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Autor:
Claudio V. Nasajon
Qualificação:
Professor de Planejamento de Negócios na PUC-Rio e diretor de marketing da Nasajon Sistemas
E-Mail
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Data:
30/07/04
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Empreender nem sempre é a Melhor Opção

Empreendedorismo tem sido tratado nos últimos tempos como uma força crescente capaz de alavancar o desenvolvimento mediante o aumento da oferta de emprego e da consequente movimentação da economia. Há boas razões para isso, mas essa "onda" não atinge a todos. Para alguns, o emprego formal ainda é a melhor alternativa.

O empreendedorismo tem sido tratado como uma nova "revolução" cujo impacto poderá ser comparado com o da revolução industrial do século passado. Só para ter uma idéia do poder de mudança dessa nova "ciência", ela tem a capacidade de, em pouco tempo, reduzir ou eliminar o desemprego e elevar a média salarial do país com mais facilidade do que qualquer programa governamental para regulamentação da economia.

O quadro fica mais claro analisando-se alguns números: mais de 70% da mão-de-obra empregada no Brasil está vinculada a empresas com menos de três funcionários as chamadas Micro e Pequenas Empresas, ou MPEs. Por outro lado, estatísticas do SEBRAE dão conta de que essas empresas duram pouquíssimo tempo. De cada dez criadas há cinco anos, apenas duas estão funcionando atualmente. As outras oito, que geravam mais 20 postos de trabalho, fecharam as suas portas a maioria por falta de planejamento adequado.

O que a ciência conhecida como "empreendedorismo" se propõe a fazer é analisar o que deu certo justamente nessas 20% que sobreviveram e cresceram mostrando o caminho para os novos empreendedores. O objetivo é aumentar as chances de sucesso e, por conseqüência, o índice de sobrevida, das iniciativas.

Os investimentos são amplamente compensados. Um pequeno acréscimo percentual na duração média das empresas significaria para o país uma oferta adicional de milhões de empregos todos os anos. Ao fornecer subsídios para que as empresas durem mais, é possível praticamente eliminar o desemprego, o que elevaria a demanda por mão-de-obra, que por sua vez levaria à busca de maior capacitação técnica dos empregados, o que aumentaria o nível dos salários, e assim por diante, num círculo virtuoso de consequências tremendamente positivas para o desenvolvimento de qualquer país.

Por outro lado, se muitas das habilidades necessárias ao sucesso empresarial podem ser aprendidas e aperfeiçoadas mediante treinamento, outras como propensão a correr riscos e a ousadia para inovar são inerentes ao perfil de cada pessoa e por isso, quase impossíveis de adestrar. O que acontece na vida real é que muitos indivíduos tornam-se empregados por força das circunstâncias, mas têm o potencial para se tornar empreendedores de sucesso. Outros, ao contrário, nasceram para ser empregados, mas foram obrigados pela vida a se tornar empreendedores, e vivem infelizes e frustrados com essa imposição.

Há alguns anos o GEM (Global Entrepreneurship Monitor), uma organização que reúne algumas das mais renomadas universidades do planeta, vem estudando a atividade empreendedora em cerca de 150 países, inclusive o Brasil. Como resultado, traçou um quadro que separa o empreendedorismo em dois grupos: o empreendedorismo de oportunidade, quando alguém vê uma oportunidade e decide explorá-la criando uma nova empresa, e o de necessidade, quando alguém se vê obrigado a criar uma empresa para sobreviver com a falta de outra opção (leia-se, emprego).

Lamentavelmente, no Brasil o que mais se vê é justamente o empreendedorismo por necessidade, ruim porque ocorre como resultado de uma falta de opção do empreendedor e não porque ele tenha visto uma oportunidade real de desenvolvimento ou se sinta capacitado para a função de empresário.

Um executivo de cinquenta anos, desempregado, que não tenha formação técnica específica, por exemplo, encontra tantas dificuldades para obter um emprego formal que, na maioria das vezes, acaba montando um negócio como única opção para garantir a sua sobrevivência. Isso não significa que ele tenha vontade, capacidade ou motivação para levar o negócio adiante. Essa pessoa tem menos chances de sucesso do que outra que esteja tão motivada com a sua idéia que seria capaz de largar o melhor emprego do mundo para buscar a sua realização profissional e pessoal no novo negócio.

Para algumas pessoas, é possível aplicar a ciência para o Planejamento da Carreira, e não necessariamente o de um novo negócio. As técnicas e metodologias podem ser usadas para estabelecer metas e objetivos, escolher o ferramental necessário, identificar as opções de estratégia, buscar fontes de recursos e criar um plano de ação que objetive a recolocação profissional como empregado, não como empreendedor e com isso sintonizar as suas conquistas profissionais com o seu perfil pessoal, aumentando o nível de satisfação, que muitos denominam felicidade.

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