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Autor:
Prof. Oceano Zacharias
Qualificação: Consultor em Gestão Empresarial e Diretor da Quality Consultoria.
Site:
www.quality.eng.br
Data:
27/03/2007
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Qualidade e Custo: Faces da Mesma Moeda

Interessante observar como o tema Qualidade ainda é tão mal entendido! Para muitos, qualidade é, incorretamente interpretada, algo que se adiciona ao produto ou serviço adquirido, como se fosse um complemento - da mesma forma que uma pessoa coloca um brinco ou um perfume após vestir-se. Qualidade não é um complemento: é o conjunto propriamente dito, é o todo oferecido e colocado à venda ao mercado. Este equívoco originou-se na década de 90, quando se começou a tratar deste tema, como se qualidade fosse algo - uma coisa, um ente - com vida própria, que até se locomovia e que naquele momento “estava chegando”... Na verdade, qualidade é uma conseqüência econômica.

Após a II Guerra, e até por causa dela, a tecnologia industrial cresceu exponencialmente. Após duas décadas a curva de oferta de produtos já ficava acima da curva de demanda - aqui no Brasil a barreira alfandegária nos impediu de participar desse movimento desde seu início, e por várias décadas os clientes competiam entre si pelos produtos parcamente oferecidos, tornando-se cativos fregueses das empresas que faziam o favor de lhes vender, e a preços cada vez maiores. Nos anos 90 a capacidade instalada dos parques industriais superou em várias vezes o consumo e então o cliente passou a ser disputado pelas empresas.

A condição de oferta maior que demanda provoca um fenômeno, cujo nome é Qualidade - este é o fato. É a situação onde as empresas disputam a preferência de um mesmo cliente que, por conseguinte, torna-se mais seletivo e mais exigente, passa a ter poder de escolha e, portanto, paga cada vez menos pelo mesmo produto ou serviço que adquire. Qualidade e redução de preços coexistem, e tem mais: se um não existir o outro também não existirá. Soa, portanto, muito estranho quando um executivo ou um empresário diz que “o mercado exige cada vez mais qualidade mas quer pagar pouco”; a frase correta é “o mercado exige cada vez mais qualidade e quer pagar pouco” - qualidade e redução de preços são dois lados da mesmíssima moeda.

A lentidão com que algumas empresas demoram a entender este fenômeno faz com que tratem a Qualidade como se fosse algo independente dos custos operacionais. Algumas chegam à certificação pela ISSO 9001 sem se preocuparem com os custos. A qualidade para essas empresas é interpretada de uma forma que considero um tanto lírica e poética - perdeu-se o norte mercadológico. Qualidade tem que ser entendida como a essência vital do produto ou serviço oferecido, isto é, é o próprio produto ou serviço vendido - e não algo a ser adicionado -, e o preço de venda é parte complementar e impossível de ser desassociada da qualidade.

Explica-se assim o porquê tantas empresas não têm crescido seu faturamento e muito menos seu lucro, numa época de significativo crescimento econômico global. Nestas organizações reina a fantasia ou de que a qualidade é perfumaria, ou de que a qualidade pode ter uma única pessoa responsável por ela (ao invés da única verdade que a qualidade é responsabilidade de todos, sem exceção, a começar pela Diretoria), ou então até há uma crença forte em qualidade mas tem um sistema de custeio falho (isto é, o sistema de custeio é apenas o contábil, ou então o sistema de custeio operacional é por rateio ou por absorção).

Com certeza estas empresas estão fadadas a um fim trágico, do qual só estarão libertas as que incorporarem no seu dia a dia a dualidade simultânea da verdadeira qualidade associada ao correto custeio operacional. Um não viverá sem o outro, e sem ambos a empresa não viverá!

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