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Autor:
Alfried Karl Plöger
Qualificação:
Presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca).
E-Mail
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Data:
28/05/04
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Estadistas e Tecnocratas

"O seu governo tem conseguido melhorar a estrutura da dívida pública. O país tem um superávit primário de 4,25% do PIB e vem melhorando muito a estrutura da dívida com a redução da parcela atrelada ao câmbio. Acho que está progredindo muito".

Ao contrário do que se pode imaginar, esta avaliação feita pelo chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI), Phil Gerson, não se refere a qualquer nação desenvolvida ou a emergentes como Chile ou China, que têm vencido o desafio de crescer. Trata-se de um elogio tácito e real ao Brasil. Felizes e orgulhosos com a excelente performance nacional no âmbito do cumprimento das metas do acordo com o FMI, empresários e trabalhadores brasileiros perguntam: será que o especialista conhece os indicadores da economia real, do chão de fábrica, como os índices assustadores do desemprego no primeiro trimestre, recentemente divulgado pelo IBGE?

Preocupa-se o representante do organismo internacional com a relação "crescimento demográfico vegetativo- expansão da economia"? Sabe ele que, com aumento populacional em torno de 1,5% ao ano, temos, a cada janeiro, cerca de 2,5 milhões de novos brasileiros para alimentar, educar, vestir e incluir socialmente? Será que tem consciência de que 51% dos nossos milhões de desempregados são jovens na faixa etária entre 16 e 24 anos?

Responder a essas questões é fundamental na análise de uma política econômica. O controle inflacionário e o equilíbrio fiscal são importantes e devem ser perseguidos sempre por qualquer governo responsável. Entretanto, não podem ter como efeitos colaterais a falência da produção e o sacrifício crescente do nível de empregos.

É preciso conciliar as metas de crescimento, inflação baixa e responsabilidade fiscal. Não é possível que os setores de atividades de um país com 170 milhões de habitantes dependam hoje quase exclusivamente do mercado externo para reduzir seus índices de ociosidade. É o caso da indústria gráfica (15 mil empresas, cerca de 200 mil empregos e equivalente a 3,3% do PIB industrial do País), que, em 2003, realizou imenso esforço no exterior, ampliando suas exportações em 27% e obtendo, pela primeira vez em 10 anos, superávit em sua balança comercial (US$ 73,7 milhões, contra resultado negativo de US$ 21,14 milhões em 2002). Com isso, o setor conseguiu reduzir um pouco o nível de ociosidade de suas plantas industriais, que ainda se situam em torno de incômodos 33%.

As exportações, fundamentais para gerar empregos e poupança interna, poderiam ser maiores, caso juros mais baixos, linhas de financiamento de longo prazo, menos impostos e menor "custo Brasil" reduzissem a lacuna de competitividade no item "preço", em relação a produtos concorrentes de outras nações. É preciso reconhecer o esforço do governo no cumprimento das metas fiscais e inflacionárias, mas também é necessário perceber que o marasmo da economia atinge limites perigosos. A sutileza desta sensibilidade é o diferencial entre estadistas e tecnocratas...

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