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Autor:
Beatriz Araújo de Castro Rangel
Qualificação: Médica psiquiatra e psicoterapeuta no Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da USP.
e-mail:
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Data:
26/03/2008
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Depressão ignorada

Os RHs das corporações precisam entender que são eles os responsáveis por dar início ao contra-ataque a uma doença que assola 40% da massa de trabalhadores e afeta diretamente os ganhos das empresas: a depressão. Com a possibilidade de promover ações internas que tragam maiores informações aos funcionários, é o RH que deve ser a essa porta de entrada de bem-estar do ambiente corporativo que ainda está trancada pela chave do preconceito a assuntos psiquiátricos, por mais incrível que possa parecer.
 
Os profissionais de RH sabem que o problema aumenta a cada dia. Mas, a maioria prefere o faz-de-conta de que no seu mundo corporativo não há motivos para tocar no assunto. Optam por atividades também importantes como ginásticas laborais e outro eventos de integração para melhorar o relacionamento entre colegas de trabalho e proporcionar qualidade de vida. Ainda assim, fica evidente que não dá mais para ignorar o prejuízo que a depressão tem trazido aos chãos de fábrica. E uma medida preventiva se faz urgente.
 
Alguns colaboradores podem apresentar características peculiares da depressão como a falta de interesse, baixa produtividade, dificuldade de relacionamento e, em casos mais específicos, excesso de afastamento do trabalho. Um indivíduo com depressão falta, em média, sete dias por mês. Enquanto isso, um indivíduo normal falta uma vez a cada 30 dias, segunda a OMS (Organização Mundial de Saúde).
 
Muitos não sabem as causas de seu aparente desinteresse no trabalho ou no mau relacionamento com colegas. Muitas vezes passam aos olhos de terceiros como incompetentes, preguiçosos, arrogantes e estressados. A conseqüência mais provável é a perda do emprego, o que piora ainda mais a situação desse indivíduo. Com informação, é possível que ganhe coragem para falar sobre o assunto e procure auxílio. E aí a paciência de seus superiores é um instrumento vital. Mesmo quando diagnosticada a depressão, o indivíduo leva, em média, 11 meses para procurar o médico. É por isso que o estímulo contínuo de seus colegas de trabalho, além da família, é fundamental.
 
A falta de informação é buraco muito maior do que se pensa. Dificilmente encontraríamos alguém que faria associação entre dores no corpo e depressão. Mas é bom saber que sintomas físicos estão diretamente ligados à doença. No universo dos deprimidos, 72% não fazem a menor idéia dessa possibilidade, em estudo realizado pela ABRATA (Associação Brasileira de Transtornos Afetivos). Mais que isso: 44% daqueles que desenvolvem a depressão apresentam redução significante da capacidade de trabalho, mas continuam a se arrastar pelos escritórios e linha de produção. Como resultados negativos às companhias aparecem a falta de produtividade e perda de competitividade.
 
Se as corporações mantiverem posturas arredias de levar para seus colaboradores o conhecimento necessário para prevenção, a conta a ser paga chegará a médio e curto prazo. Segundo a OMS, a depressão é a segunda causa de incapacidade no trabalho e, até 2020, deve estar na ponta da lista. Pior: a fase de pico da doença aparece entre os 20 e 40 anos, no auge da vida profissional.
 
Estudo feito recentemente pela Universidade King´s College, de Londres apontou que um em cada 20 profissionais que trabalha sobre pressão desenvolverá a depressão. Coloca na mira profissionais como: operadores do mercado financeiro, jornalistas, advogados e professores. Mas, convenhamos, a pressão do dia-a-dia não tem se dado ao luxo de escolher vítimas por idade, sexo ou hierarquia profissional.

A conclusão é que o RH deve assumir o papel de agente incentivador de inserção de atividades psiquiátricas que alertem seus colaboradores para erradicar de uma vez por todas os preconceitos sobre o tema. Junto a isso, o corpo diretivo deve estimular e participar da formação de Grupos Psicoeducacionais, o que já seria uma ótima ferramenta de incremento às atividades que buscam o bem-estar do trabalhador. A entrada do especialista na empresa pode trazer redução imediata dos custos altos que estão atrelados ao trabalhador depressivo. No final ganha o colaborador, ganha a empresa.

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