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Autor:
Guillermo Bonnin
Qualificação:
Advogado e Sócio da WAP Consultoria Tributária
E-Mail
[email protected]
Data:
26/06/04
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Vou Falir, Estou Desesperado, o que Faço?

Sinceros cumprimentos a vocês leitores. Não é brincadeira, mas a nossa recomendação foi taxativa: vá e converse com seu médico, faça dieta imediatamente, pouca ingestão de gordura ou quase nenhuma, coma preferencialmente legumes e frutas, caminhe, e se puder faça exercícios físicos. Assista algumas comédias bem hilariantes de preferência. Converse os problemas de sua família, relaxe.

Obviamente e desnecessário dizer a incredibilidade e outras percepções que observamos por algum tempo à nossa colocação. Aos poucos a pessoa foi entendendo que evoluindo naquela pressão a tendência seria ele provavelmente falir antes do seu negócio, se era esta a real situação do mesmo.

Para avaliar e decidir é preciso dominar a emoção e o desespero, conhecer principalmente todas circunstancias envolvidas: as passivas que geraram a situação em analise e as ativas resultantes de avaliações e decisões para solucionar o quadro emergencial. Sem esse pressuposto, embora reconhecendo que em muitos casos é difícil assumir esta atitude, elas inibem o raciocínio e os concorrentes disso se aproveitam. Finalmente e após, ambos, pudemos evoluir no aspecto principal: pretensa falência.

O tamanho e a complexidade do negócio é irrelevante para evitar estas possíveis situações. O ponto crucial é fundamental para que isso ocorra é a falta de controle, de planejamento e acompanhamento dos resultados entre o que foi projetado com o obtido. Se em empresas que assim agem controlando o resultado, é possível isso ocorrer, não a falência em si, mas a tendência conseqüente pelos resultados obtidos até determinado momento, o que dizer quando isso não é praticado ou ignorado. Às vezes as nuvens nos predizem que devemos tomar outros rumos ainda que isso não nos agrade. Caso contrário teremos que enfrentar a tempestade.

Várias podem ser as abordagens aplicáveis à analise das origens da causa examinada. Contudo, se você por qualquer motivo se encontrar com algum tipo de insolvência, e dependendo do seu grau de abrangência, cremos que alguns aspectos são avaliáveis para uma tomada de decisão:
  • Créditos atrasados de clientes, fornecedores e entidades financeiras,
    Determine o montante envolvido, o custo dos acréscimos de juros, multas e outros se houverem contratualmente, além de estabelecer qual seria o prazo viável de seu resgate. Compare o custo destes acréscimos cobrados pelos próprios credores e o custo de um financiamento no montante requerido para resgatar o débito existente. Opte pelo que for mais viável e factível, se assim puder agir. Não esquecendo das possíveis garantias exigidas, ou oferecidas. Para os débitos de seus clientes, você poderá abrir mão dos acréscimos em troca de uma maior exigibilidade ou aceitar o direito a créditos contra terceiros, preferencialmente consignados ao seu resgate. Ou então fazer uma novação da dívida tendo como fiador um dos sócios na condição de pessoa física. É uma forma de captar dinheiro, que na realidade é seu. A cobrança cartorial e/ou judicial, esta formas devem ser assumidas após esgotadas as possibilidades de negociação. Existe um custo para efetiva-las.

  • Débitos tributários,
    Apure que tributos são devidos por atraso e também os acréscimos exigíveis. Verifique se pela sua natureza são susceptíveis de parcelamento, forma e condições. Podendo faça-o. Não esquecendo que a espontaneidade elimina a multa de officio, na fiscalização e cobrança do débito ou débitos existentes.

  • Porque não vender algum bem para resgatar débitos vencidos e inegociáveis,
    Se o negócio dispuser de bens porque não avaliar a possibilidade de vende-los para fazer caixa, e sair desta insolvência, é uma opção que não pode ser descartada. Ou outras práticas financeiras que o mercado oferece e que possam ser assumidas com a utilização destes bens. Como por exemplo a hipoteca, o leasing no caso de terem sido vendidos bens necessários as atividades, ou até mesmo o lease-back. Procedimento aonde ocorre a venda das instalações e o conseqüente aluguel das mesmas com direito de recompra dos bens negociados. São riscos que demandam planejamento e sustentabilidade de resultados que garantam o resgate das obrigações assumidas.

  • Custos e despesas,
    Deverão ser revistos imediatamente, avaliando o que deverá ser cortado, reduzido. Se nunca se preocupou com isso, ou até acompanha este desenrolar, mas o resultado após tê-los absorvidos ainda é positivo, faça-o assim mesmo, sempre existe alguma coisa que poderá ser cortada. Neste caso não é uma opção, mas uma necessidade-exigência.

  • Os estoques são adequados,
    Qual é o nível dos mesmos, acima da média, podem ser devolvidos aos fornecedores, sem que isso comprometa a continuidade do negócio? Estudou as possibilidades, os fatores e circunstâncias envolvidas que permitam adquirir estes produtos e/ou serviços a medida que os pedidos forem sendo captados de seus clientes? Que tal trabalhar com um mínimo de estoque-dias desde que a reposição seja garantida.

  • Preço de venda de produtos-serviços,
    Que margem ele oferece? É deficitário por decisão estratégica ou por desconhecimento de fato do mercado, de seu custo de venda e a margem requerida para cobrir as despesas, o financiamento da venda, impostos e ainda apresentar resultado. Avalie, atualize estes custos e despesas. Pode ser que ele seja excessivo e o mercado se afaste dele. Ou aquém do necessário, gerando muita venda e consequentemente insuficiência de caixa. Analise e não descarte a possibilidade de uma promoção para captar meios financeiros imediatos.

  • Você conhece o seu negócio,
    Você teve a humildade de se perguntar se conhece o seu negócio? Se aprofundou nas exigências-resultados que o mercado no qual atua retribui? Você esta bem localizado ou isso independe da ação de vender o seu produto-serviço? Procurou analisar a relação oferta-procura e como o seu negócio esta nele inserido? Qual é a perspectiva de vendas a curto e médio prazo? Nas condições de venda, procurou optar, claro se o negócio assim o permitir, aplicar o financiamento da venda através de cartões de crédito? Ou embutir no preço de venda, o custo de factoring? Obviamente que para tanto existe um custo adicional, mas o recebimento é factível. Avalie o prazo a ser concedido e as condições para tanto.

  • Seu negócio não é grande demais,
    Não chegou a hora de podá-lo, emagrece-lo? Será ou já teve a curiosidade de verificar se a relação venda-resultado justifica esta extensão além da mínima requerida? Porque não mudar de lugar ou reduzir o espaço físico ocupado. Existem filiais ou pontos de vendas deficitários? Não seria mais viável encerra-los e concentrar uma força maior em um ou alguns poucos? Quanto custa mante-los em atividade e qual seria a economia que adviria deste procedimento? Vale a pena a justificativa desta projeção e até assumir esta atitude, se isto efetivamente representar redução de custos e despesas.

  • Assim mesmo quer transferir, vender seu negócio,
    Recomenda-se neste caso se esta for a decisão, ponderar que vale a pena primeiro regulariza-lo, isto é, ajustar os débitos vencidos, providenciar o parcelamento de possíveis débitos tributários, enfim arrumar a casa antes de vende-lo. Determine o seu valor real, e que perspectivas poderá oferecer ao futuro comprador. Na verdade ele vai pagar por ele o valor líquido entre os créditos de clientes, já deduzido as prováveis perdas, e de fornecedores, o valor dos financiamentos e contas a pagar que não correspondam efetivamente ao valor patrimonial para o qual ou quais foram assumidos, e que provavelmente estão representados por prejuízos. O valor de mercado dos bens existentes, seja terra nua, prédios, instalações ou outros tipos de bens e direitos. Com este procedimento é mais fácil atrair pretensos compradores não afeitos a este tipo de reorganização-regularização. Esta necessidade ou pendência poderá afasta-los diminuindo a possibilidade da venda.

Enfim avalie cada aspecto particularmente e procure determinar a causa-efeito que concorreu para a situação atual. Este exercício redundará em tomar conhecimento de muitas ocorrências despercebidas no desenvolver das atividades que poderiam ter sido reduzidas, eliminadas, melhoradas, exploradas ou implementadas com outros enfoques.

Outra questão, que sob nossa visão é retundante, é participar e acompanhar cada etapa de estudo e determinação das soluções viáveis e quais as que serão assumidas. O ideal é que sua interação seja profunda e imersiva. Isto dá e permite um conhecimento, ainda que forçado, sobre o que "não fazer futuramente". Ressaltamos, que caso seja assistido por algum consultor, seja você, perguntador, questionador, esclarecedor, queira justificativas e principalmente fundamentações das proposições, interaja como consultor fosse. Não deixe que decidam por você. É seu dinheiro, seu negócio. Você compra conhecimento, experiência e soluções, mas sempre na evolução das possibilidades e negociações poderá surgir uma nova idéia, algum outro aspecto não previsto, principalmente se seu negócio surgiu de seu projeto próprio e inovador. Você o desenvolveu da idéia à prática.

Poderíamos nos estender sobre proposições, variantes múltiplas, mas esta coluna não tem esta finalidade, simplesmente comentamos e referenciamos aspectos que cremos ajudam no dia-a-dia empresarial. Em nossas próximas exposições evoluiremos em outros assuntos.


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