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Autor:
Maria Genny Caturegli
Qualificação:
Coordenadora do curso de pedagogia das Faculdades Integradas Rio Branco
E-Mail
[email protected]
Data:
25/09/04
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O Surdo no Ensino Superior

A Portaria nº 1.697 do MEC, assinada pelo ministro da Educação, em dezembro de 1999, obriga todas as universidades a oferecerem intérpretes para os surdos. Entretanto, ainda são muito poucas as instituições que obedecem esta determinação do governo. Com isso, o acesso ao ensino superior de uma parcela dos mais de cinco milhões de surdos do Brasil torna-se ainda mais limitado. Nega-se a esses cidadãos o direito que 97% da população do país possuem: o de cursar uma universidade.

As Faculdades Integradas Rio Branco, mantidas pela Fundação de Rotarianos de São Paulo, são pioneiras no Estado de São Paulo no oferecimento de intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais). Desde a abertura dos cursos, em 2000, este serviço está disponível, sem qualquer acréscimo na mensalidade. Afinal, trata-se de direito garantido pelas normas oficiais do ensino brasileiro. Em todo o País, apenas uma outra instituição de ensino superior, a ULBRA (Universidade Luterana no Brasil), no Rio Grande do Sul, oferece o intérprete sem ônus ao aluno.

Os estudantes surdos acompanham as aulas junto com os colegas ouvintes, assessorados pelos intérpretes, que lhes traduzem as exposições orais e as orientações dos professores. Ademais, são usados os recursos da informática como instrumento auxiliar para o aprendizado, pois os surdos são inteiramente visuais e lidam muito bem com as novas tecnologias da informática.

Tudo isso garante condições de igualdade aos alunos com necessidades especiais que freqüentam as universidades. Permite-se aos surdos o pleno acesso ao conhecimento. Aliás, nada deveria impedi-los neste sentido. É preciso acabar com o estigma de que o surdo é deficiente, pois sua inteligência e sua capacidade intelectual e cultural em nada diferem dessas potencialidades dos ouvintes. Aliás, o surdo quer ser denominado como tal e se irrita quando alguém o denomina deficiente auditivo.

As regras e normas sobre os mais variados assuntos, como educação, bem-estar e outras áreas, são sempre estabelecidas pelos ouvintes, que, em seu julgamento, atribuem o que é melhor para todos, esquecendo-se de estudar as necessidades da comunidade dos surdos, em que a maioria é composta de indivíduos cujo principal meio de comunicação é visual, ao invés de oral/verbal.

Prova disso é o fato de a principal ligação dos surdos com os ouvintes, a Libras, ter sido oficializada há apenas dois anos pelo MEC, com a Lei nº 4.857/2002 . No Brasil, apenas recentemente os surdos conseguiram organizar-se em associações com a finalidade de se fazer "ouvir" e defender seus direitos de minoria social, a fim de deixarem de ser excluídos e não mais submeterem-se aos ouvintes, que lhes ditavam os meios de se adequarem às normas gerais, com sugestões para se incluírem na maioria da comunidade de ouvintes e aprender a falar e a fazer leitura labial.

A inclusão dos surdos nos cursos superiores não deve ser apenas uma obediência à portaria do MEC. Instituições que têm por objetivo formar profissionais capazes de contribuir para a sociedade não podem esquecer-se que ela é formada por distintas etnias e raças, cegos, surdos e uma infinidade de pessoas de diferentes características. Portanto, as universidades devem proporcionar aos surdos a oportunidade de crescer como seres humanos plenamente capazes de se integrar à sociedade.

Cabe, ainda, assinalar um fato curioso: nas salas de aula, os alunos ouvintes, que têm como colegas os surdos, começaram a se interessar profundamente pela linguagem dos sinais, manifestando o desejo de aprendê-la como uma outra forma de comunicação. Ao mesmo tempo, os surdos, ao serem tão bem recebidos pelos colegas, sentem-se estimulados no seu aprendizado. Esta troca de experiências resulta em benefícios para todos.

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