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Autores:
Sonia Regina Cicone Liggieri e Carlos Eduardo Marcello
Qualificação:
Sonia Liggieri é consultora na área de Economia da Saúde e diretora da Networking & Serviços e Carlos Eduardo Marcello é assessor da superintendência do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP)
E-Mail
www.economiadasaude.com
Data:
28/10/04
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Checando o check-up

Economia da saúde. O termo pode parecer estranho, em princípio, mas quem já conheceu os frutos de uma política voltada à humanização do atendimento ao paciente e à capacitação de médicos para a correta interpretação de exames indicados em check-ups sabe do que estamos falando e aonde queremos chegar.

No Brasil, a exploração desse conceito ainda é recente, mas muitas ações e práticas existem há cerca de 10 anos. O pioneiro na realização de estudos sistemáticos, em nosso país foi o Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP), com resultados potencialmente significativos para a economia da saúde, sobretudo no âmbito corporativo.

Muitos dos exames indicados em check-ups convencionais são desnecessários e extrapolam o que as evidências científicas já demonstraram, sujeitando pessoas eminentemente sadias a falsos alarmes e aos riscos de intervenções invasivas.

O check-up da próstata em homens na quinta ou sexta década de vida é um bom exemplo. Não há estudos científicos que tenham demonstrado que o diagnóstico e tratamento do câncer de próstata em uma fase assintomática possa aumentar o número de anos a se viver. Até porque o câncer de próstata, na maioria das vezes, não é uma doença agressiva na maioria das vezes, e seus sintomas geralmente permanecem silenciosos por 10 a 20 anos.

Entretanto, o tratamento cirúrgico ou a radioterapia são causa imediata de seqüelas na maioria dos pacientes que sofrem essas intervenções. Disfunção erétil, incontinência urinária e incontinência fecal são algumas das conseqüências. Tais fatos não costumam ser mencionados pela cadeia das partes envolvidas que, apesar das melhores das intenções, não são imunes a conflitos de interesse, o que pode gerar convicções e pontos de vista subjetivos.

Deve-se destacar, ainda, a pressão sob a qual o profissional de saúde é submetido desde seu ingresso na faculdade, exercida ora pela indústria farmacêutica, ora por precipitados especialistas sinceramente apaixonados por supostos avanços ainda experimentais e não solidamente estabelecidos, ora pela mídia, sedenta pelas novidades. Todos ansiosos em usar o exame, o remédio, a cirurgia ou doença da "moda".

A responsabilidade pela saúde deve ser compartilhada entre o médico, o paciente/cliente e a família. Uma decisão que envolve o hospital, os planos de saúde, as operadoras e toda a cadeia do setor de saúde. Ocorre que nem toda situação demanda a última palavra em especialidades e tecnologias voltadas à saúde. Por vezes, o fato de o médico acompanhar um paciente ao longo da vida, entrevistando-o e examinando-o de uma maneira mais criteriosa fará com que todos os envolvidos saiam ganhando.

Acontece assim no Sistema Único de Saúde (SUS), particularmente na região do Butantã, com o atendimento realizado pelo Hospital Universitário, e na formação de profissionais com profundos conhecimentos do perfil da região com o Programa de Saúde da Família que, embora ainda tímido, tanto contribui para gerar economia e resolutividade.

Convivemos, atualmente, com o paradoxo da economia, da tecnologia e das especialidades. Mas a competência médica de diagnóstico é insubstituível e baseia-se na capacidade de utilizar com sabedoria conhecimentos e recursos atuais, mas mantendo praticas sempre eternas como a anamnese, para conhecer a história de vida do paciente, além do exame físico e do acompanhamento constante, que tanto fazem a diferença para a resolutividade do sistema.

A concepção e os programas de economia da saúde ainda são recentes no Brasil, particularmente para clientes de planos de Saúde. No entanto, programas como o do Hospital Universitário da USP mobilizam toda a equipe de profissionais e são demonstrações contundentes de que há, sim, uma saída. Desde que abandonemos nossos preconceitos e serenamente voltemos nossos olhos para a saúde e não mais para a doença.

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