiança, nada se concretiza. Pensemos na transação mais simples: caso não haja confiança, de uma parte em relação à outra, de que algo será realizado (entregue) e que este algo será retribuído (pago), nada acontece. Na verdade, se não fosse a confiança, não teríamos saído de nossas cavernas primitivas e não viveríamos em um mundo de organizações.

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