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Autor:
Alfried Karl Plöger
Qualificação: Presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias de Capital Aberto)
E-mail: [email protected]
Data:
25/02/06
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Insustentável Hiato de Governabilidade

“Apesar de tudo, setor gráfico cresceu 7,5% em 2005, faturando R$ 17,3 bilhões.
 

O ano de 2005, em seu ocaso, é mais um daqueles que o brasileiro gostaria de esquecer. Novamente, a Nação enfrentou, constrangida e estupefata, o estigma da improbidade no setor público. Prioridades como as reformas tributária, política e da Previdência foram esquecidas, assim como outros projetos importantes para o advento de duradouro ciclo de crescimento. Contudo, a despeito de todos os problemas, há algo a ser lembrado e comemorado: o inesgotável poder de superação dos empresários, trabalhadores e da sociedade. Esta virtude alimenta a perspectiva de continuar acreditando num país próspero e vencedor. Exemplo da resistência dos brasileiros é a indústria gráfica, cujo faturamento nominal em 2005 - apesar de tudo e daqueles que insistem em colocar interesses pessoais escusos acima da Pátria - deverá crescer 7,5% (ou 3%, descontada a inflação), encerrando o exercício em R$ 17,3 bilhões. O setor, historicamente, tem expansão de aproximadamente quatro pontos percentuais acima da variação do PIB. Não é o resultado ideal para um conjunto de empresas que tem investido muito em atualização tecnológica e feito imenso empenho comercial, inclusive no mercado externo. Porém, é uma performance acima do que se poderia supor num cenário político-econômico tão conturbado.

Este ano e todas as dificuldades que impôs também permitiram que se evidenciasse outro elemento muito importante: o papel desempenhado pelas entidades de classe na defesa específica dos setores que representam e das posições e teses relativas aos interesses maiores de toda a economia. Alguns exemplos são marcantes: a mobilização vitoriosa contra a Medida Provisória 232, que aumentava os impostos dos prestadores de serviços, com impacto em cascata nos custos de todas as cadeias produtivas; o projeto da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, de especial significado para a indústria gráfica, devido ao seu perfil (90% das empresas do setor têm até 19 funcionários); e a “MP do Bem”, cujos dispositivos foram transferidos à Medida Provisória 255, com boas sugestões das classes produtivas.

A capacidade de superação das empresas e trabalhadores e o empenho das entidades de classe têm mantido o País vivo. O crescimento estimado do PIB em 2005, de 3,5%, pode até ser considerado um prodígio no país do “mensalão”, do dinheiro mais caro do mundo, dos impostos exagerados e do câmbio irreal. Contudo, é necessário muito mais do que a obstinação da sociedade. O Brasil precisa de uma política pública de desenvolvimento, pois está perdendo terreno. É o que demonstra estudo do FMI sobre as projeções da economia mundial para o biênio 2005/2006.

A previsão de crescimento do PIB global é de 4,3% este ano e 4,5% no próximo. Porém, no âmbito dos países em desenvolvimento, a estimativa é de 6,3% e 6%, respectivamente, ou quase o dobro do Brasil. A China tem expansão prevista de 8,5% em 2005 e 8% em 2006. Como se não bastasse, o FMI acredita que o seu PIB possa até superar as previsões, incentivando as economias adjacentes, como as da Coréia do Sul, Cingapura e Taiwan. Na Índia, a expectativa para 2005 e o próximo ano é de incremento de 6,5% e na Rússia, de 6,5%, neste e no próximo exercício.

Também na América Latina, o Brasil vai ficando para trás. O Continente terá, em 2005 e 2006, expansão acima dos 5,7% registrados em 2004, estimulada pelo aumento dos preços das commodities, melhoria da confiança dos investidores e avanços nos ajustes estruturais. O trabalho destaca a performance da Argentina, Chile e Venezuela. Levando em conta que o Brasil é o principal fornecedor de commodities da região, ficam muito evidentes as deficiências nos dois outros fatores de crescimento indicados no estudo.

A verdade é que, este ano, o estigma da corrupção paralisou o Executivo e o Legislativo federais. Ambos mostraram-se incapazes de, simultaneamente, apurar as denúncias, punir os culpados e cumprir a agenda mínima do desenvolvimento, que inclui as reformas estruturais. Assim, é legítima a reivindicação de que as instituições voltem-se à defesa dos interesses maiores do País. Afinal, é insustentável prolongar por mais um ano o hiato de governabilidade, até a posse do novo governo e legislatura, em janeiro de 2007. A rotina nacional não pode limitar-se à displicência, à chanchada brasiliense e ao constrangimento com os quais corrompidos e corruptores expõem esta Nação ao mundo.

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