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Autor:
Paulo Araújo
Qualificação:
Palestrante e escritor
Site:
www.pauloaraujo.com.br
Data:
27/10/05
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O Povo e a Copa

Avaliando que politicamente o ano de 2005 já está encerrado, pois na minha opinião podemos esquecer as reformas que o país tanto necessita e tão logo passe a crise do Valerioduto estará iniciada a corrida presidencial, se é que já não começou. Penso que já podemos começar as especulações em torno da Copa de 2006 e assim ajudar a manter a nossa ingrata fama de povo que só pensa em futebol e carnaval.

Na verdade meu objetivo maior aqui nessas poucas laudas é fazer uma pequena comparação entre as chances do Brasil ser campeão e a de crescermos como nação e cidadãos, de não esquecermos que somos melhores do que qualquer político corrupto que somente age em benefício próprio.

Minha previsão é clara: vamos ser novamente campeões do mundo. Pode ir preparando o grito "alá" Galvão Bueno: - É hexa! - É hexa!

Acredito ser praticamente impossível o Brasil perder o hexacampeonato assim como a capacidade do nosso país crescer.

Sim, nós vamos passar por mais esta crise e dar mais alguns passinhos à frente até o próximo grande escândalo. Saiba porquê acredito tanto no Brasil, em nosso povo e ainda afirmo que nosso maior problema não é econômico, mas sim político.

A seleção canarinho só perde a Copa e nós só vamos deixar de crescer se:

Houver excesso de confiança. Com tantos craques, com tantos títulos, corremos o perigo de entrar no clima do "já ganhou". E é nesse ponto que a porca pode torcer o rabo. Nós temos de parar com essa terrível mania de achar que tudo se resolverá sozinho, confiantes que os outros países comprarão de nós porque somos mais alegres e camaradas, parar de confundir bom relacionamento com sorrisos e churrascos regados com muita caipirinha e sermos um pouco mais profissionais. Dizem que o brasileiro tem baixa auto-estima. Eu discordo! Qual povo com baixa auto-estima faz tanta festa e acredita sempre no futuro quanto nós? O nosso excesso de "deixar estar para ver como é que fica", nos torna atrasados politicamente e economicamente, acreditando que tudo se resolve com o tempo, deixando a vida passar e nos levar. Precisamos baixar um pouco nossa bolinha e perceber que ainda somos fracos jogadores no mercado global, começar a discutir e principalmente implantar seriamente políticas e ações que nos tornem mais competitivos e não só ficar na torcida para o dólar subir.

O risco de subestimar o adversário. Todo jogo é uma final e não podemos subestimar nossos concorrentes. Na China temos mão-de-obra infantil e semi-escrava, líderes comunistas, pirataria, burocracia em excesso e mesmo assim, é hoje, o país que mais recebe investimentos estrangeiros, a grande pérola do mercado mundial. Eu sempre me pergunto - Por que não o Brasil? A pergunta está errada e deve ser - O que devemos fazer para sermos nós? Não vai ser copiando a China com seus métodos pouco convencionais que vamos chegar lá. Mas ainda assim ficamos o tempo todo subestimando como se a qualquer momento pudéssemos dar uma grande virada e mostrarmos aos outros que somos melhores. Temos que tomar muito cuidado com qualquer competidor, com qualquer concorrente, mas também fazer alianças estratégicas e aprender com nossos adversários aquilo que eles fazem de melhor sem perder a nossa identidade.

Dar a devida importância ao técnico e aos jogadores. Não basta ter os melhores jogadores do mundo, é preciso ter entrosamento; treinamento tático e quem faz isso é o técnico. É claro que é excelente ter grandes craques, mas é preciso alguém com pulso firme para evitar a fogueira das vaidades. Conosco é a mesmíssima coisa. O país está cheio de grandes e excelentes profissionais talentosos. Economistas, administradores, homens de marketing, advogados, agricultores, artistas e tantas outras categorias. Precisamos introduzir em nossas empresas o sistema da meritocracia, introduzir novos valores e comportamentos, fazer acontecer. O governo é uma peça importante neste jogo, mas não podemos depender exclusivamente da boa iniciativa política. Políticos existem para brigar pelo poder, infelizmente é este o maior interesse. Eles não possuem um projeto para o país, mas sim um projeto de vaidade, de tentar se perpetuar no poder, portanto, quanto menos dependermos desta classe, melhor. Precisamos criar mecanismos que nos libertem da extrema dependência do Ser Político.

Sinceramente, só perderemos a Copa de 2006 se perdemos para nós mesmos. O Brasil só vai deixar de ser grande se acreditarmos que somos piores do que os outros. Somos mais atrasados em se tratando de instituições e leis, é verdade, mas como em cada Copa, em cada escândalo, temos muito que aprender e evoluir.

Neste artigo ser campeão da Copa da Alemanha é uma previsão, posso estar certo ou errado, só o tempo irá dizer, mas minha certeza de que somos grandes e seremos ainda melhores é um fato. Pense em quanto nosso país já evoluiu do período pós-militarismo para cá. Então podemos ter a certeza de que seremos campeões também em muitas áreas. Eu mesmo estou louco peara ganhar o título "País que diminui em menos tempo sua desigualdade social".
Este é um grande campeonato e para vencer cada um terá que fazer a sua parte. Chega de previsões e mãos a obra!

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