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Autor:
Alfried Karl Plöger
Qualificação:
Presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca).
E-Mail
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Data:
24/04/04
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Política industrial e o financiamento da produção

São significativos para a economia nacional os 550 milhões de reais de fontes orçamentárias e não orçamentárias e os 14,5 bilhões do BNDES, Finep e Banco do Brasil, que compõem o portfólio de recursos para investimentos da nova política industrial do Governo Lula. Porém, não se pode esquecer que a maioria desse montante é atrelada a fontes estatais de crédito e, portanto, à dívida pública, hoje em torno de R$ 895 bilhões (ou cerca de 58% do PIB). Por isso, além das medidas anunciadas pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que merecem voto de confiança, há lição de casa decisiva: deslocar o eixo do financiamento produtivo ao mercado de capitais, como nos Estados Unidos, Japão e potências européias, onde há consagrada cultura de geração de recursos para investimentos das empresas de capital aberto, por meio de investidores institucionais (seguradoras, fundos de pensão e pessoas físicas, via emissão de ações, debêntures e commercial papers).

Esse dinheiro, pouco atrelado ao fluxo especulativo internacional, é, ainda, desvinculado da dívida pública. Assim, ao invés de ser convertido em débito, engorda a poupança interna (que falta no Brasil) e financia a produção. Além disso, constitui fundos para aposentadoria dos trabalhadores, que têm segurança ao investir em ações. Cria-se um círculo virtuoso: o mercado de capitais disponibiliza recursos, que geram empregos, renda e poupança; os cidadãos compram ações, capitalizam as empresas, que investem na produção.... Porém, só 2% dos investidores brasileiros aplicam em ações. Nos Estados Unidos, o índice é de 60%. Os norte-americanos compram papéis até de empresas que, por atuarem em setores ligados à inovação tecnológica, sequer têm produtos no mercado, mas seus investimentos capitalizam as companhias.

Dificilmente o Brasil terá economia equilibrada, conciliando crescimento e inflação baixa, sem solucionar os gargalos no financiamento produtivo. O governo deve ser indutor da mudança, a começar pela redução do "Custo Brasil" (juros e impostos) e desoneração das empresas de capital aberto, que pagam caro pela opção de manter suas ações à disposição dos investidores e balanços democraticamente expostos à sociedade, às instituições e ao próprio setor público. A reversão desse quadro seria benéfica para todos os setores de atividades, como a indústria gráfica, que investiu mais de US$ 6 bilhões nos últimos 10 anos, tendo de pagar os altos juros nacionais ou de arcar com os riscos cambiais de financiamentos providos pelos próprios fornecedores internacionais de máquinas e equipamentos.

Assim, independentemente dos problemas políticos em curso e do calendário eleitoral de 2004, se o governo somar à política industrial que acaba de anunciar o estímulo aos financiamentos produtivos via mercado de capitais, estará dando, de fato, passo significativo para o início de um ciclo duradouro de crescimento econômico, geração de empregos e prosperidade. O País está, mais uma vez, diante de grande oportunidade. Não deve desperdiçá-la!

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