.
Autor:
Mauro Johashi
Qualificação:
Diretor de Corporate Finance & Risk Management da RCS Auditoria e Consultoria
Site:
[email protected]
Data:
25/05/05
As opiniões expressas em matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição do Empresário Online. Proibida a reprodução sem a autorização expressa do autor.

Fusões e Aquisições: A Mais Nova Vocação Brasileira

Até o final dos anos 80, o País não apresentava vocação para fusões e aquisições. Em grande parte, essa realidade decorria de políticas firmadas com o objetivo de preservar o empresariado nacional -seja por meio de reserva de mercado, seja por estatizações, seja por subsídios para a expansão do setor produtivo. Além disso, não se pode ignorar a decretação da moratória na década de 70, o que afastou de vez qualquer possível interesse de investidores no mercado brasileiro.

A partir da década de 90, com a abertura do mercado e as perspectivas de que a economia brasileira ingressaria por caminhos mais ortodoxos, o Brasil começou a fazer parte do grupo de países com potencial interesse de investidores e multinacionais. Isso porque, obrigatoriamente, as empresas tiveram que enfrentar uma economia de mercado na qual a sobrevivência é voltada para a competição, eficiência gerencial, preocupação com qualidade, necessidade de parcerias, fusões e aquisições como estratégia de aumento de market share, diluição de custo fixo e penetração em outras regiões.

O País praticamente foi colocado nesse caminho para conseguir sua inserção na economia mundial em conformidade com a liberalização de transações entre países e a globalização. Para isso, teve de se adaptar às regras do comércio mundial como a diminuição das barreiras de entrada de produtos importados, a retirada dos mecanismos de proteção do mercado brasileiro, a desestatização de setores como telefonia, bem como o fim dos monopólios.

As informações sobre fusões e aquisições, porém, ainda são muito restritas e praticamente focadas nas grandes corporações. Mesmo assim, as pesquisas relativas a transações desse porte apontam números bem divergentes, apesar de sinalizarem o mesmo caminho de evolução. Já nas pequenas e médias companhias, fusões e aquisições revelam-se mecanismos muito comuns, mas cuja análise é de difícil quantificação e qualificação.

O processo de abertura comercial brasileiro propiciou um cenário favorável à entrada de empresas e investidores interessados em setores antes restritos à reserva de mercado, além de fomentar os processos de privatização. O ambiente melhorou gradativamente à medida que houve a estabilização de preços e a redução da inflação a patamares bem menores por conta do Plano Real.

O final da década de 90 e início do século 21 representaram um período delicado. Processos de investimentos em nível mundial foram intimidados pelas crises asiática e russa, pelos efeitos da política cambial e da insegurança política ocorrida em 2002. Este, inclusive, foi o ano com o menor número de transações desde 1996 -cerca de 227, segundo estudos da KPMG. Os últimos dois anos foram marcados por um ambiente de manutenção política e econômica, retomando a tendência de crescimento no número de transações.

O reaquecimento das fusões favoreceu sobremaneira as instituições financeiras, indústrias química, farmacêutica, petroquímica, elétrica e eletrônica, tabagista, de alimentos e bebidas, siderúrgica, metalúrgica, além de transportes e autopeças. Apesar de não haver estatísticas confiáveis na pequena e média empresa no Brasil, pode-se inferir que esse segmento teve um comportamento semelhante, logicamente em uma proporção muito maior.

Podemos identificar que as principais motivações para se investir nessas transações são aumento de participação no mercado, atuação em novas regiões geográficas, ganho de escala de produção e um mix ampliado de negócios e produtos. Mas esse processo não significa de forma alguma o sucesso do negócio. Não raramente as companhias passam por dificuldades que podem inviabilizar a atividade empresarial. As principais dificuldades são institucionais e legais (aval do CADE, sindicatos, empregados), a transferência na elaboração de demonstrativos econômicos e financeiros, as diferenças culturais e os preços de negociação que não condizem com o valor da empresa.

União de forças entre empresas depende da superação de tais obstáculos a partir de um planejamento estratégico extremamente focado nesse processo, envolvendo todas as fases de transição do processo de fusão e aquisição e os resultados esperados. A fase de implementação será acompanhada por um monitoramento com os resultados esperados, de forma que, com um acompanhamento intensivo, possa se avaliar se o realizado está de acordo com as expectativas iniciais ou se existe a necessidade de algumas reavaliações e alterações de curso.

Estudos realizados por instituições financeiras indicam o grupo de países com condições mais sólidas de crescimento nas próximas décadas são China, Rússia, Índia e Brasil. Portanto, caminhando sobre regras econômicas estáveis e sólidas, em um ambiente político que contribua para o fortalecimento da democracia e o respeito aos poderes independentes, o Brasil tende a gerar um apetite natural de processos de fusões e aquisições. Caberá ao empresário brasileiro se preparar para tal cenário com busca da competitividade, melhoria da qualidade e eficiência na administração.

.

© 1996/2005 - Hífen Comunicação Ltda.
Todos os Direitos Reservados.