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Autor:
Edison Tamascia
Qualificação:
Presidente de uma rede de farmácias no interior de São Paulo (Farmavip) e de duas federações (Faesp e Febrafar)
E-mail:
[email protected]
Data:
26/11/05
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A Realidade do Setor Farmacêutico no Brasil

O preço médio dos medicamentos no Brasil é um dos menores (US$ 4,43) em comparação a outros países também em desenvolvimento (México - US$ 7,86 -, Argentina - US$ 5,36 -, Peru - US$ 5,54 -, Venezuela - US$ 5,08).

Também somos recordistas no quesito Carga Tributária. Em nenhuma das nações acima citadas, a carga tributária ultrapassa 25% do PIB. Aqui, já beiramos 40% do produto interno bruto.
 
O Brasil possui uma das legislações mais rígidas do mundo em relação à produção de medicamentos. Nos EUA, onde a rigidez do FDA é propagada como exemplo de regulamentação para outros países, os produtos são registrados uma única vez. Depois, basta apenas seguir as boas normas de fabricação e controle.
 
Já no Brasil a licença deve ser renovada a cada 05 anos. Ou seja, as Indústrias têm que ratificar a sua competência refazendo testes farmacêuticos (bioequivalência e biodisponibilidade) em produtos já comercializados, o que acaba onerando os custos de fabricação.
 
Ainda na área industrial, as certificações dos processos de fabricação e controle são extremamente rígidas, o que é interessante para o consumidor, que terá sempre à disposição produtos de qualidade. Mas isso implica em custo para a indústria.
 
Vale lembrar que não somos um País produtor de matéria-prima e, por conseqüência, importamos insumos em dólar - que encontra-se em baixa, mas com o câmbio flutuante. Essa é a realidade do momento atual, mas não foi a de tempos atrás e poderá não ser a de amanhã.
 
 
Diante de tal situação, podemos afirmar que temos um custo de fabricação significativo - fator esse que inviabiliza investimentos em pesquisas. Sabemos que a descoberta de novas drogas e até mesmo a evolução das drogas já existentes depende basicamente da iniciativa privada. Entretanto, com a baixa lucratividade do setor fica impossível esperarmos isso dos empresários do setor farmacêutico brasileiro. Sendo assim, seremos sempre reféns das patentes internacionais.
 
No setor de distribuição, o cenário não é muito diferente. Nossas estradas encontram-se em péssimo estado de conservação, a segurança oferecida pelo Estado é insuficiente e esses fatores oneram o custo de logística no País.
 
No varejo, a venda média por estabelecimento é muito baixa e os custos fixos são altíssimos - quer seja em função dos impostos, da necessidade da presença dos profissionais farmacêuticos em tempo integral nos PDV’s, quer seja pela agressividade comercial praticada pelas grandes corporações.
 
Mesmo diante dessa constatação (baixa lucratividade e alta carga tributária), trabalhamos num segmento onde se pratica os descontos mais agressivos que se tem notícia - isso, claro, em toda a cadeia produtiva.
 
Uma parcela significativa de Indústrias oferece descontos como forma de horizontalizar sua linha de produtos, principalmente aquelas que atuam com produtos similares e também as que produzem genéricos. Os distribuidores, por sua vez, também praticam descontos agressivos para poder gerar volume. No varejo, a prática de desconto como estratégia de venda perdeu o controle e - não é raro - vemos estabelecimentos oferecerem descontos superiores aos custos de entrada do produto.
 
Creio que todos nós, empresários desse segmento, deveríamos repensar essa estratégia, fazendo as seguintes perguntas:
 
- A quem interessa essa agressividade comercial?
- Quem efetivamente ganha com essa prática?
- Que diferencial uma empresa tem ao oferecer desconto, se seus concorrentes farão o mesmo?
- Existe, no mundo, algum matemático que consegue explicar como é possível ganhar dinheiro nesse mercado, diante dessas práticas?
- Até quando vamos continuar nos matando mutuamente?
 
Finalizo minhas indagações convocando todos os empresários do setor farmacêutico para uma reflexão sobre as nossas práticas e sugiro que o façam urgentemente, pois se demorarmos muito possivelmente não teremos mais mercado para pensar.

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