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Autor:
Guilherme Afif Domingos
Qualificação:
Presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP)
E-mail:
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Data:
24/06/05
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Responsabilidade Social - Considerações

O tema da "responsabilidade social" das empresas tem sido bastante discutido no Brasil nos últimos anos, fazendo parte das preocupações dos empresários, que o incluem nas suas estratégias de gestão como elemento importante a ser considerado.

Embora existam muitas definições do que seja a "responsabilidade social da empresa", é preciso cautela para que se possa ter clareza da função principal, que compete à atividade empresarial no contexto da economia de mercado.

Cabe à empresa ser eficiente na produção, comercialização ou prestação de serviços, oferecendo qualidade e preço compatíveis, atendendo aos desejos ou às necessidades de seus clientes, dispensando tratamento adequado aos seus funcionários e fornecedores, respeitando a legislação e o meio ambiente, recolhendo os tributos devidos e propiciando remuneração ao seu proprietário ou aos acionistas. Crescer, oferecendo novos empregos; inovar, lançando produtos e serviços que melhorem a vida dos cidadãos; exportar, trazendo divisas para o país; enfim, promover o desenvolvimento, pois são funções que somente a empresa pode realizar.

A responsabilidade maior de oferecer serviços públicos, como educação, saúde, segurança, infra-estrutura, etc., é do Estado, com base nos recursos que arrecada da sociedade pela tributação. Mas a complexidade da economia num mercado globalizado exige esforço por parte de todos os atores econômicos, entre os quais se destacam as empresas, que contribuem para a solução dos graves problemas sociais do País, especialmente tendo em vista que as carências que atingem uma expressiva parcela da população brasileira são muito acentuadas e exigem ações abrangentes e urgentes que excedem a capacidade dos governos realizá-las em curto e médio prazos. É preciso, porém, que não se transforme a "responsabilidade social da empresa" num modismo, em estratégia de marketing destituída de conteúdo ou numa atuação destinada a projetar seus dirigentes na mídia, o que pode comprometer a sobrevivência da empresa. Da mesma forma, preocupa a tendência de alguns grupos que pretendem transformar a "responsabilidade social" das empresas em obrigação legal, por meio de regulamentação das atividades empresariais nesse campo, o que pode inibir a criatividade empresarial, aumentar custos administrativos e prejudicar a competitividade dos produtos nacionais. Qualquer medida compulsória, que implique novos custos, pode levar aos mais graves dos problemas sociais que é o desemprego.

Michael Novak, professor do American Enterprise Institute, chama a atenção para as "responsabilidades morais" das empresas, afirmando que o capitalismo democrático não é apenas "um sistema de livre empresa. Ele sobrevive sem as virtudes e os valores sobre os quais repousa sua existência". Por isso precisamos demonstrar que, como empresários, somos responsáveis e que a livre iniciativa é o melhor caminho para a geração de empregos e para o desenvolvimento econômico e social.

A "responsabilidade social" deve decorrer da visão da empresa, refletida em sua missão, considerada em sua estrutura, integrada em seus valores e princípios e envolvendo todos os colaboradores. Representa uma conduta natural em que a ética, a transparência e o compromisso com todos os seus públicos de interesse e com a comunidade são compatibilizados com a busca do objetivo empresarial de lucro, eficiência, geração de emprego e renda.

A experiência demonstra que as ações resultantes da "responsabilidade social" agregam valor aos ativos e à imagem das empresas, representando um investimento de alto retorno na medida em que, cada vez mais, os consumidores levam em conta esse parâmetro nas suas decisões de compras. No mercado globalizado, no qual a concorrência é extremamente acirrada, a transparência e a conduta ética das empresas podem representar o diferencial socialmente responsável.

Embora as grandes empresas disponham de melhores condições para praticar políticas mais estruturadas, a responsabilidade social deve ser exercida também pelas pequenas e micro empresas, pois não depende de tamanho, mas, sim, de determinação.

Publicado no jornal O Estado de São Paulo do dia 22/06/2005.

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