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Autor:
Cláudio Orlandi Lasso
Qualificação:
Engenheiro Eletricista.
Site:
www.kltelecom.com.br
Data:
27/03/2014
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Ah, se eu fosse presidente, juro que daria um banho de muita água e de energia neste governo!

Água é o recurso primário que garante a existência da vida; energia é o recurso secundário que garante a qualidade de vida das pessoas. Segundo o Aurélio recurso é o “ato ou efeito de recorrer, algo que pode ser usado para apoiar ou ajudar”. Recursos de água e de energia são, na verdade, atos ou efeitos de recorrer ou os meios empregados pelo homem que o ajudam a manter a vida e a qualidade de vida.

Para países de todo o mundo as disponibilidades de recursos de água e de energia são consideradas questões estratégicas e de soberania nacional, tratadas com a seriedade e o respeito que merecem. Infelizmente, num país como o Brasil, que não é sério, como já declararam tantas e importantes personalidades brasileiras e estrangeiras, o povo já se acostumou com as rotinas da falta de segurança, transporte, educação, saúde e com o alto grau de corrupção em todas as esferas governamentais, e também a viver sem o mínimo de dignidade.

Mesmo vivendo - ou tentando sobreviver - no país onde se têm a maior carga tributária do mundo, fica difícil para a maioria dos governantes entender a água e a energia como questões de soberania nacional.  Na verdade, para muitos deles essa é uma questão estratégica sim, mas apenas para o desenvolvimento de obras milionárias, e para a conveniente contratação de empreiteiras. Um exemplo é a indústria da seca do nordeste que existe desde sempre. Para alguns políticos a preocupação já é outra, pois, quanto mais se aproximam as eleições, mais esses recursos não passam de uma questão de voto ou, por ironia do destino, uma questão de perda de voto.

Somente quando os níveis dos reservatórios das hidrelétricas e dos açudes atingem níveis extremamente baixos, é que a população começa realmente a se preocupar com a situação. Acredito que isso seja uma questão cultural. Infelizmente, os governos estaduais e federal têm a mesma cultura e agem da mesma forma, mas com alguns agravantes que pioram em muito o cenário das crises de desabastecimento desses recursos, impedindo inclusive a sua recuperação.

Além da falta de responsabilidade na administração pública com a não aplicação correta dos recursos, esses governos vêm tentando esconder da sociedade brasileira - e parece que até de si mesmos - a real situação a que conduziram nosso país, subestimando a inteligência do seu povo, interpretando de forma tendenciosa, e/ou maquiando números, não assumindo suas culpas e negligências, e buscando bodes expiatórios para imputar-lhes responsabilidades. Tudo isso só para dar um jeitinho de poder “levar a situação” até depois das eleições. Até São Pedro, a quem Deus um dia confiou a sua Igreja, agora está sendo taxado como o maior culpado de tudo isto.

Outro grande erro estratégico dos nossos governos é a pouca preocupação com a eficiência energética e com o uso racional de água. Eficiência é fazer mais com menos. Para manter controlado num certo nível uma caixa d’água que tem um consumo variável e um pouco crescente, como a caixa d’água gigante do Sistema Cantareira, em São Paulo, não existe milagre; existem apenas duas formas factíveis: aumentando-se gradativamente a quantidade de água que entra na caixa, o que é muito oneroso monetária e ecologicamente falando e impossível a curto prazo, ou reduzindo-se gradativamente a saída de água da caixa, mantendo-se o mesmo trabalho que fazia antes, mas, para isto acontecer é preciso usar com maior eficiência esse recurso. Se a gestão do Sistema Cantareira fosse realmente bem feita, os técnicos deveriam previamente desenvolver estudos, analisar estatísticas, mapas de chuvas, considerar o aquecimento global, estudar cenários, informar a população quanto à possibilidade de desabastecimento para começar a economizar água, fazer campanhas, desenvolver planos de contingência e planos emergenciais.

É o mínimo que poderia se esperar para se evitar que a situação chegasse ao ponto que chegou. Para um país que tem a 7ª maior economia do mundo, com as maiores reservas naturais de água doce do planeta e que foi escolhido para sediar a Copa e as Olimpíadas, estar sofrendo uma crise tão grave de desabastecimento simultâneo de água, alguma coisa muito errada está acontecendo.  

É hora de todos os governos pararem de brincar com esse “joguinho de faz de conta de administrar” que engana somente os seus pobres e tolos cativos, e terem o mínimo de coragem, decência, honradez e compromisso com aqueles que, através da procuração do seu voto, confiaram a eles os cargos que hoje ocupam e, ainda, assumirem uma postura humilde e verdadeira de um país que hoje se encontra deficitário, sofrendo e precisando urgentemente de cuidados especiais para não sucumbir seco, esturricado e no escuro. Isso seriam as trevas de um país. Enquanto o governo se preocupa em cativar o povo (“tornar cativo”), com bolsa disso e bolsa daquilo, impede a dignidade desse povo em poder conquistar com o suor do seu trabalho tudo o que precisa para sobreviver, e acaba por educar mal, criando uma cultura devastadora. Recentemente o governo criou o projeto “Minha Casa Melhor” que incentiva a população a consumir mais água e, principalmente, mais energia, ao passo que deveria se preocupar em oferecer para todos aquilo que é de sua responsabilidade: segurança, saúde, e educação de qualidade; isso sim, é respeito e resgate da cidadania de um povo.

Em 2013, o governo anunciou o desconto de 20% na conta de energia elétrica, na verdade deu menos e o custo deste desconto ele dividiu entre as concessionárias de energia elétrica e o tesouro nacional, ou seja, com o bolso dos cidadãos que suam a camisa todos os dias para poder pagar tantos impostos. Agora que o governo percebeu a besteira que fez está tendo que aumentar o custo da energia elétrica para pagar a manutenção das termelétricas, mas, com certeza, não o fará até as eleições, adiando por mais oito meses a cobrança da conta que pagaremos em dobro.

Se eu pudesse sonhar e ser o presidente da república, juro que resolveria essas duas “paradas” em pouco tempo, e com apenas sete canetadas. Na bíblia está escrito que o 7 é o número da perfeição. Longe de mim querer ou pensar em ser perfeito, mas sou perfeitamente capaz de entender o que é tão lógico e óbvio até mesmo para o cidadão comum. São sete as decisões que, para mim, são emergenciais, estratégicas, e até bastante simples.

Em primeiro lugar, assumiria publicamente e de imedito a situação caótica de desabastecimento simultâneo de água e de energia do Brasil e declararia os racionamentos compulsórios de água em algumas regiões e de energia elétrica em todo o país, por um período mínimo de seis meses, tomando como base a média do consumo dos três meses do ano passado, sendo o mês atual, um para frente e um outro para trás. A princípio aplicaria um racionamento de 20% para consumidores residenciais e de 10% para os demais, premiando com desconto aqueles que obtivessem significativo desempenho e, é claro, multando em pelo menos 50% sobre os valores que ultrapassassem a meta de economia. Passados os seis meses, analisaria a situação e, se ainda fosse necessário, prolongaria o racionamento e aumentaria seus percentuais, pois o povo já estaria acostumado com os novos hábitos e suportaria este aumento. Durante a Copa e as Olimpíadas, junto com todos os brasileiros, eu nada temeria, pois tenho a certeza de que daríamos ao mundo uma lição não só de futebol e de amizade, mas de cidadania, ética e de respeito pela ecologia, mostrando para todos que aqui, no Brasil, nós também damos a atenção devida e nos preocupamos em usar de maneira mais racional e sustentável esses recursos tão nobres. Isso, com certeza, teria grande e positiva repercussão em todo o mundo, trazendo assim, mais divisas para o país.

A segunda providência: desenvolveria campanhas educacionais e alertaria a população que o gasto de água e/ou de energia é composto de dois fatores básicos: consumo (de água ou potência elétrica) de certo equipamento, por exemplo, o chuveiro elétrico, que consome x litros de água por segundo e tem uma potência de x Watts, incentivando a todos para usarem equipamentos com Selo A de consumo de água e de energia elétrica, e acessórios que comprovadamente reduzem o consumo desses recursos; tempo de uso desses equipamentos, neste caso, o tempo de banho, incentivando todos a desenvolverem novos hábitos mais saudáveis de consumo de água e de energia elétrica.

Como terceira medida iniciaria um trabalho para os próximos 20 ou 30 anos objetivando mudar a cultura de consumo do povo brasileiro, mostrando a importância e ensinando as diversas formas que existem para um consumo mais racional de água tratada e de energia elétrica na ponta e orientando a população a desenvolver novos e melhores hábitos de consumo. É sabido que o chuveiro elétrico está presente na grande maioria dos lares brasileiros pertencentes às classes C, D e E das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. É o eletrodoméstico mais barato que existe numa residência e também o que mais consome água e energia elétrica. Desta forma, é o responsável pela maior parcela das contas de água e de energia dessas famílias, sendo o maior causador do efeito “Horário de Ponta”, pico no consumo energético (entre as 18:00h e 21:00h), que modula significativamente a curva de carga, do SIN (Sistema Interligado Nacional) aumentando entre 18 e 35% a demanda de energia elétrica neste período. O que poucos sabem é que, recentemente, quando o Brasil ainda não estava em risco de racionamento de energia elétrica, diariamente, durante o “Horário de Ponta”, o ONS (Operador Nacional do Sistema) já era obrigado a ativar dezenas de usinas termelétricas para poder suprir diariamente o aumento da demanda durante essas três horas, produzindo assim, uma energia não limpa e muito mais cara. Portanto, o chuveiro elétrico tem enorme potencial para ter o seu consumo de água e de energia “eficientizado”.

Em quarto lugar, desenvolveria políticas públicas que incentivassem a população a usar equipamentos mais eficientes, ou acessórios que economizem esses recursos como, por exemplo, o Eco Shower Slim, acessório de baixo custo, que, ligado ao chuveiro elétrico comum, tem a capacidade de, mantendo o conforto do banho, economizar mais de 40% de água tratada e mais de 40% de energia elétrica, conforme comprovado pela UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá) que emitiu laudo técnico atestando as economias deste acessório.

Como quinta providência, depois de tomadas as medidas emergenciais, se os meus colegas partidários e contra-partidários ainda me deixassem governar, reduziria a zero o IPI dos equipamentos com Selo A de consumo de água e de energia elétrica e dos acessórios que comprovadamente reduzem o consumo desses recursos.

Em sexto lugar, através de subsídios parciais e em parceria com o SEBRAE, ABESCO, PURA, universidades e outras entidades de comprovada capacidade técnica, incentivaria a indústria, o comércio e as repartições públicas a desenvolverem diagnósticos energéticos e de consumo de água para implementação de técnicas antigas de GLD (Gerenciamento pelo Lado de Demanda) para promover maior eficiência no consumo e o uso mais racional de água e de energia elétrica.

Finalmente, com relação à educação e à pesquisa, fomentaria o desenvolvimento de uma nova cultura e de tecnologias mais eficientes da seguinte forma: em parceria com o MEC e com as concessionárias que exploram os serviços de distribuição de água e de energia elétrica, incentivaria o desenvolvimento de dinâmicas escolares e criaria feiras tecnológicas ou de sustentabilidade e prêmios, desde a pré-escola ao pós-doutorado, que incentivassem a todos a pensar de forma mais ecológica e eficiente.

Os prêmios seriam subsidiados pelas concessionárias; em parceria com a FINEP e com as FAPs estaduais, desenvolveria Editais para a subvenção de projetos de inovação com recursos não reembolsáveis para o desenvolvimento de inovações e geração de patentes que promovessem a eficiência e o uso mais racional de energia elétrica, e ainda criaria prêmios anuais para projetos que promovessem a eficiência e o uso mais racional desses recursos.

Claro que muito mais poderia e deveria ser feito, mas no meu sonho, eu acredito de verdade que faria tudo simples assim. – ACORDA, ENQUANTO AINDA DÁ TEMPO, MEU POVO BRASILEIRO!


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