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Autor:
Dieter Brandt
Qualificação:
Presidente da Heidelberg para a América Sul
E-mail:
[email protected]
Data:
28/06/05
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Hora e Vez dos Bens de Capital

    Financiamentos do BNDES e câmbio favorecem aporte tecnológico da indústria

Deverão ser positivas para a economia brasileira, com peso considerável na expansão do nível de atividades a partir do segundo semestre, as duas medidas anunciadas pelo Governo Federal: o aumento da oferta de crédito e a redução dos juros do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiamentos em áreas prioritárias, como bens de capital, máquinas e equipamentos. É provável que a iniciativa contribua para reverter as expectativas até então pouco otimistas do mercado quanto aos resultados da ambiciosa política industrial anunciada há um ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nesse período, o descompasso entre o discurso e a prática foi percebido interna e externamente. A consultoria britânica Economist Intelligence Unit definiu bem a questão: "Até agora, há pouco o que mostrar de concreto, pois, sob a ótica mais positiva, a implementação das políticas tem sido fragmentada. Seu relatório explica que as autoridades brasileiras esperavam estimular o potencial econômico do País, com a promoção de quatro indústrias estratégicas: software, componentes eletrônicos, bens de capital e produtos farmacêuticos.

O problema até então verificado também se expressa em números. No final de março de 2004, o governo havia anunciado que destinaria cerca de US$ 5,2 bilhões àqueles setores, em especial por meio do BNDES. No entanto, transcorrido um ano, os créditos liberados somaram apenas US$ 270 milhões. Agora, a frustração do mercado, dos fabricantes daqueles bens e dos potenciais compradores, em especial a indústria de transformação, deverá ser revertida em grande parte com a implementação das medidas anunciadas. E isto é importante, pois reduzir o custo do dinheiro para investimentos produtivos é um estímulo precioso aos empresários e decisivo para manter o crescimento da economia.

O significado da maior oferta de crédito do BNDES, com juros menores, é evidenciada em interessante estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Queda de apenas um ponto percentual na TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) implicaria aumento de R$ 1,1 bilhão nos financiamentos. Este montante é equivalente a 3.754 operações de crédito daquele organismo de fomento do Governo Federal. No atual cenário da economia brasileira, embora a TJLP ainda esteja elevada, a diminuição dos juros da instituição deverá ter o mesmo efeito prático.

Inegavelmente, conforme aponta o estudo, ganhos de competitividade e redução das pressões inflacionárias podem ser efetivados com o crescimento em escala da produção e a queda de seu custo. E estas duas variáveis deverão ser estimuladas pela redução dos juros do BNDES, principal financiador da indústria brasileira. Os recursos do banco representam, em média, 12% da formação bruta de capital fixo. Até agora, o custo total do dinheiro para financiamentos via BNDES tem variado de 13,75% a 19,75% (TJLP de 9,75%; spread do BNDES entre 1% e 3%; e spread do agente financeiro entre 3% e 6%).

Soma-se às medidas referentes ao BNDES anunciadas pelo governo, a estabilidade do Real ante o Dólar. A taxa de câmbio, que parece não afetar as exportações brasileiras, considerando os seguidos recordes nas vendas externas, configura-se como bastante favorável à importação de bens de capital, especialmente para aqueles sem similar no País, muitas vezes incluídos nos benefícios dos ex-tarifários.

Assim, com financiamentos externos, estimulados pela taxa de câmbio, ou internos, mais viáveis no âmbito do BNDES, abrem-se novas e boas perspectivas para investimentos em ampliação da capacidade produtiva e renovação tecnológica da indústria de transformação. Estes são imperativos de competitividade no mercado global. Exemplo taxativo é o setor gráfico brasileiro, um dos que mais investiu nos últimos dez anos, tornando o aporte de máquinas e tecnologias de ponta fator decisivo para reverter histórico déficit em sua balança comercial. Em 2004, o seu superávit comercial foi de US$ 85 milhões.


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